Crise existencial

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Nandablue
No PF desde: 17/04/2010

Mademoiselle Po...


Imagino o tamanho do seu conflito. Se vc permite, gostaria de dar uma opinião (apenas minha opinião, longe de ser o certo, ok?). Acho que o que faria vc se sentir melhor seria buscar a auto-aceitação. A sua sexualidade não pode ser vista como um defeito ou um desvio de conduta, os quais poderiam ser modificados. A sua sexualidade faz parte da sua personalidade, é uma característica inata que, acredito eu, não possa ser modificada. Imagino que vc deva trabalhar muito isso em terapia, tentando aceitar quem vc é sem preconceitos contra si mesma.


Em segundo lugar, acho que vc deveria ter, por objetivo de vida, a conquista da sua independência financeira e corte do cordão umbilical com seus pais. Acredito que isso seria muito útil para que vc deixe de sentir-se culpada por não ser exatamente como eles gostariam, sem que isso signifique que vc seja algo negativo.


O fato de vc ser bissexual não significa que nunca conseguirá ser feliz com uma pessoa só. Pode ser que um dia encontre um homem que faça vc ficar completa, não sentindo falta de mais nada nem ninguém. Mas também pode ser que essa pessoa seja uma mulher.


Querida, devo confessar uma coisa: eu adoraria escrever! Muitíssimo. Mas não acredito que tenha talento. Acho que falta criatividade. Imagino que, tão voltada para minhas questões interiores como tenho sido, seria difícil escrever algo que não fosse auto-biográfico... E isso eu não gostaria de fazer. Tinha vontade de criar histórias novas. Mas não tenho inspiração, que pena!


Conte-me um pouco sobre o que vc escreve!


Iani
No PF desde: 13/01/2011

Nanda


Eu sempre aprendi imensamente com as pessoas e com os livros. Tem alguns livros que me auxiliaram muito:


Pantanais da Alma - James Hollis, um autor que segue a linha de Jung e também escreveu O Caminho do Meio. Apesar de problemas na tradução, me auxiliaram imensamente quando fiquei sem chão ao perder uma pessoa muito importante.


Perdas necessárias - Judith Viorst, esse também contribuiu para iluminar um pouco meus momentos mais nebulosos e sombrios.


Outra coisa, quando eu tinha por volta de 30 anos e não estava compreendendo a razão de certas coisas que estavam acontecendo em minha vida, eu comecei a estudar Astrologia Junguiana e algumas coisas de Psicologia. Consegui me conhecer melhor -isso é importante, mas a vida segue com seus encantos, desencantos, desafios, alegrias e tristezas.


Um consolo: essa crise sua vai passar! Em contrapartida: vais vivenciar muitas outras. É da vida!


Outra coisa: como coloquei no texto anterior, é mais reconfortante pensar que não se anda em círculos, mas em espiral!


Com carinho


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Mademoiselle Po...
No PF desde: 11/07/2012

Nanda, concordo com tudo o que falaste. Em teoria eu sei de muita coisa, mas tenho a infelicidade de ser muito teórica e pouco prática. Ao coração pertence o terreno das ilusões, e não da sabedoria.


Eu escrevo romances, contos e poemas. Tenho um romance publicado por uma grande editora e tô lançando livros de contos (tenho em antologias) e poemas.


Fiz um texto com o qual talvez possamos, nós aqui desse tópico, nos identificar:


CANSADOS


Estamos cansados de tentar ser os melhores filhos, os melhores pais, os melhores companheiros e os melhores profissionais. Estamos cansados de tentar entender as mudanças do mundo, estamos cansados em nossos mundos. Estamos cansados de tomar remédios para ficarmos calmos ou felizes, estamos cansados de ser o que as pessoas dizem que precisamos ser.


Estamos cansados de perseguir o que desejamos, e então desejar outras coisas. Estamos cansados de teorias de amor, de guerra, de perdão e de amizade, estamos cansados de não viver de verdade. Estamos cansados de cigarros, cerveja e da previsibilidade segura e vazia. Estamos cansados da limitação das casas e das ruas, estamos cansados de guardar nossas memórias nuas...


Estamos cansados de esperar, estamos cansados de esquecer, estamos cansados de nos ser.Estamos cansados das ruas e das pessoas, e das paredes imóveis do lar que um dia nos abrigou. Estamos cansados dos impossíveis, estamos cansados de tardes mornas que se repetem. Estamos cansados, queremos andar! Estamos cansados, queremos ficar! Estamos cansados e talvez queiramos apenas os braços distantes do mundo nos ninando em paz...


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fiorella
No PF desde: 28/03/2011

Quote:
Eu cheguei aos 30 casada, com a profissão que sempre imaginei ser a escolha certa e com um filho tudo de bom. Eram esses os meus sonhos de menina: casar, ter filhos, ser médica. Bem, eu consegui realizá-los, mas e aí? Por que sinto a sensação de que falta algo? A impressão de que eu preciso fazer alguma coisa e não sei ao certo o que é? Por que o vazio?


Ai, ai, a tão temida crise dos 30! A maioria é meio descrente até essa idade começar a se aproximar. Acho que a maioria das pessoas que conheço passam por isso: passam por mudanças muito importantes, e se já estão com a maioria dos seus objetivos alcançados nessa idade, entram em crises existenciais. Também estou passando por isso. Tenho 30 anos, quase 31, e tenho dúvidas sobre minha profissão, estou sempre angustiada pelas minhas frustrações amorosas... sem contar que a morte recente do meu pai tem deixado o clima mais pesado aqui em casa (moro com mãe e uma irmã mais nova).


Enfim, Nanda, não estás sozinha... acho que o que tens a fazer é pensar no que podes fazer para mudar a situação. No teu caso, parece que o problema é magoar as pessoas. Desculpe a indiscrição, mas têm acontecido muitas vezes seguido? Ou foi algo mais específico? Seria algo da tua personalidade, que agora tu precises mudar?


Mademoiselle Po, realmente me identifiquei muito com teu texto, adorei. Fiquei curiosa para conhecer tuas publicações. E concordo com o que a Nanda colocou: acho que vais encontrar o equilíbrio só quando te aceitares. Assim, seja qual for a situação, vai ser mais fácil de assumir tua sexualidade para tua família.


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Nandablue
No PF desde: 17/04/2010

Iani


Obrigada pelas dicas de livros! Adoro ler, só não leio mais por falta de tempo!


Admiro pessoas como vc que, frente à problemas, buscam alternativas de ajuda e novos conhecimentos que auxiliem na passagem por essas fases difíceis. Confesso que nunca ouvi falar de Astrologia Junguiana antes, mas deve ser interessante!


Volto a dizer que gosto muito de suas palavras, na verdade sinto um real sentimento de carinho por trás delas. E percebo a sabedoria de quem já passou por situação semelhante e quer dividir o que aprendeu com quem agora está perdido. Muito obrigada mesmo.


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Nandablue
No PF desde: 17/04/2010

Mademoiselle Po...


Teoria! De que adianta conhecê-la se não conseguimos colocá-la em prática?


O problema é que a prática não depende apenas do domínio da teoria, sendo influenciada por muitos fatores.


Por isso é tão fácil apontar soluções para os problemas alheios e tão difícil saber o que fazer quando se trata de nós mesmos.


Muito legal seu texto. Realmente tem muito a ver com o assunto do tópico. Eu vesti várias carapuças...


Fiquei com muita vontade de ler o seu romance! Deixo aqui meu e-mail e, caso sinta-se à vontade para me indicar, agradeço! Eu escrevia poesias quando era pré-adolescente... Vou procurar, se achar coloco uma aqui para compartilhar.


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Nandablue
No PF desde: 17/04/2010

fiorella


Será que é tipo uma crise dos 30? Sabe que eu não tinha pensado nisso?


Confesso que também tenho muitas dúvidas quanto a minha profissão. Apesar de sempre ter acreditado ser isso o que queria, hoje tenho praticamente certeza de que fiz a escolha e trilhei o caminho errado. Acho que isso contribui para o meu sentimento de vazio.


Quando eu era solteira, sempre me angustiava muitoooooooo com as frustrações amorosas... Hoje é bem mais tranquilo, mas desentendimento com o marido também é punk de aguentar...


Vc sabe que, de certa forma, confortou-me um pouco o fato de várias pessoas dizerem que sentem coisas parecidas com as minhas. Pelo menos não estou tão louca e nem sou um ET.


O meu problema não é, exatamente, magoar as pessoas. Mas sim o medo e a culpa de fazer isso. Não sei bem como explicar, pois é uma coisa muito pessoal. Sabe uma pessoa que tem dificuldade de dizer não pois pensa que vai magoar os outros? Ou então alguém que faz suas escolhas levando em consideração a opinião dos outros mais que a sua própria? Pois é, eu costumo fazer isso muito seguido. Daí, quando não faço, percebo que estou desagradando A ou B e fico bastante culpada e insegura. Mas isso tudo faz parte da minha neurose! Cada um tem a sua, né?


Iani
No PF desde: 13/01/2011

Nanda


Quando sugeri que você abrisse esse tópico, é porque acreditava que a sua crise refletia algo essencialmente feminino, e que, em graus variados, todas nós vivenciamos ao longo da vida. Acho tranquilizador compartilhar esses momentos porque, assim, descobrimos que não somos únicas. A contemporaneidade acabou com espaços que as mulheres tinham para compartilhar e exorcisar certos momentos de sua vida.


Além disso, sabe de quem é a culpa de termos tantas culpas? Da moral judaico-cristã que incorporamos sem nem ao menos nos darmos conta. E quem é descendente de alemães, às vezes, incorpora isso ainda mais profundamente. Mas, com a maturidade aprendemos a lidar melhor com isso.


Mas, acredito que você já esteja sentindo-se melhor, certo? Compartilhar sempre auxilia.


Com carinho


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Nandablue
No PF desde: 17/04/2010

Sim, estou me sentindo um pouco melhor. Esses pensamentos flutuam... Ora em alta, ora em baixa. Mas a minha cabeça nunca para de ficar refletindo sobre o sexo dos anjos...


Olha só, eu sou descendente de alemães!


Bjs


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Mademoiselle Po...
No PF desde: 11/07/2012

Nanda, não vi teu e-mail... Não posso dizer quem eu sou aqui. (Não que eu seja ALGUÉM hehe). Posso te indicar em SIGILO hehe.


Olha, hoje eu sei que a felicidade é coisa que existe do lado de dentro e não depende tanto do exterior. Há pobres, feios, ignorantes felizes. Em contrapartida, há milionários lindos e desejados que são infelizes. Além do mais, somos humanos: quanto mais temos, mais queremos. E quanto mais conseguimos, maior a compulsão de conseguir mais.


Este mundo tá cheio de pessoas iguais: elas crescem, namoram, casam, têm filhos, um emprego mais ou menos, ou até rentável, e... E? E a vida é isso? E a vida não é o impossível, o sonho, o êxtase? Tenho receio dessa trilha social. Existem pessoas diferentes, pessoas cujo coração precisa voar mais alto. E desbravar lugares novos.


Somos seres robotizados, animais sociais. Somos boiada. Como na música do Zé Ramanlho: "Vocês que fazem parte dessa massa". Mas peraí, nem todo mundo é assim! Nem todo mundo vive na fábrica do Charles Chaplin em "Temos (Pós) Modernos". Agora, vamos ver: por que vivemos a era da depressão e da ansiedade? Por que precisamos cada vez mais de remédios para suportarmos essa loucura que é a vida pós-moderna?


Nanda, lê "Modernidade Líquida", do Zygmunt Bauman. Fala sobre a era na qual vivemos, em que tudo é líquido, pouco concreto, adaptável, nada sólido, mas fugaz. Vivemos com essa fugacidade, essa necessidade de substituir, mudar, alcançar e adaptar impregnada em nós. Na minha opinião vivemos em uma sociedade doente que se reflete em nós mesmos. Uma sociedade que está perdida na velocidade das coisas e na imesidão de alternativas.


Já não queremos as coisas antigas, mas não sabemos o que queremos. Estamos em uma fase de ruptura de valores e padrões. Estamos líquidos, como em "Modernidade Líquida". Estamos gotejando em nossas próprias existências, cada vez mais imersos na solidão da falta de tempo e da tecnologia fria.


É isso que eu penso. Engraçado na era de maior liberdade que já existiu nos sentirmos tão presos em nossas próprias existências! A única liberdade é a que vem da cabeça.


Lindo trecho de "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector, quem sabe vocês se identifiquem!

http://www.youtube.com/watch?v=tayLz86ok7Y


"E ela não passava de uma mulher... inconstante e borboleta." (Clarice Lispector) Mestre!