Faltam Homens?

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Mauro Scherer D...
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Alfredo Jerusalinsky: psicanalista, psicólogo, mestre em Psicologia Clínica e doutor em Desenvolvimento Humano e Educação, que atua em Porto Alegre e participa, neste fim de semana, do debate Faltam Homens?, no Hotel Plaza São Rafael, promovido pela Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Ele respondeu algumas perguntas à Donna:


Donna - Por que o senhor pergunta se faltam homens? É uma questão estatística, populacional?


Alfredo Jerusalinsky - Não são estatísticas demográficas. A pergunta se refere à queixa que com maior frequência os psicanalistas escutam no divã. Já que espécimes humanos dotados de p.ê.n.i.s e com alguns pelos na superfície do corpo são encontráveis em qualquer esquina, nos perguntamos sobre a natureza da falta que motiva esse queixume e à correspondente angústia e sofrimento. A queixa não é nova. Desde quando a mulher começou a escalar posições para alcançar a igualdade, gradualmente os homens começaram a "escassear". Ora faltavam os heroicos, ora os poéticos, ou nobres, ricos, trabalhadores, bem educados, ou românticos. Sobravam os plebeus, covardes, pobretões, materialistas, grosseiros, interesseiros, os que só pensam no sexo, os que não escutam, os que não compreendem. As críticas de que os homens não são "o que uma mulher precisa" vêm de tempos. Mas a coisa tem se agravado: hoje, segundo as mulheres, os homens suficientemente homens são uma raridade.


Donna - Quais as causas da perda de masculinidade dos homens?


Alfredo - Com o avanço da ciência, o saber ficou à disposição de quem quisesse adquiri-lo. As mulheres quiseram. As gatas borralheiras, as damas decorativas e as obedientes reprodutoras cuidadoras da prole abandonaram bordados e vassouras e foram trabalhar e estudar. O império patriarcal começou a ruir. A primazia social do homem, fundamentada nas vantagens físicas e depois na suposta superioridade intelectual, se manteve enquanto a assimetria entre homens e mulheres permaneceu intata. A masculinidade alimentou-se fartamente dessa assimetria: homem era o sustentador da família, exercia o comando do casal e circulava pelo mundo, enquanto a mulher devia ficar recolhida. Até mesmo o gozo sexual era impertinente. Pois bem, elas passaram a sustentar a família, a compartilhar o comando do casal, a tomar decisões, a exercer autoridade e a reivindicar seu gozo sexual. Os homens, que confundiram masculinidade com superioridade, se sentiram humilhados e derrotados. Os que não entraram em depressão, tomaram rumos diversos: alguns retornaram à força física - uns cultivando músculos, outros batendo nas mulheres -, e uma boa parte resiste ao governo feminino negando-se a assumir funções matrimoniais ou responsabilidades parentais. Há também os metrossexuais que se identificam com o sexo vitorioso pintando as unhas e o cabelo ou se depilando.


Donna - E da perda de feminilidade das mulheres?


Alfredo - O grosseiro teor dos outros rumos tomados pelos homens atuais - musculação, violência, irresponsabilidade familiar, narcisismo - permite às mulheres criar barreiras defensivas contra essas "soluções" masculinas. Mas a dissociação sexo-amor tem sobre as mulheres um efeito devastador. Se há 50 anos essa dissociação criou para a mulher a ilusão de um acesso mais livre aos prazeres do sexo, aos poucos seu corpo foi perdendo valor como símbolo amoroso para transformar-se em artefato de gozo. O pudor, o mistério, a discreta provocação, a promessa sempre renovada de um segredo a desvelar, enfim, os delicados traços próprios da feminilidade cederam seu lugar a um desenfreado torneio pela maior performance de gozo. Mas a fórmula "sexo intenso causa amor" não está dando certo. Os constantes fracassos nessa direção levaram às mulheres a um dilema: "Dar ou não dar? That is the question".


Donna - Afinal, o que as mulheres querem?


Alfredo - As mulheres querem o homem poderoso de volta. Mas o querem sem ele exercer esse poder. O desejo de ter filhos é cada vez menos protagonista na vida delas. De forma crescente, são outras realizações sociais e culturais que vêm preencher esse clássico lugar de realização da feminilidade. Por outro lado, devido às crescentes dificuldades para "encontrar um homem", têm surgido sites em que homens e mulheres que querem ter filhos, mas não casar ou morar juntos, podem combinar um ato reprodutivo seguido de exercícios parentais num estatuto de "separação estável". A partir daí, perguntas surgem: que posição e valor terá o pai para o filho, já que se trata de um homem que não tem lugar nenhum no desejo de sua mãe? Que posição e valor terá a mãe, que é uma mulher que não ocupa lugar no desejo do pai?


Donna - E os homens, eles sabem o que querem de uma mulher?


Alfredo - Dica: se, perante a pergunta, ele responde: "Depende da mulher", pode apostar, é um homem de verdade.


Donna - Os homens e mulheres de hoje são felizes?


Alfredo - Ninguém é feliz o tempo todo. As pessoas podem estar transitoriamente felizes. A felicidade é um estado intermitente e geralmente fugaz. O problema dos laços na pós-modernidade é que, em busca da felicidade, quebramos o molde clássico das uniões "obrigatórias" e, em lugar de encontros livres, somos surpreendidos pela solidão.


Fonte: http://grem.io/jD7


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Interessante...

mas eu acho que não faltam homens não...falta é uma comunicação melhor entre os sexos. As vezes o homem (ou a mulher) tem potencial para dar ao outro o que ele busca, mas uma falta de comunicação compromete isso.


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Nary
No PF desde: 20/08/2008

Interessante..


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Flordelislaranja
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No PF desde: 28/12/2012

Quote:
A masculinidade alimentou-se fartamente dessa assimetria: homem era o sustentador da família, exercia o comando do casal e circulava pelo mundo, enquanto a mulher devia ficar recolhida. Até mesmo o gozo sexual era impertinente. Pois bem, elas passaram a sustentar a família, a compartilhar o comando do casal, a tomar decisões, a exercer autoridade e a reivindicar seu gozo sexual. Os homens, que confundiram masculinidade com superioridade, se sentiram humilhados e derrotados. Os que não entraram em depressão, tomaram rumos diversos: alguns retornaram à força física - uns cultivando músculos, outros batendo nas mulheres -, e uma boa parte resiste ao governo feminino negando-se a assumir funções matrimoniais ou responsabilidades parentais.


Porque é burro.....porque se fossem inteligentes viveriam a delicadeza das mulheres junto com elas...e ainda fariam as poucas que não as aceitassem, conseguir entender que se trata da modernidade.....


Quote:
Há também os metrossexuais que se identificam com o sexo vitorioso pintando as unhas e o cabelo ou se depilando.


Se pintar cabelo,unhas(provavelmente também) ou se depilando fosse sinal de sexo eu até entenderia.....mas para uma sociedade que acha difícil 'engolir' uma mulher que não depila as pernas e as axilas(e os retardados ainda chamam de higiene),mas não 'engolem' o homem fazer o mesmo,só pode mesmo ser da Era Neantherdal.....


Quote:
Se há 50 anos essa dissociação criou para a mulher a ilusão de um acesso mais livre aos prazeres do sexo, aos poucos seu corpo foi perdendo valor como símbolo amoroso para transformar-se em artefato de gozo. O pudor, o mistério, a discreta provocação, a promessa sempre renovada de um segredo a desvelar, enfim, os delicados traços próprios da feminilidade cederam seu lugar a um desenfreado torneio pela maior performance de gozo. Mas a fórmula "sexo intenso causa amor" não está dando certo. Os constantes fracassos nessa direção levaram às mulheres a um dilema: "Dar ou não dar? That is the question".


O engraçado é que os retardados de plantão falam do 'segredo do corpo feminino' como segredo do sucesso,mas não falam do 'segredo do corpo masculino'....é,realmente...têm que voltar ao jardim de infância.....


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Flordelislaranja
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No PF desde: 28/12/2012

Quote:
As mulheres querem o homem poderoso de volta.


Vão ficar querendo.....o que pra frente andou não tem marcha-ré.....muitas coisas estão mudando e o homem vai ter que achar o lugar dele na sociedade,que por sinal é lindo! Muitas modificações estão se ajustando para melhor adaptar ao mundo novo....


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jonass
No PF desde: 30/06/2010

Não faltam homens.


Nem faltam mulheres.


Faltam PESSOAS q saibam oq querem. Menos inseguras, às vezes menos medrosas e mais honestas.


Isso vale pra ambos.


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kvet
No PF desde: 05/06/2010

Boa Mauro, eu tinha pensado, quando li esta reportagem ontem na ZH, de postar aqui.


Sábado sai com mais duas amigas e ficamos debatendo isso.

Na minha opinião não faltam homens, não faltam mulheres, o que falta são pessoas que se comprometam. Ninguém hoje quer assumir nada, nem que não quer um relacionamento.

Ontem também me aconteceu um episódio que presenciei como as pessoas são descartáveis (nas redes sociais, claro, tinha que ser). Como é fácil trocar pelo próximo da fila.

E as pessoas não se comprometem pq? Parece que possuem pessoas maravilhosas a sua espera, gente digna de uma Gisele Bündchen na fila esperando pelo seu precioso telefonema, pela sua especial atenção.. O que existe, na grande maioria das vezes, é uma vida tão comum quanto a minha, quanto a sua, quanto a de todos nós. Então estão perdendo o que em não arriscar, em não se comprometer?

Ok, respeito quem não quer envolvimento, mas e quem enrola com a fala do "vamos nos conhecendo", está perdendo o que de tão maravilhoso lá fora para não assumir quem está do lado?


Não entendo.. Ou melhor, até entendo.. As pessoas estão emocionalmente cada vez mais imaturas e descompromissadas com tudo.


(e estou falando de homens e mulheres)


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Kvet, bom dia!

Ooo....gostei do seu comentário, muito bom!

Essa coisa do "vamos nos conhecendo" , realmente é maior balela que existe. Eu traduzo ela como " estou só de curtição com e vc e se aparecer outra eu traço".

Nos meus relacionamentos eu sempre procuro definir de inicio as coisas, não tenho medo de perguntar a quem me envolvo: o que vc procura? O que vc espera do nosso envolvimento?

E não ligo se acham que eu pressiono. Pq já me livrei de muito enrolation...

prefiro assim, pois gosto de saber exatamente onde estou pisando. E gosto de chão firme.


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kvet
No PF desde: 05/06/2010

Quote:
E não ligo se acham que eu pressiono. Pq já me livrei de muito enrolation...

prefiro assim, pois gosto de saber exatamente onde estou pisando. E gosto de chão firme.


Oi Ro,


Pois é, falamos disso também. Falar ou não falar na lata?

A resposta unanima foi: FALAR. Estarei pressionando? SIM!!! Não pressionando ninguém a se comprometer, mas sim a se POSICIONAR. Pq se conforme o que ele disser, e não fizer, posso dizer que não foi isso que estava no script.

Adoro cartas na mesa. Adoro o chão firme também. Adoro gente que se assume, mesmo que isso vá contra o que esperam dela. Gente assim é confiável, é aberta, é alguém que sabe com o que está buscando e se importa em não enganar ninguém.


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Quote:
Há também os metrossexuais que se identificam com o sexo vitorioso pintando as unhas e o cabelo ou se depilando.


"sexo vitorioso"? Que tipo de condução do tema....(alimentar o abismo);


Quote:


O pudor, o mistério, a discreta provocação, a promessa sempre renovada de um segredo a desvelar, enfim, os delicados traços próprios da feminilidade cederam seu lugar a um desenfreado torneio pela maior performance de gozo


Pois zé (saudoso Austra); entraram firme nessa onda de mulher Panicat seguindo o exemplo (burro) dos homens que trocam os livros pelos shakes de proteína...


De resto? Bem, uma mulher de cabeça feita, independente e que goste de compromisso sério é o perfeito reflexo do que ela mesmo deseja em relação aos homens. Os pares inteligentes - acredito que em sua maioria - se reconhecem em seus objetivos.


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Duas Metades
No PF desde: 12/12/2012

Quote:
De resto? Bem, uma mulher de cabeça feita, independente e que goste de compromisso sério é o perfeito reflexo do que ela mesmo deseja em relação aos homens. Os pares inteligentes - acredito que em sua maioria - se reconhecem em seus objetivos.


Concordo ctgo!


Só não caso ctgo senhor Gulherme, por que já és casado!rs