DEBATE: A verdade

55 respostas [Último]
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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

recomendei a outro forista que lesse o Mito da Caverna que encontra-se na República de Platão...


dentre tantas opções de debates que podemos usar à partir deste texto, uma delas é sobre a VERDADE


existe a tua verdade , existe a minha verdade e existe a verdade verdadeira...

diferentes pontos de vista e/ou percepções alteram a verdade?

é possível que pessoas com vivências e conhecimentos tão diferentes possam, da mesma maneira, perceber acontecimentos e comportamentos?


um breve resumo do Mito da Caverna:


Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.

Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna também ecoam os sons que vêm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razão, às sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, vá se movendo e avance na direção do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstáculos que encontre e saia da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.

Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo Platão, sérios riscos - desde o simples ser ignorado até, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras.


http://historiauniversal.forumeiros.com/t791-diferenca-entre-platao-e-aristoteles


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Pastor Mengálvio
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No PF desde: 07/11/2011

À ausência da Luz Divina, toda a vida é vivida contemplando sombras na parede. Porque a vida longe do Criador é obscura, desesperada e ilusória.

Apenas no caminho da Luz, da retidão e da virtude, podemos ter certeza de que o que vemos é a verdade. A verdade está nas escrituras, e não podemos ter a pretensão de achar que Deus possui uma versão errada da verdade.


Quem realmente busca a verdade, vai ao templo, ora, conversa com o pastor e paga o dízimo.


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Nary
No PF desde: 20/08/2008

Adorei...


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Muito interessante Ana;


E como são poucos os que avançam além da caverna, é mais fácil que a opinião do todo, e de tudo que é por hora conhecido, sirva como baliza do que é normal e do que não é.


Não te parece, Ana, aquele conto dos bebês na barriga da mãe, que especulam sobre uma realidade lá fora, que é bem ilustrativo para explicar - também - a crença espírita?


Não conhecia essa da caverna, mas achei muito interessante ter postado.


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

recomendo assistir alguns filmes baseados nesta analogia: Matrix , a Ilha


recentemente assisti uma série Persons Unknown, com 13 episódios, eles acordam em um quarto de hotel.... só vendo sombras por debaixo da porta... depois encontram a chave... saem ao corredor... depois ao sagão... etc....

o enredo não foi dos melhores, mas é interessante pelo prisma de como nossa percepção vai mudando conforme adquirimos conhecimento ...


As Etapas do Saber

Com essa metáfora - o tão justamente famoso Mito da Caverna - Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é sempre doloroso chegar-se ao conhecimento, tendo-se que percorrer caminhos bem definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião (doxa), quando o indivíduo que ergueu-se das profundezas da caverna tem o seu primeiro contanto com as novas e imprecisas imagens exteriores. Nesse primeiro instante, ele não as consegue captar na totalidade, vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No momento seguinte, porém, persistindo em seu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade, com os seus perfis bem definidos. Ai então ele atingirá o conhecimento (episteme). Essa busca não se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais superior: chegar à contemplação das idéias morais que regem a sociedade - o bem (agathón), o belo (to kalón) e a justiça (dikaiosyne).



http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/caverna2.htm


o texto do bebe já foi postado por estas bandas :)


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Júpiter
No PF desde: 08/07/2010

É mais ou menos como dizia-se naquela intrigante série enlatada dos anos 90, "Arquivo X": "The truth is out there". S2!


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Muito legal!


Mas percebam que todo o nosso conhecimento individual, verdade e coisas afins - na imensa maioria das situações - são herança dos que ousaram atravessar a caverna.


Por mais inteligentes que somos, o que fazemos na verdade, é colher e selecionar as informações que achamos mais importantes e pertinentes para nossas vidas, seja particular ou profissional.


Mas produzir novo conhecimento quase sem matriz e sem adaptações de outros, que é realmente complicado. O que sabemos hoje - a grosso modo - lemos em revistas, sites, estudamos desde a mais tenra idade..feudo dos cientistas, pesquisadores que, também eles, dão sequência ao caminho desbravado por dantes deles.


A verdade, o conhecimento....poéticamente começou com Prometeu e nosso gênero vai dando continuidade, não nós particularmente , que agimos mais como emissários desse saber para as outras gerações. Mas - novamente insisto - são poucos os que produzem realmente uma verdade ou um saber novo.


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

sim, Gulherme


concordo contigo sobre poucas pessoas terem a coragem de buscar a Verdade lá fora..

a maioria das pessoas comuns são presas ao seu cotidiano... não sentem a necessidade da descoberta... de questionamentos...

este medo do novo saber seria um instinto de preservação enraizado? ou só comodismo?


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Não sei Ana, mas eu acho que é porque para isso, seja preciso um talento ou vontade especial.


Vamos exemplificar: eu não quero me matar de estudar para saber que o átomo vibra em um padrão que ajuda a explicar o funcionamento do cosmos....eu gosto de saber como funciona e suas implicações. Mas não tenho conhecimento para estudar as teorias, ou metodologia para explicar que tal coisa funciona de tal jeito.


Eu não imagino um novo meio no manejo do minério de ferro, ou outros metais para a manufatura de peças mais leves e resistentes para a indústria. Gosto de saber que trabalham nisso, mas eu não levo o mínimo jeito para esse tipo de pesquisa, mas se leio algo a respeito, e se for do contexto, eu divido com quem gosta do assunto. "Ah, mas tu é inteligente hein cara?"...muito relativo, o conhecimento não é meu, é de outros, eu apenas estou passando adiante o que os verdadeiros responsáveis estão fazendo.


Conhecimento é um tipo de verdade, mas a nossa verdade está muito atrelada aos aspectos do tangível, do que podemos tocar e ver...e toda essa coisa já tem muita gente debruçada, estudando e desenvolvendo a séculos.


Então, não acho que seja comodismo nosso, mas não temos as armas ou os interesses necessários para buscar um conhecimento novo, ou uma alternativa melhor para a verdade que se apresenta. Eu posso te explicar como funciona um motor a combustão, mas a verdade elementar dele não fui eu quem descobriu, e eu não conseguiria pensar em algo mais eficiente..mas alguém o fará, e de novo, estaremos aproveitando e entendendo o conhecimento magno de outros mais perseverantes.


Podemos falar e escrever com propriedade sobre muitas coisas, as vezes até soar pedantes...mas no fundo, no fundo..somos papagaios de repetição do que foi desenvolvido e pensado por outros.


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

Gulherme


talento é necessário... mas o conhecimento compartilhado leva a novas descobertas...


Thomas Edison não inventou a primeira lâmpada, mas inventou uma que funcionasse e fosse viável...

Steve Jobs não inventou o computador, mas seu nome será marcado na história pela Apple ter mudado toda a interface interativa para o PC doméstico...


para ilustrar:



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Caronte
No PF desde: 03/03/2010

Uma vez, conversando com meu irmão, ele me disse uma coisa interessante. Se você confrontar um psicótico com uma realidade que contradiga sua psicose, ele não vai aceitar a verdade e se curar, ele vai surtar.


Sob esta ótica, todos nós guardamos um certo grau de psicose. Até que ponto estamos prontos para aceitar uma realidade que contradiga frontalmente algo que aceitamos como verdade? Ou será que nós simplesmente surtamos, escolhemos o que queremos da realidade, montamos nossa própria verdade alternativa, e nos isolamos nela, em alienação?


Mais do que isto, muitas vezes não criamos factóides, ou exageramos certas circunstâncias, no intuito claro de justificar para nós mesmos a manutenção da nossa verdade confortável? Talvez este seja o nosso surto. Agarrarmo-nos a uma verdade que sempre nos serviu, de medo de ter de nos adaptarmos a uma nova realidade.