Eu cheguei a pensar que ficaria tudo bem... cessaram-se as terapias e as consultas ao psiquiatra. Cessaram-se os remédios e as mentiras. Você está boa! Foi o que ouvi quando sai do consultório, até que enfim...

Voltei a rotina da minha vida depois de mais de oito anos de tratamento. Um trabalho relativamente bom, estável, prática de esportes, vida social razoável, ânimo para voltar para a faculdade... tudo estava bem. Até que me apaixonei! Ah não! É o cara errado outra vez...

Eu tenho o problema de me dedicar de mais, de querer salvar as pessoas, mesmo aquelas que não queriam ser salvas. Tentei com amor, com compreensão, com carinho. Não deu certo. Tentei com ameaças, com força e com rejeição, também não... cada vez me via mais envolvida com uma pessoa tão (ou mais) problemática quanto eu fui. Mentiras, drogas, bebidas, mais mentiras, irresponsabilidade, enfim, vícios... mas eu não queria "largar o osso" por nada. Me aprofundava cada vez mais, sempre mais fundo e mais fundo... de repente me vi perdida dentro de um labirinto sufocante e, eu não sabia mais voltar.

Das poucas vezes que realmente tentei deixá-lo, ele me ligou de madrugada, pedindo ajuda... isso para mim era um soco certeiro no meio do peito, eu já estive lá do outro lado, implorando para que alguém me aceitasse apenas, e lá estava eu, de volta em um relacionamento fracassado. Brigas, insultos, ofensas e tudo mais, mágoas sem fim e um coração completamente partido. No outro dia lavava o rosto passava um pozinho nos olhos inchados e lá ia eu garantir meu emprego... notas ruins na faculdade, coração acelerado dentro do peito... mesmo assim uma insistência sem fim em continuar, em tentar algo novo.

Alugamos uma casa ha um mês... nesse período, brigas todas as semanas, sem exceções. Dias sem que ele vai trabalhar, pouco dinheiro...

o pior não é isso. O pior é que percebo que minha coragem e minha vontade se perdeu em algum lugar. Eu tento continuar, mas meu trabalho está pelas metades, mais falto à faculdade do que vou, não tenho mais vontade de sonhar, muito menos de correr atrás de qualquer sonho. Pensamentos suicidas vagam em minha mente o tempo todo e só a covardia que me mantem viva. De repente viver é um fardo, mais pesado do que antes, porque agora ainda tem o tempo... esse que passou! Já não sou tão jovem. Não tenho nenhuma realização em minha vida. Não tenho nada do que idealizei... e muito menos vontade de correr atrás de qualquer coisa. Eu desisti de viver! Eu desisti de ser alguém... todos aqueles medos que eu convivi minha adolescência inteira afloram pela minha pele. Tudo aquilo que eu tentei me livrar, grita em desespero de dentro da minha alma. Eu tenho medo! Um medo tão profundo e tão intenso que as gostas de chuva no telhado me enlouquecem. E eu carrego uma solidão intensa, que toma conta de cada pedaço de mim.

Há muito eu não estou feliz, nem mais sei do que se trata... e pra completar, passei a viver com uma máscara de "esta tudo bem" estampada na cara. Criei barreiras altas de mais para qualquer pessoa transpor, que todos me acham intocável e forte o suficiente para lidar com todos os problemas. Mas eu não sou e estou a ponto de desabar novamente porque não estou aguentando lidar com tudo isso.

Meu corpo recebe toda carga, meu estomago dói... eu não durmo, mal como. Já não sou nenhuma menininha para quem os homens olhariam. estou velha, feia e rejeitada. Eu só queria uma vida normal, normal a ponto de viver em paz, na verdade... meu erro foi tentar salvar uma pessoa que não quer ser salva. Que acha que tem o direito de tratar todo mundo à sua volta como objetos que se joga fora depois de usar. E é bem assim que eu me sinto ultimamente, não tenho mais forças, não tenho mais em que mudar, eu não consigo mais. Tudo o que eu quero é desistir de tudo. Desistir da minha faculdade, desistir dos meus sonhos, desistir da minha vida, desistir... desistir... desistir porque essa tristeza que assola minha alma é grande de mais para eu carregar com um sorriso falso no rosto. Eu sei que eu errei em algum ponto, algo eu não fiz direito que ele não foi capaz de me amar... mas agora nem há mais tempo para corrigir, carrego essa dor que me sufoca, que me maltrata e não tenho mais forças para continuar... eu não quero mais continuar, preciso parar! eu preciso parar, já que não consigo acabar com isso de vez...