Dudy,

Em qualquer grande projeto há perdas e ganhos, se voltarmos e revisamos idéias antigas que contribuíram para o progresso ou para viabilização de alguma área houve e vai haver questionamentos contra ou a favor.

O importante é que alguma alternativa tem que ser encontrada e resistir por resistir, usar o tema para popularizar alguma causa só tumultuara o inevitável, e é isso que a maioria faz.

Eu não sou dá área e acompanho como todos, pela a mídia, e a mídia infelizmente é tendenciosa, o que se faz necessário revisar umas e outras.

Antes confesso que era radicalmente contra a criação de Belo Monte, achei um verdadeiro absurdo, cheguei até a participar de votações como a que vc postou nesse tópico, hoje não enxergo cata-ventos e a utilização da energia solar, a energia eólica tem feito barulho pelo mundo a fora, mas poucos ainda pagaram para vê o potencial , e assim mudei de idéia, não por opção minha, mexer na natureza sempre nos causa um grande desconforto, mas por tudo que leio.

Creio que deve se levar em contar a revisão feita no projeto em relação a 1980, e que fatos como o da Funai que liberou a obra sem saber exatamente o impacto que causaria sobre os índios e não ter cercado a questão antecipadamente ou o Ministério do Meio Ambiente ceder sem ter na ponta da língua qual seria os impactos sócio ambientais não mais aconteçam.

Claro que comparações são inevitáveis e se fizermos comparações com Tucurui e Balbina ficaremos sempre com um pé atrás, mas lá se foram uma e duas décadas, foi possível uma maior detalhamento e estudo do que não deu certo e não foi cumprido.

O que fica muito claro é a falta de consenso e determinação de quem vai abocanhar o que, penso que tudo se trava por ai, como sempre! Assim a demagogia reina e uns enquanto for possível vão arrastando a questão por motivos bem particulares.

Talvez eu tenha chovido no molhado em relação aos post anteriores, mas não li todos e não acessei os links.

Que programa é esse? Qual o horário?

Dudy e colegas do PF, minha contribuição...

Gostei muito da iniciativa de se promover uma discussão no PF sobre a polêmica da “Belo Monte”. Venho acompanhando alguns meses às notícias, os movimentos que estão surgindo e pesquisas sobre esta questão e discutindo com colegas da área (sou Bióloga). Eu não havia visto ainda o vídeo do “Movimento Gota D’água” e nem acessado o site antes da publicação aqui, pois final de ano pra mim é puxado, mas sentei agora pra me atualizar nas listas discursivas que participo e verifiquei com colegas mais próximos da área afetada, que a iniciativa deste movimento partiu de outro, o “Xingu Vivo para Sempre”, que já existe há alguns anos.

O vídeo, embora seu caráter “apelativo” levanta algumas questões já discutidas por especialistas sócio-ambientais. A forma como foi disposta as informações e o tempo do vídeo deixaram a desejar, houve o equívoco quanto à localização do “Parque Nacional do Xingu”, mas por outro lado, provocou maior mobilização. Fui informada que especialistas entraram em contato solicitando produções bem elaboradas, no sentido de fazer chegar à população brasileira informações refinadas. É necessário que haja mais participação do povo, elencando inclusive debates entre os dois eixos envolvidos (sócio-ambiental e sócio-econômico).

Bom...

Assisti a pouco o vídeo dos alunos de Engenharia Civil da UNICAMP que o Caronte passou e como profissional da área de meio ambiente ressalto que há equívocos também e vou explicar:

Pelo campo ambiental, a questão do termo “energia limpa” para usina hidrelétrica tem sido revista, visto resultados de pesquisas realizadas em unidades já em funcionamento. Os impactos sócio-ambientais gerados não somente na área de instalação tem provocado grandes perdas biológicas e alterações a nível climático, influenciando o tempo em outros pontos do planeta.

O desmatamento (que não ocorre somente na área em si) e a decomposição de espécies que ficam alagadas acabam jogando gases (CO2 e Metano) pra atmosfera e como há perda de malha vegetal, o sequestro de CO2 se torna insuficiente, contribuindo assim com o “Aquecimento Global”. Os projetistas da Belo Monte informaram que irão fazer um trabalho de recuperação vegetal, porém para que se possa ter eficiência no sequestro de gases é necessário que a comunidade atinja seu ponto clímax de equilíbrio, o que pode levar até centenas de anos...e fora que não se sabe ao certo quais as espécies serão plantadas/replantadas lá.

A área que abrigará o complexo não é totalmente desmatada, há unidades rurais (agricultura e pecuária), mas há áreas de floresta. Já se enfrenta graves problemas na Amazônia, uma obra deste porte irá trazer outros. Existem muitas espécies ainda não conhecidas e que no bioma não se dispõem uniformemente. Há muitas delas que só existem em pontos específicos e quando se devasta estes pontos, praticamente as perdemos (e que podem conter substâncias importantes para tratamentos de doenças, por exemplo).

Mapa de desmatamento.

Sobre a expressão “a água entra limpa e sai limpa”, visto pelo ponto biológico não. Quando há o represamento de água (chamamos de ambiente Lêntico), há alterações químicas e biológicas (diminui o nível de oxigenação, o pH altera e ocorre perda de ictiofauna, ou seja, de peixes) e assim a qualidade da água cai (não sendo mais “limpa”), é possível recuperar, mas também nem sempre com a mesma eficiência, afetando aí cadeias alimentares.

Outras questões...

A Belo Monte divulgou em maio de 2009 o EIA/RIMA (Relatório de Impacto do Meio Ambiente), com diversas alterações em relação ao projeto anterior, e no mesmo ano, no mês de setembro, saiu uma análise crítica deste relatório, apontando falhas graves e muitas omissões. Esta análise foi realizada por um painel de 40 especialistas (biólogos, antropólogos, engenheiros, cientistas sociais e políticos,...), contêm 230 páginas, sendo apenas o volume 1, outros estudos estão em andamento. Tanto a Belo Monte, quanto o governo ignorou os apontamentos efetuados por estes especialistas. A obra já começou, tendo uma licença ambiental feita às pressas (contrariando o próprio sistema), o governo federal foi contra o governo do Pará, não sendo transparente quanto às decisões tomadas, o que leva a crer que não seja apenas por “necessidade energética”, outros interesses há neste angu.

Pois bem, os impactos sócio-ambientais são além do limite do projeto, não há um preparo devido da região, os primeiros problemas já começaram aparecer, pois no Brasil temos a cultura do sempre se remediar, ao invés de se prevenir...

Alguns impactos apontados:

- Aumento da população num curto período de tempo, problemas estruturais de saneamento, educação e saúde;

- Propagação de doenças, aumento do consumo de drogas;

- Perda de diversidade biológica e modificações de paisagem;

- Aumento de conflitos étnicos;

- Aumento no índice de prostituição e violência sexual contra mulheres indígenas, ribeirinhas e agricultoras; e

- Direitos das comunidades tradicionais violados.

Estou disponibilizando materiais de pesquisa que já tinha e os que eu recebi esta semana. Quem tiver um tempo, dê uma conferida, vale a pena, inclusive há discussões sobre alternativas energéticas. Tenho outros materiais, mas estou em trânsito e não tenho tudo aqui comigo...

Materiais:

1) Números da Belo Monte.

http://www.youtube.com/watch?v=jsfAI2V5m34

2) EIA/RIMA - Relatório de Impacto do Meio Ambiente da Belo Monte.

http://consorciobelomonte.blogspot.com/p/eia-rima.html

3) Análise crítica da EIA/Rima – Painel de Especialistas.

http://www.internationalrivers.org/files/Belo%20Monte%20pareceres%20IBAMA_online%20%283%29.pdf

4) Documentário: Tucuruí – A saga de um Povo.

(movimento dos afetados pela barragem de Tucuruí, 2010)

http://www.youtube.com/watch?v=NSm8J3CUsOU

5) Documentário: “Povos do Xingu contra a construção de Belo Monte”.

(2009)

http://www.youtube.com/watch?v=ZmOozYXozb8&feature=related

6) Documentário “Belo Monte – Anúncio de uma Guerra” (esse acabou de sair, mas está incompleto, é produção independente e depende de doações).

http://catarse.me/pt/projects/459-belo-monte-anuncio-de-uma-guerra

7) Artigo sobre hidrelétricas como emissoras de gás “Metano”.

https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:rhtRhjDFWaoJ:www.oecologiaaustralis.org/ojs/index.php/oa/...

8) Belo Monte: Impactos e Alternativas de Geração de Energia.

Evento que foi realizado em março de 2011 na USP, segue três apresentações:

www.iea.usp.br/mo/bermannbelomonte.pdf

www.iea.usp.br/mo/mauadbelomonte.pdf

www.iea.usp.br/mo/zhouribelomonte.pdf

9) Entrevista com o Prof. Oswaldo Sevá Filho – UNICAMP.

(um dos integrantes do painel de especialistas)

http://www.youtube.com/watch?v=A9kyIFC8G0g

http://www.youtube.com/watch?v=jVFypBvNKuc&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=U53YuVRJe94&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=tA1a0lKSfiM&feature=related

10) Dossiê Belo Monte – Associação Brasileira de Antropologia.

http://www.abant.org.br/?code=101

11) Poluição em Três Gargantas, maior usina do mundo, fica na China.

(perdemos uma espécie de golfinho de água doce e foi preciso o deslocamento de milhões de pessoas).

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/760942-poluicao-em-hidreletrica-de-tres-gargantas-preocupa-amb...

12) Quem precisa da Belo Monte? Por Daniel Fraga.

(trata a respeito da questão energética)

http://www.youtube.com/watch?v=OJuxqXBPLPI

13) Marcha “Xingu Vivo”.

(este movimento começou em janeiro, saiu de Porto Alegre em sentido Altamira).

http://marchaxinguvivo.blogspot.com/

14) Protesto em São Paulo:

http://www.youtube.com/watch?v=StFGxlAyzHU&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=StFGxlAyzHU&feature=related

15) Belo Monte, nosso dinheiro e o bigode do Sarney.

(entrevista com um especialista da USP em energias renováveis)

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/belo-monte-nosso-dinheiro-e-o-bigode-do-sarn...

Interessantes as contribuições que vocês encaminharam, assim que tiver mais tempo vou analisar.

Abraço,

Dudy,

Ah, é um canal local né, eu imagine que fosse, então eu não tenho acesso.