É hilária essa empáfia de alguns homens que julgam-se “porta-vozes da espécie”, jactando-se em cima do que julgam ser um tipo de “irracionalidade feminina”. Sim, porque após o festival de misoginia é só esta idéia que posso ter do Sr. Carlos Craveiro.

Em primeiro lugar, gostaria de lembrá-lo que este é um site feminino, portanto, muito embora a autora possa ter destinado sua pergunta aos homens, não creio que ela tenha tido a intenção de excluir a interlocução feminina, maioria por excelência do fórum e a quem ele se destina.

Eu não afirmaria isso com tanta certeza, mesmo porque a autora não especifica esta questão. Então Gatixa, gostaria que vc tvz explicasse melhor suas razões a que elevaram este tipo de constatação que como a Liv-T escreveu, não é consenso até mesmo entre alguns dos foristas masculinos mais respeitados deste fórum.

Eu também não afirmaria com tanta certeza de que esta pergunta é transcultural. Até porque dentro da própria Antropologia existe um vasto material que mostra que em muitas culturas tanto a poligamia feminina, quanto a traição é prerrogativa feminina.

Não, não estamos diante deste cenário, certamente. Pois como foi dito, o Sr insiste em falar por uma “maioria masculina” que não existe e tampouco concorda que traição possa ser prerrogativa masculina_ se o Sr der uma passeada em nossos tópicos verá uma imensa maioria feminina que trai pelos mesmos motivos masculinos. O Sr parece ignorar (ao contrario de muitos de nossos foristas) todos os movimentos pelas lutas dos direitos civis e femininos desde a década de 60 (além da pílula anticoncepcional), que possibilitou às mulheres o exercicio de uma sexualidade pela primeira vez livre dos grilhões ancestrais que a prendiam aos homens; uma sexualidade exercida em busca do seu próprio prazer e não mais em função de agradar o parceiro ou especificamente para a reprodução.

À hora que a emoção passar, se passar, tentem meditar se estão sendo realistas consigo mesmas e aproveitando o que nós mesmos temos a dizer sobre o que conhecemos de nós mesmos, ou se apenas estão criando barreiras afim de se manterem numa situação de conforto emocional.

O Sr, mesmo com todos os argumentos e muito embora afirme estar achando a discussão rica, insiste muito misógina e presunçosamente, eu diria, nessa coisa de natureza.

Claro, senão, de que forma a fala feminina poderia ser silenciada?

A racionalidade masculina e a emotividade feminina é uma construção sociais muito poderosa e que perpassa toda a história. Durante décadas antropólogas se debateram acreditando que tal associação seria universal e proveniente do fato das mulheres gerarem e nutrirem crianças. Contudo, com novos estudos, esta universalidade caiu por terra, quando descobriu-se que em determinadas culturas, os homens “roubavam” a prerrogativa feminina de gerar filhos, através de rituais onde eram eles quem ficavam simbolicamente grávidos.

Mas hoje, em nossa sociedade, ela ainda funciona como um tipo de prerrogativa que concede aos homens o estatuto de pessoa, aqueles que “podem” falar em nome da espécie humana, subestimando as mulheres e igualando-as a animais dotadas simplesmente de emoção e “instinto”.

Exatamente como o Sr faz quando nos manda nos acalmar, ou extravazar nossas emoções...

Em termos coloquiais, sua fala revela mais ou menos o seguinte:

“Faça o que eu digo ou cale a boca! Como ousa, uma mulher, este animal irracional e emotivo discordar de meus argumentos, eu que sou homem, dotado de razão?”

Gostaria de lembrá-lo que nem todas as culturas punem, execram a infidelidade, masculina ou feminina, ou mesmo consideram-na um “comportamento sórdido”. Portanto, resta refinar um pouco do que o sr fala quando pensa em “comportamentos transculturais”.

E há inclusive, em nossa própria sociedade, relacionamentos abertos hoje em dia em que ambos os parceiros podem se relacionar com outras pessoas.