ALERTA - Isso é importante

45 respostas [Último]
imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

APENAS UMA EM CADA DEZ RELAÇÕES TEM AMOR SAUDÁVEL, diz especialista.


O namorado ciumento, a moça obsessiva, a esposa possessiva, o homem dependente... Segundo a psicanalista Tatiana Ades, de cada dez relacionamentos apenas um tem um amor saudável. Os outros apresentam um amor \'doentio\' como a co-dependência, a depressão afetiva, o ciúme exagerado, que podem chegar a agressões físicas e verbais.


“O amor patológico é a incapacidade de se relacionar de uma forma saudável”, explica a especialista no assunto, autora do livro sobre o tema “Escravas de Eros”. “Numa relação ideal não há jogos de poder e competição, não há dominador e submisso”.


O amor patológico é considerado um distúrbio mental, há pesquisas que o consideram muito semelhante à dependência química. Os sintomas principais e até crises parecidas com abstinência ocorrem nas pessoas que sofrem desse problema”, descreve a psicóloga Eliana Arruda.


Algumas pesquisas mostram que a abstinência de quem sofre amor patológico é a mesma da pessoa viciada em cocaína. “Elas têm tremores, vômitos, falta de ar, síndrome do pânico e uma forte depressão”, descreve Ades. “Sou co-dependente. Isso significa que sou uma pessoa dependente de outra para viver. Ou melhor, da situação que vivo com o outro. É como ser viciado em uma droga: eu preciso daquilo para seguir em frente”, conta Samara (nome fictício), que sofre da doença.


Para as especialistas, o amor doentio é cada vez mais frequente nos últimos tempos. “As relações sociais mudaram”, afirma a psicóloga. “Cada vez mais o outro é visto na sociedade como uma coisa passível de apropriação. Assim a ideia de possuir, de ter o outro como uma extensão e objeto de minha necessidade é um gatilho para provocar a manifestação da patologia”, diz.


“Os relacionamentos de hoje não são saudáveis”, diz Ades. “Trata-se de um problema cultural, onde os laços entre os indivíduos são precários. Tem um autor que gosto muito, Zygmunt Bauman, que mostra que vivemos em uma sociedade líquida, com amores rápidos”.


Como identificar os sinais de amor patológico

- necessidade gradativa de estar perto fisicamente do companheiro ao ponto de tornar-se aflitiva

- exclusividade de prazer cada vez mais restrita ao outro

- diminuição e até perda do prazer em atividades em que antes fazia sozinho

- sintomas de abstinência e ansiedade ante a ausência do outro

ansiedade forte, sensação de pavor, sintomas físicos (tremor, sudorese, taquicardia, falta de ar…) ante até mesmo a imaginação de perder o outro, semelhante a ataques de pânico ou fobia


Hora de buscar ajuda


Engana-se quem pensa que sendo amor, ele é bom e não traz problemas. O amor patológico precisa de atenção. “Assim como na maior parte das doenças mentais, o extremo do sofrimento pode levar a pessoa a oferecer perigo a si mesma ou ao outro. Isso explica ser tão comum a violência entre casais, crimes em que um companheiro faz o outro de refém, ameaças de morte, ameaças de suicídio, até mesmo matar por não se conformarem com a perda do outro. Isso precisa ser tratado”, afirma Arruda. “É um vício que pode matar”, alerta Ades.


Na maioria dos casos, o paciente precisa de um acompanhamento psiquiátrico. [i/“Muitas vezes torna-se necessária, sim, a administração de medicamentos, especialmente os que diminuem a ansiedade. Quando há outras patologias associadas, pode-se indicar também estabilizadores de humor e/ou antidepressivos. Somente os médicos podem avaliar caso a caso a necessidade de cada um”[/i], conta a psicóloga.


Mas o primeiro passo é saber identificar que a ajuda profissional é necessária. “Eu percebi que não quero ser mais co-dependente. Quero conquistar meu espaço e ser feliz, mas preciso de um empurrãozinho”, confirma Samara, que freqüenta um consultório de psicanálise.


Os grupos de apoio também são excelentes alternativas, já que ali a pessoa percebe que o que sente é uma doença. “O mundo também tende a romantizar o próprio nome do transtorno. Amor, a princípio, é uma virtude. No grupo, a pessoa percebe que o suposto amor é na verdade uma doença de dependência de um lado e co-dependência do outro”, explica Arruda. A psicanalista lembra que “observar que há pessoas que passam ou já viveram e superaram situações semelhantes ajuda no processo”.


Amor saudável


Mas o que é ter um relacionamento saudável? “Se eu tivesse a fórmula do amor ideal, nem venderia, doaria a patente para o bem da humanidade”, brinca a psicóloga.


“O que deve ser construído na relação é um espaço em que duas pessoas se sintam bem. Não gosto nada da metáfora da metade da laranja, isso é bem patológico. Somos uma laranjinha inteira, e o outro também o é. E tem-se a vontade e o prazer de ficarmos juntos, esse seria o ideal. Enfim, cada um tem de ser e manifestar-se em sua identidade, ou seja, ser espontâneo, estar com o outro da forma que é e por querer. Tentar agradar demais, perder sua identidade para isso, ou exigir mudar o outro tanto a esse ponto é sinal de alerta!”, avalia.


“O amor saudável é o que permite que cada um seja realizado, é vontade e não necessidade de se estar junto, é respeitar a individualidade de cada um e administrar, conviver com as diferenças”. “Não é um conto de fadas e construir um bom relacionamento dá trabalho”, finaliza a psicanalista.


Dicas para preservar os relacionamentos de forma saudável


- manter os relacionamentos com pessoas de seu convívio pessoal e valorizar que o outro também o faça (sua família de origem, seus parentes, seus amigos antigos…)

- diversificar relações sociais, ter também amigos e contatos individuais e não só os do casal, valorizar momentos em que desfrutam de outras pessoas

- ter atividades individuais prazerosas: esporte, leitura, estudo, hobbies

manter o \"sentido da vida\" além do relacionamento afetivo e do próprio trabalho: atividade social, religiosidade, estudos, filantropia, algo que dê a sensação de ter missões e papéis no mundo

- respeitar a individualidade do outro, não querer mudar sua identidade como exigência e não querer mudar demais também para agradar o outro. Pode-se mudar alguns comportamentos e hábitos para ajustar o convívio, mas não se muda a personalidade e os valores pessoais


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010
imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

E continua:


\"Eu preciso ter alguém. Quando fico sozinha, me sinto num beco sem saída\", conta paciente de amor patológico


Enquanto as lágrimas escorrem pelo rosto, a voz sussurra: “eu vou morrer sem saber o que é felicidade”. E assim é durante toda conversa sobre sua vida: casos de sofrimento, de humilhação, perda e dor.


Samara (nome fictício) tem 46 anos e é promotora de vendas. Ela sofre de amor patológico. “Sou co-dependente”, avalia. “Isso significa que sou uma pessoa dependente de outra para viver. Ou melhor, da situação que vivo com o outro. É como ser viciado em uma droga: eu preciso daquilo para seguir em frente”, conta.


“O amor patológico é a incapacidade de se relacionar de uma forma saudável” explica Tatiana Ades, psicanalista, especialista no assunto e autora de livros sobre o tema. “Eu preciso ter alguém. Quando fico sozinha, me sinto num beco sem saída”, conta Samara.


Não é fácil assumir uma personalidade assim. Pior ainda é saber que quem se busca como parceiro afetivo é sempre uma pessoa problemática. “Todos meus relacionamentos amorosos foram doidos”, conta Samara. “Desde adolescente eu me envolvo com homens com problemas para se relacionar, distúrbios de personalidade ou viciados em drogas ou álcool”.


Apanhou de todos eles. “A mulher co-dependente acha que tem dedo podre para homem, mas na verdade procura homens com problemas, pois se alimenta deles”, acrescenta. “Os interesses pessoais são substituídos pela necessidade de somente estar perto do parceiro”, descreve a psicóloga Eliana Arruda.


E para Samara é isso que basta: estar perto e poder cuidar do outro. “Sou viciada em um padrão de relacionamento que não é normal, mas foi o que aprendi na minha família, que é desestruturada”, assume. “A mulher co-dependente busca repetir padrões que vivenciou na infância. Quando era criança, não tinha consciência para discernir o que é certo e errado e acaba repetindo modelos”, explica a psicanalista.


Mas nem sempre os problemas familiares na infância são a causa. “É verdade que aprendemos nossos primeiros modelos de amor com a família. Mas há pessoas que tiveram boa relação familiar e desenvolvem o amor patológico. Para mim, o mais importante fator que o favorece seria auto-estima muito rebaixada. Em geral, são pessoas que se projetam no outro, não acreditam que conseguiriam ter um companheiro melhor, e assim o outro passa a ser sua principal razão de viver”, afirma Arruda.


“Elas são muito carentes e realmente têm a auto-estima muito baixa”, completa Ades. “Elas procuram fazer tudo pelo outro para ter o reconhecimento”. E Samara se sente assim. “Sempre fiz tudo para todo mundo em troca de carinho e, quando preciso de alguém, não tenho ajuda”.


Amor doentio na separação


Durante 30 anos, a secretária Elisa (nome fictício) achava que tinha o casamento ideal. Casou porque estava grávida do primeiro filho, mas estava muito apaixonada. “Ele foi meu primeiro e único homem. Nós éramos muito grudados”, afirma. Eles tiveram três filhos. “Sempre foi um bom marido, pai exemplar e provedor de toda família”, disse. Como Elisa mesma descreve, ela vivia em um castelo encantado. “Meu grande erro foi não deixar nenhuma janela pro mundo”, afirma.


O castelo foi caindo aos poucos. “Eu percebi que ele não tinha mais interesse em mim, me procurava pouco e foi ficando cada vez mais distante”, conta. Não demorou muito e descobriu que era traída. “Meu chão sumiu. Achava que tinha o casamento perfeito. Eu não admitia a separação”, afirma.


Elisa ainda viveu com o ex-marido durante alguns meses antes de colocar um basta. “Mas ele me humilhava muito, dizia que se eu não tivesse descoberto a traição, ficaria comigo para manter as aparências”, diz.


Em casos de separação, quando uma pessoa não consegue se ver sem o parceiro afetivo, o amor patológico também pode ser revelado. “Em um relacionamento, nenhuma das partes deve se doar mais do que 50%. Se a doação for de 51%, já tem algo errado”[/u], afirma a psicanalista. [i]“O medo de perder e o ciúme não podem ser exagerados”, completa.


Depois de 6 meses de separação, muita terapia e ajuda médica, Elisa acha que já está curada. “Eu me vejo outra pessoa. Eu o amava demais e o colocava antes de tudo. Mas hoje eu me coloco em primeiro lugar”, afirma.


“Sou uma pessoa muito possessiva e passional, não admitia que poderia ter problemas no meu casamento. Mas tento ver tudo que passou como uma experiência positiva para não cometer os mesmos erros”. Declara-se preparada para um novo relacionamento e dá dica: “se você se sentir dependente de outra pessoa, vá procurar ajuda”.


imagem de Circe
Circe
No PF desde: 17/04/2010

Texto excelente, ilustra bem o problema de muitas relações.


O que eu acho triste é ver que o assunto não mereça a atenção dada a tópicos sobre traição/meu namorado me largou/etc. É mais interessante lamentar sobre uma relação fracassada ou doentia a pensar a respeito da nossa conduta nesta relação e se estamos ou não agindo dentro do que a racionalidade nos manda.


imagem de Nary
Nary
No PF desde: 20/08/2008

Um ótimo texto


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Circe, concordo em gênero, número e grau.


Você deve saber da minha frustração ao perceber que algo que pode ajudar tanto seja simplesmente ignorado.


imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

eu não só achei interessante, como postei o link para a garota o ler...


http://precisofalar.clicrbs.com.br/index.php/Amor/415859-Amigas-do-namorado.html


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Sim, Ana, eu vi seu post.


Mas resta saber se ela e outras for that matter lerão, né?


imagem de Circe
Circe
No PF desde: 17/04/2010

Carla,


Hoje devo estar com meu nível de frustração na estratosfera, inclusive com as coisas que leio aqui no PF. Seria bom que as pessoas compreendessem que são mal tratadas em relações doentes porque não reconhecem que o problema maior estar nelas, na dependência que tem de pessoas, na falta do que fazer, na falta de propósito na vida.


Quando leio aqui que o cara é violento, e sem noção, sai e nunca leva a namorada/esposa, não sabe o significado de conversa, me doem os olhos, o estômago.


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Circe, é c omo diz na própria matéria. As pessoas se recusam a acreditar que pode haver um problema porque, afinal, o amor é sempre lindo. Como poderia ser doença? Oproblema é que PODE ser um problema e um problema sério, que pode chegar a matar, como vemos diariamente nos jornais.


imagem de Si Cal
Si Cal
No PF desde: 06/08/2010

Ufa....ufa...