Reprodução: gettyimages

Muitos já me conhecem, conhecem um pouco da minha história... Outros veem apenas uma garota que se acha, chata quase sempre, insuportável as vezes, também há pessoas que veem uma garota decidida, que sabe o que quer e corre atrás disso, uma garota que caiu inúmeras vezes, mas sempre continuou de cabeça erguida, passando por cima de todas as dificuldades. As pessoas veem uma garota forte, mas nem sempre fui assim, ou melhor continuo não sendo,
tenho meus momentos de fraquezas, choro também, apesar de ter um coração quase de pedra, ainda tenho sentimentos e muita mágoa e tristezas guardadas...

Sou a Cris, ou a *Cris* como muitos me conhecem, tenho 21 anos e quando eu tinha 15 anos comecei a namorar, estudava, era uma boa aluna, me esforçava muito para poder conseguir uma bolsa e poder cursar a faculdade que eu sempre quis... Era como toda adolescente normal, tinha amigos, sonhos e planos para o futuro. Bom, eu comecei a namorar, logo depois de fazer 15 anos, o rapaz tinha 17 anos, nossa, nessa fase tudo é pra sempre neh?! Era apaixonada por ele, achava ele o homem da minha vida... Bom, acontece que ele nunca foi um bom exemplo de garoto, era
agressivo, mas comigo sempre era muito carinhoso...

Com aproximadamente 4 meses de namoro, fiquei grávida!! Nossa que susto que foi isso pra mim... Fiquei apavorada quando descobri, não sabia o que fazer, e a primeira coisa que eu pensei: Vou abortar! Eu só pensava em mim na hora, eu vou engordar, não vou mais poder estudar, não vou mais conseguir as coisas que eu queria, como eu vou cuidar de uma criança? Conversei com as minhas primas e elas me aconselharam a contar para o rapaz sobre a gravidez, e assim saber a opinião dele e depois decidir o que eu ia fazer... Bom falei com ele, na hora levou um suto também, mas se mostrou disposto a assumir a criança, quando eu toquei em aborto ele falou que não, que não era para eu fazer...

Confesso que isso mexeu bastante comigo, nunca imaginei que ele seria capaz dessa atitude e por um momento me senti bem e feliz por que achei que teria alguém do meu lado... Mera ilusão.... Continuei estudando, tive apoio da minha família, tinha o apoio do futuro pai, enfrentei muito preconceito na escola por conta da gravidez, mas sempre tive muitos amigos que sempre ficaram ao meu lado... Com o passar dos dias, o rapaz foi se afastando de mim, já não era mais a mesma coisa que antes, a gente mal se via, mesmo morando na casa dos meus pais, a gente mal se falava...

Quando eu estava grávida de 4 meses ele teve um surto de ciúmes, estávamos andando na rua quando ele grudou no meu braço tão forte a ponto de deixar roxo, perguntei o que tinha acontecido, ele muito grosso me puxou e me disse pra ficar quieta se não seria pior, chegando na casa da mãe dele eu perguntei o que tinha acontecido, eu não tinha entendido nada, ele me disse que um garoto estava me olhando na rua, eu pedi desculpa, e disse que não tinha visto, ele mandava eu calar
a boca e me acusou de trair ele, eu tentei explicar que nunca fiz isso, e ele me empurrou, cai sobre o braço do sofá, tive um pequeno sangramento, mas nada sério, tive medo de perder o bebê... Ele vendo que tinha me machucado, me pediu mil desculpas, disse que me amava, eu tola, perdoei...

Amava ele, e afinal, pra onde eu iria??? Eu tinha 15 anos, estava grávida, não tinha como me sustentar... E além de tudo, achei que isso nunca mais iria acontecer... Mas foi apenas o começo! Depois desse episódio minha vida virou um inferno, ele era muito ciumento, tudo era motivo dele achar que eu estava traindo, era grosseiro comigo, me xingava, me humilhava, me deixava roxos nos braço por me apertar, saia da casa durante as noites e ficava dias fora... Achei que quando o meu filho nascesse ele mudaria, passaria a me amar de novo e as coisas voltariam a ser como antes...

Mas foi tudo piorando!! Meu filho nasceu quando eu tinha 16 anos, e ele passou a ignorar o meu filho, se irritava com o choro do bebê, me ameaçava se eu não fizesse o meu filho parar de chorar, não olhava nem pra criança, usava o choro do bebê como desculpa para ficar fora de casa. Eu não podia me arrumar, se eu fizesse a sobrancelha era porque eu estava traindo, se eu usasse um lápis de olho era por que eu tinha outro homem, tudo era motivo para desconfiar de mim, nem estudar mais eu podia, e por mais que eu fizesse as coisas que ele queria não adiantava... Nos mudamos para uma cidade onde eu não conhecia ninguém, longe da minha família e de todos meus amigos, achei que talvez assim ele mudaria, sempre tinha esperança da mudança dele... Mas ele ficou mais agressivo, se envolvia em brigas, chegava em casa sujo de sangue e sempre bêbado, e continuava me humilhando e me tratando mal, ignorando o meu filho, nunca segurou o menino no colo, nunca deu um carinho sequer...
Nessa época passei fome, ele me dava 100 reais por mês para comprar comida para casa e fralda, e tinha que comprar as coisas que ele queria e o que sobrasse eu tinha que me virar para comprar o restante... Fazia um pacote de miojo por dia, metade dava para o meu filho no almoço e metade na janta, eu comia o que tinha, as vezes era um batata cozida, um copo de leite, eu me virava, mas meu filho nunca deixei ele ficar com fome, e já para o “PAI” tinha que ter tudo, e eu com medo fazia!! Eu já estava tão desesperada, que diversas vezes pensei em tirar a minha vida, não aguentava mais aquela situação, mas eu não tinha para onde ir, queria tanto ir embora, mas só tinha 16 anos, e um bebê nos braços, não tinha terminado o colégio, a única coisa que ainda me dava forças pra continuar era meu filho, que apesar de tudo, ali era um abrigo, era a única maneira de eu dar alguma coisa para ele...

O tempo foi passando, as brigas aumentando, as agressões cada vez maiores, e eu tinha tanto nojo daquela pessoa, tanta raiva, que eu rezava cada vez que ele saia para ele morrer, para ele nunca mais voltar pra casa... Com ajuda da minha cunhada, mulher do meu irmão, consegui um emprego, não era grande coisa, mas iria poder sair daquele inferno todo, iria começar na semana seguinte, e no final de semana seguinte uns amigos dele foram na nossa casa, meu ex-marido estava envolvido com drogas e queria transformar a nossa casa em ponto de tráfico, eu não aturava mais nada, e disse que não aceitava isso e que iria embora com o meu filho, ele ficou transtornado, gritou comigo, me ameaçou, quis bater no meu filho, eu, num impulso, peguei o meu filho e disse que tava indo embora, ele quebrou um copo e veio na minha direção, e corri e me tranquei no banheiro, comecei a gritar pedindo ajuda, ele jogou o copo no chão, derrubou as coisas da mesa no chão e saiu, nessa hora a minha vizinha veio ver se eu estava bem, me ajudou a arrumar as minhas coisas e do meu filho, me emprestou o telefone, liguei para o meu avô, meus pais estavam na casa dele, pedi ajuda pro meu pai, ele foi na minha casa me buscar.

Fui para casa dos meus pais, levei o que consegui tirar, pouca roupa, o que cabia dentro de uma mochila e na bolsa do meu filho, na semana seguinte, voltei lá para pegar o resto, ele tinha jogado as minhas coisas no chão, junto com um monte de lixo, estava tudo sujo e cheio de bichos nojentos... Com a ajuda dos meus primos, juntamos tudo, vi que muita coisa estava faltando...

Depois disso começou outra batalha, uma luta judicial para ele pagar a pensão e devolver as minhas coisas e do meu filho que tinham sumido... Na audiência, ele debochava da minha cara, chegou a ponto da Juíza mandar ele parar se não seria preso... Depois disso, ele nunca mais viu o meu filho, nunca se interessou, nunca quis saber se o menino estava vivo ou precisando de alguma coisa, para ele tanto fazia... Mas apesar disso, continuava depositando a pensão na conta do meu filho.

Pouco tempo depois conheci uma pessoa maravilhosa, um homem de verdade, que me ama e ama meu filho, cuida do meu filho como se fosse dele e o meu filho, o ama como se fosse pai. Atualmente, meu ex não está pagando a pensão, está casado e a atual mulher dele está grávida, desde então ele “esqueceu” que tem outro filho, penso todo dia em entrar com um processo de abandono e pedir para tirar o nome dele do meu filho, assim não vai ter nenhum tipo de vínculo com ele, mas não sei se seria correto fazer isso, pois é um direito do meu filho, mas ai penso que talvez seja melhor, já que foi o meu ex que decidiu não fazer parte da vida do meu filho, e foi ele quem o rejeitou desde sempre...

Penso que talvez assim posso evitar que o meu filho sofra no futuro, com um pai biológico que o rejeitou, mas penso também que ele pode vir a ficar com raiva de mim por ter tirado esse direito de saber quem é o pai biológico... Hoje meu filho tem 5 anos, eu faço de tudo por ele, felizmente consegui vencer as minhas batalhas, tenho um bom emprego, irei casar, estou voltando a estudar, que por conta das dificuldades desses últimos anos não consegui, mas os sonhos que tinha antes voltaram, e hoje vejo que posso realizá-los, e o melhor é ter alguém do meu lado que me da todo o apoio para seguir esses sonhos.

Meu filho é uma criança incrível, é muito esperto, carinhoso, atencioso, dedicado e lindo, é uma criança cativante, impossível não se surpreender...

Essa é a minha história, mesmo com tudo que passei nunca desisti de tentar, me arrependo imensamente em ter pensado em abortar o meu filho, hoje ele é tudo pra mim, é a minha vida... Foi por ele que eu lutei e é por ele que eu vou continuar a lutar... Não tem nada mais gratificante que chegar em casa depois de um dia cansativo, e ele, com um simples sorriso, faz tudo ficar tão lindo, com uma única frase faz cada dia valer a pena...