Antonio e Fernando

Meu nome é Antonio e quero contar a história que eu tive com o Fernando.

Sou gay e por muito tempo tive dificuldades em aceitar. Quando conheci o Fernando, ambos eram bem “travados”, porém ambos sentiram “amor à primeira vista”, amor que se via nos olhos, amor que se sentia nas palavras, nos gestos e tudo mais, foi um início incrível, digno dos melhores contos e histórias.

Com três meses de relacionamento, comecei a perceber muitas coisas que eu não gostava no Fernando e eu caí no erro de traí-lo. Ele descobriu tudo lento os logs de MSN. Na verdade eu me auto-sabotei porque inconscientemente não queira mais aquela relação. Achei que seria o término mas, em vez dele ir embora, ficou, e foi aí que as coisas se complicaram. Eu com meu senso de culpa e ele aproveitando-se desse fato para sempre manter-me culpado, sempre manter-me como vilão. Passei a andar olhando o chão, a ter medo de falar com as pessoas, de expressar comentários que poderiam levá-lo a ter ciúmes e assim construiu-se uma relação onde só eu fazia, pois estava na “obrigação de reconquistá-lo”. Foi duro, anulei muitas coisas em mim para ficar do jeito que ele queria.

Após um ano e meio de relacionamento recebi um convite para trabalhar no nordeste (somos de São Paulo). Já tínhamos terminado e voltado várias vezes e não conseguíamos nos separar. Tanto eu quanto ele acreditávamos que amores são para sempre... Que duram... Onde os dois estão no barco remando juntos... “Mãos dadas rumo ao infinito”, como ele dizia. Sempre fui romântico, meio “Alice” e ele também. Não achei que ele me acompanharia de imediato, achei que teríamos um tempo separados e que depois ele se mudaria para onde eu estivesse, se fosse da vontade de ambos.

Porém ele quis ir junto comigo, o que mais uma vez me trouxe culpa por tirá-lo de casa, da vida dele, dos amigos e de tudo mais. Na nova cidade, tudo que ele queria, ele tinha. Antes do espirro, o remédio, antes do frio, o cobertor e tudo mais que ele quisesse. Vi faculdade, arrumei trabalho, montei uma linda casa para nós dois, acreditando nesse lindo sonho de "felizes para sempre".

Com o tempo comecei a perceber que só eu me movia na historia, não havia equilíbrio. Era como se seu sempre tivesse “compensando” alguma coisa, ou a traição passada ou o fato de tê-lo “tirado” de São Paulo. Eu fazia o mercado, preocupava-me com a comida, o que vestir, o que estudar, as contas e ele foi se tornando uma companhia, ao invés de um parceiro.

Nesse momento comecei a perceber que meu casamento e minha história de conto de fadas não iria acabar bem, mas não desistia, sempre lutando. Não estava feliz e ele, na passividade dele, também não estava. Por mais que eu me esforçasse, tudo que eu fazia nunca era suficiente para deixá-lo contente, único, pleno. E, num barco de duas pessoas, onde apenas uma rema, uma hora, a gente se cansa.

Resolvi voltar para São Paulo. Voltei por ele, larguei questões profissionais importantes e arquei com todo o prejuízo de ter montado uma casa no norteste e ter que voltar para São Paulo. Na minha ingênua esperança, achava que ele seria mais feliz em São Paulo. Ele não queria voltar e eu precisava voltar por nós dois e nossa sanidade. Sentia-me preso, amarrado. Há pouco tempo em um email, ele me disse... “ - Por muito tempo você deixou de ser você, para ser eu”, e, de fato, isso aconteceu.

Chegamos em São Paulo, ele foi para a casa da família dele, eu para a casa de amigos e nos separamos. Três semanas depois ele já estava com perfil em sites de relacionamento e eu ainda sentindo a dor da separação.

Hoje, o que não engulo é: “Porque meu conto de fadas deu errado”? “Porque o 'felizes para sempre' não deu certo se eu fiz o máximo?”. Isso me dói. Saber que, por dois anos, fiquei com uma pessoa, acordei ao lado dela todos os dias, me sentia único, amado e cuidando do ser amado.

Desde que voltamos para São Paulo nunca mais nos vimos. Isso faz quatro meses. Eu ainda não consigo ficar com ninguém, ele já está namorando novamente. Que amor foi esse? Onde erramos? Um amigo disse quando voltamos: “ - Você voltou, pois a situação estava insustentável e esperava que, com a frouxidão das amarras, você conseguiria respirar. Mas o que aconteceu foi que ele não afrouxou as cordas, mas partiu-as em mil pedaços e você passou a tentar remendá-las. Sem querer entender que por haver tantos remendos, mesmo que ele voltasse a te "segurar", não seria forte para te prender por muito mais tempo.”.

Sei que nos amamos, sei que podemos ser felizes juntos, mas ele não quer e não sei porque não quer. Ou, na verdade, sei sim... Tem medo de sentir dor, medo de regras, medo das responsabilidades que o casamento trás... Doi-me fracassar, ver o sonho desmoronar. Me dói saber que fiz tanto e que hoje estou de mãos vazias...

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