Outra coisa que eu não suporto esse coisa de \"classe favorecida\". Mas que diabo é isso? Na minha casa, ninguém foi favorecido em nada. Minha mãe é a mais velha de 7 irmãos e aos 12 anso já era empregada doméstica, enquanto minha avó era lavadeira e meu avô mestre de obras. Meu pai era o caçula de 9 irmãos e foi o único da casa a ir pra faculdade porque os outros 8 irmãos ajudaram, todos trabalhando desde os 10 anos de idade. E tudeo isso numa época em que mal existiam leis trabalhistas, que dirá esse assitencialismo todo. O imóvel no qual moramos foi financiado em 25 anos através do antigo BNH. Meu irmão começou a trabalhar aos 12 e eu aos 14. Cadê a po*** do favorecimento?

E essa história da minha família é similar à história da grande maioria das pessoas que me cercam. Aí eu tenho que ser taxada de elitista, preconceituosa, hipócrita porque eu acho um absurdo que eu rale a bunda até o osso e não veja retorno disso? Porque eu acho isso ofensivo? Ora, façam-me o favor.

Hipócrita eu seria se ficasse fazendo \"apologia da solidariedade\" às custas do dinheiro alheio. No português bem claro, se eu gozasse com o p** dos outros. Vou repetir, não me sinto culpada por nem meio centavo que eu tenha conquistado na vida, porque eu e minha família suamos sangue para ter o que temos. Não admito esse título de \"classe favorecida\" simplesmente porque é falacioso. E não aceito essa pecha de \"direitista atrasada\" só porque eu não me sinto responsável pela desgraça alheia.

Preconceito por preconceito, nós que pagamos a conta de tanta baderna também temos que lidar com muitos.

\"Eu não gosto de pagar a conta para dar o peixe ao invés de ensinar a pescar. Se o dinheiro dos meus impostos fosse investido de fato no desenvolvimento da região, em educação melhor, em saúde melhor, em oportunidades de trabalho melhores, eu acharia lindo.\"

Carla,

Concordo com sua opinião também, porém a separação não é a solução. Podemos e devemos questionar para onde está indo o dinheiro gerado no Sul, mas separar é, como o Caronte falou, mentir que nos importamos com as camadas menos favorecidas da população, mas querer que todo o dinheiro que geramos seja gasto com nós mesmos.

Separação é necessária quando o povo que quer se separar é de alguma forma diminuído injustamente por outro povo. É culpa propriamente dos nordestinos que estejamos sendo \"explorados\"? Lógico que não, a culpa é do governo que não usa os lucros de maneira devida. Portanto deixar nordestinos a própria sorte definitivamente não é o certo, faz sentido na cabeça daquele que visa somente o bem da sua região.

Australopithecus,

O separatismo no Nordeste tem origem na questão de diferenças culturais do resto do Brasil, que também acho uma besteira e os motivos me parecem tão errados quanto os que a maioria dos separatistas do Sul tem para essa divisão.

\"Vou repetir, não me sinto culpada por nem meio centavo que eu tenha conquistado na vida, porque eu e minha família suamos sangue para ter o que temos.\"

E nem deve, Carla, e nem deve.

O foco do assunto não é o problema em si, mas sim a solução. Todos sabemos que o nordeste vive pelo lucros de outras regiões, mas separar ao invés de mudar me parece um tanto quanto reacionário.

Minha história de vida não difere muito da história da Carla. Minha avó ficou viúva quando meu pai tinha 13 anos de idade. Ele fazia carrinho de rolimã pra vender para ter dinheiro para comprar cadernos e livros para a escola. Vendia garrafas velhas para ter dinheiro para a merenda. Meu pai e minha tia, irmã dele, são as únicas pessoas da geração deles na família que fizeram faculdade, a muito custo.

Eu também não me sinto responsável pela desgraça alheia. Mas não é por não ser minha culpa que as pessoas passam fome que eu tenho que ser insensível a esta situação. Que eu posso fingir que não vejo.

Seria muito mais fácil a vida se eu pudesse simplesmente sentir raiva das pessoas por elas serem miseráveis, sem me dar o trabalho de me perguntar como elas chegaram, ou nunca conseguiram sair, dali. Seria muito mais fácil olhar para o outro lado e fingir que não é comigo. Porque não é minha culpa, ou minha responsabilidade, diretamente.

Eu também trabalho cinco meses do ano para pagar impostos. Moro em Porto Alegre. Seria fácil para mim me revoltar pelo fruto do meu trabalho ser usado com outras pessoas. Mas o que me revolta não é ver o dinheiro que eu suo para ganhar me ser subtraído, mas sim ser mal usado. Se fosse usado para melhorar a vida das pessoas que tiveram menos chances do que eu na vida, eu pagaria de bom grado.

Porque eu sou um maluco sonhador que acha que no século XXI, entre seres de intelecto superior, como o homo sapiens sapiens, a Lei da Selva, o princípio darwinista de sobrevivência do mais capaz, não precisa imperar.