“Nós não escolhemos a quem amar”. Perplexa, ouço essa frase de uma amiga em referência à sua relação com um homem desprezível. Essa mesma amiga, que tanto acredita no amor como capaz de mover montanhas, me diz que não existe amor entre pessoas do mesmo sexo. Encabulada, me pergunto como ela pode soar tão paradoxal. São pessoas! Como assim? Pessoas, iguais a mim, iguais a você. Pessoas capazes de amar e pouco importa o objeto desse amor.

Introduzindo dessa forma, busco entender algumas dúvidas que afloram todos os dias... Porque o amor, esse sentimento tão nobre, sofre limitações? Porque o amor precisa ser heterossexual para ser reconhecido? Porque pessoas que continuam sendo pessoas são tidas como incapazes de amar simplesmente por destinarem seu afeto a alguém do mesmo sexo que o seu?

Há bem pouco tempo, aqui mesmo, me deparei com a afirmação de que homossexuais não amam, apenas se apaixonam. Fico me perguntando se existe algum mecanismo interno, biológico, que determine essa mudança tão séria nos homossexuais. Será que a área do cérebro responsável pelos sentimentos é bloqueada no que diz respeito ao amor? Será que tais pessoas são diferentes de nós, heterossexuais?

Respondo à minha pergunta de forma categórica “É unicamente o nosso preconceito que nos faz alocar pessoas conforme suas preferências sexuais”. Somos incapazes de aceitar que o amor que nos envolve hoje também envolve aquele homem que anda com seu namorado de mãos dadas. E aquelas garotas que se beijam no canto do shopping? Será que são elas incapazes de amar? Ou será nossa cegueira aperfeiçoada por nossa herança histórico-preconceituosa que nos impede de reconhecer a universalidade do amor e do afeto?

Posso soar inconformada, panfletária. Para alguns, posso até mesmo representar um fenômeno midiático que quer ‘impor a homossexualidade como algo natural’ (já ouvi isso, de verdade). No entanto, o que me ocorre são questões mais simples: O amor que me alcança e me faz escolher alguém para mim é diferente daqueles que escolhem pessoas do mesmo sexo que o seu? O afeto é diferente? Porque há promiscuidade numa relação entre dois homens e o mesmo não se aplica entre um homem e uma mulher?

São perguntas que me faço, quase sempre. E me pergunto tais coisas quando ouço absurdos como os já citados. Pessoas, que morrem de amores, que colocam o amor acima de suas vidas, mas são incapazes de reconhecer que esse amor não encontra fronteiras simplesmente por se manifestar em cada um conforme suas convicções, propensões e até mesmo escolhas.

No fim das contas, nosso egoísmo nos impede de entender o amor do outro enquanto queremos proclamar aos quatro ventos o bem que o amor nos faz. Amamos, mas outros, que amam ao seu próprio sexo, estão fadados a rótulos – promiscuidade, curtição, paixonites, etc.

Enfim, encerro minhas palavras aqui refletindo o seguinte “O amor só é lógico e tem razão de ser quando acontece entre um homem e uma mulher?”. Para muitos, minha pergunta merece uma resposta negativa – estes, que como eu, não enxergam homens e homens ou mulheres e mulheres, mas pessoas. Para outros, há o incômodo de admitir que pessoas tem o direito de sentir, de amar, mesmo que de forma socialmente reprovável.