Estava lendo um texto em um blog que causou uma certa discussão entre a blogueira e os comentaristas do blog. A moça relata uma situação em que disse que, apesar de involuntariamente, teve preconceito. Muita gente diz que não foi preconceito não.

Abaixo, em negrito, a tal história:

” Peguei um táxi hoje à tarde. Eu e motorista começamos a falar das obras na Rebouças, de como isso era necessário para as próximas eleições. Passamos por ditadura militar. Morar no exterior. Viver longe da família.

E aí ele diz que não conseguiria ficar distante das filhas. Me contou, orgulhoso, que uma delas já estava formada em administração e que a outra havia voltado ao curso de engenharia depois de dar um tempo na carreira musical. Indicou os vídeos da garota cantando no YouTube.

Empolgado, me mostrou uma foto na tela do celular. Ele, uma senhora que obviamente era a esposa, e três jovens moças.

“Ué, mas tem uma mulher a mais aqui”, eu disse.

“É a minha nora.”

“Ah, então o senhor tem um filho também?”, perguntei, achando estranho o fato de até aquele momento ele não ter mencionado nada a respeito.

“Não, ela é mulher da minha filha.”

Fuén.

Fuéééééén.

Um grande FUÉN pra mim, que vivo dizendo que a gente deve ser menos preconceituoso, mas que automaticamente assumi que, se ele tinha uma nora, ele deveria ter um filho homem.

Parabéns, Letícia, por carregar ainda tanto preconceito dentro de si, mesmo lutando pra se livrar de todos os resquícios disso.

Ainda não consegui. Mas sigo tentando.”

Fonte: //cemhomens.com/2012/02/o-preconceito-nosso-de-cada-dia/

Mais uma situação:

Eu e minha tia estávamos conversando, quando a gente lembra de um episódio de quando meu primo, filho dela, era criança. Ela é branca, o filho dela é negro, pois é filho de pai negro.

Ele estava na escola fazendo um trabalho para o Dia das Mães. A professora recortava gravuras de mulheres em revistas que representavam as mães das crianças. E deu para ele uma gravura de uma mulher negra, nisso ele diz que sua mãe é branca.

Minha tia disse que isso foi preconceito da parte da professora. Já eu achei que era normal, já que a professora não tem como adivinhar que a mãe dele era branca.

Mas depois eu concordei com o argumento dela, que a professora estava dando gravuras de mulheres brancas para crianças brancas e de mulheres negras para crianças negras, e que deveria dar figuras das mais variadas, índias para crianças brancas, negras para crianças japonesas e etc. Para não ficar uma coisa ’cada um nos seu quadrado”...branco com branco, negro com negro.

Isso me fez lembrar os seriados americanos de comédia onde tem uma família negra. Existem muitos seriados desse tipo. Eles são de comédia, mas vez ou outra, falam de assuntos sérios, principalmente sobre o preconceito. Mas, se em um episódio eles tratam de preconceitos que os negros ainda sofrem, em outros episódios eles mesmo praticam um preconceito (ou seria força do hábito?). O protagonista negro sempre tem um amigo e algumas vezes ele é branco. Quando arrumam um namoradinho para o protagonista e para o amigo (par para ir ao baile de formatura, por exemplo), o par do negro é negro e o par do branco é branco. Infelizmente eu já observei isso em vários seriados diferentes. Desde o Um Maluco no Pedaço que é de 1995, como no seriado Raven que é bem mais atual, entre muitos outros. Por que os próprios produtores e/ou roteiristas que tratam em um episódio de preconceito, no outro episódio praticam segregação racial?

Enfim. Eu ainda não tenho opinião formada sobre isso.

Ao supor que para ter uma nora, o taxista deveria ter um filho homem, a blogueira estava sendo preconceituosa? Ou é apenas força do hábito?

Ao supor que a mãe da criança negra era igualmente negra a professora estava sendo preconceituosa? Ou foi apenas força do hábito?

Ou os dois? Já que a tal força do hábito é proveniente de uma sociedade preconceituosa...

Esse tipo de situação nos faz perceber que o preconceito ainda tem que ser combatido. Porque muitos que não se dizem preconceituosos ou fazem de tudo para não ser, expõe preconceitos muitas vezes sem perceber. São coisas ainda muito arraigadas na nossa mente, cultura, sociedade.