Adoniran Barbosa e Eu...

dudy
Postado em:
15/11/2010 - 02:40

Todo fim de ano era uma festa.

A programação era sempre a mesma, mas tão divertida.

Na mesma casa, com os mesmos tios, primos e a mesma roda de samba.

Tinha tambor, pandeiro, caixa de fósforos e colher.

Tinha alegria, cantoria e Adoniran Barbosa.

Quem diria, que minha iniciação musical, meu gosto pela brasilidade de som e movimento, teria um autor, que eu nem sabia o nome, mas que nos divertia madrugada adentro.

Assistindo um episódio de Por Toda minha Vida, vim saber, que as músicas que cantei repetidamente a cada fim de ano e, em que aprendi os meus primeiros passos de samba, eram deste notável gênio.

Um senhor simples, de coração boêmio e humor acentuado. Um aprendiz das ruas, que descrevia cenas do cotidiano com sensibilidade e grande humildade.

Hoje, poderíamos dizer que ele era homem multimídia: intérprete, ator radiofônico, humorista, sambista e compositor... Suas construções lingüísticas unidas ao ritmo da fala da "paulicéia um tanto desvairada" eram um veículo social.

Adoniran estourou nas rádios com Trem das Onze, considerada uma das melhores canções do século XX...  Ahhh como cantei essa música:

“Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora as onze horas
Só amanhã de manhã”.


E quantas vezes ouvi Saudosa Maloca, quantas vezes fiquei a imaginar como seria essa tal “maloca”...

“Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas”.


Ouso dizer que aqueles encontros anuais talvez não tenham sido os dias mais felizes de minha vida, porém foram dias muito especiais e que continuam vivos em mim.

Lembro até hoje do batucar, da energia, da força da música, que tempo bom... Percebo que se precisa tão pouco para ser feliz...
 
De volta a roda de samba, cantávamos ainda, Tiro ao Álvaro, Samba do Arnesto e Oi nóis aqui traveis.

Cara, me senti íntima do Adoniram, conheço ele desde pequenininha e nem sabia. Fiquei com vergonha.

But, estou nessa vida para aprender. E naquela noite, após as devidas apresentações, quem realmente teve o prazer em reconhecer, fui eu.

Dudy

Dudy

Postado em:
15 de novembro/2010