Selma Novis

Minha vida tem muitas histórias! Também, com 60 anos, muito já vivi! Mas pretendo viver muitas ainda... E quero ver o final feliz de algumas que estão ainda sendo vividas.

Sou casada com o Marco Antonio (meu grande amor, meu companheiro, meu amigo), há 39 anos. Começamos a namorar por causa de uma aposta, onde ele ganhou uma caixa de cerveja (como ele diz - a mais cara de toda sua vida!). Éramos muito novos, mas o nosso amor foi mais forte que os "ventos contrários" e aqui estamos nós, juntos até hoje... Aliás, mais juntos que nunca...

E foi uma das nossas conclusões, ontem, em nossa conversa de balanço do ano que finda e projetos para o ano que se inicia.

Desse amor, geramos 3 filhos: Marcelo, Ataide e Fabricio e mais ainda, Deus gerou para nós a Thais. Nossos filhos nos deram de presente 3 lindos netos: João Vitor , Giovanna (Gigi) e Luis Felipe (Lipe).

Mas a história que hoje quero compartilhar é a de nossa filha adotiva Thais. Digo que Deus nos preparou para ela, e ela para nós, pois apesar de sempre termos desejado ter um filho adotivo, na época em que achamos que "estava na hora", tudo corria para que nosso desejo não desse certo, e chegamos à conclusão que nossa vontade não estava nos "planos de Deus para nossa vida".... No entanto, nosso Deus é mesmo imprevisível... E, um belo dia, a Thais foi nos dada de presente! Menina linda, risonha, boazinha... Um bebê adorável

Mas, aos 3 meses, o primeiro susto. Internada com bronquiolite, quase perdemos a nossa menina! Daí para frente, uma grande sucessão de doenças, problemas, sofrimentos... Com diagnóstico de epilepsia, com controle até os 15 anos, de repente volta sem controle, ocasionando vários transtornos, inclusive p de sermos denunciados no Conselho Tutelar pela diretora da escola onde estudava, alegando falta de tratamento!

Como se já não bastasse o sofrimento de ser, a cada 2-3 dias, chamados para buscá-la no PS, porque as convulsões vinham a qualquer hora e em qualquer lugar... Escola, passeio, atividade esportiva, etc... E também a tristeza e vergonha dela, pois era uma pessoa diferente, que chamava a atenção da maneira mais triste, além da exposição à situação constrangedora! Fora o mal estar provocado pela medicação que era sempre em doses altas, na tentativa de controlar as crises.

Quando ela completa 18 anos, o maior susto!! Recebo um telefonema avisando que ela havia sido levada ao hospital, não pelo que eu já esperava, mas por tentativa de suicidio! E essa foi a primeira de uma série incontável!

Nossa reação? Primeiro, a revolta. Porque ela faria uma coisa dessas, já que era tão amada? Depois, já com a "cabeça no lugar", refletimos sobre seu comportamento nos últimos anos, e percebemos que ela vinha pedindo socorro, só que nós entendíamos a sua "rebeldia", "malcriação", como reflexo do que estava sofrendo com a sua saúde e também por conta da idade, a famosa adolescência!

Mas nós estávamos completamente enganados!!! Nossa menina era vítima de uma doença psiquiátrica! Doença ainda mais terrível do que a epilepsia... Já que sua vida foi truncada... Há quase 11 anos (logo ela completa 29 anos), sua vida se resume a muita medicação e internações. Teve que largar os estudos, a vida social, tudo...

Por volta de 2 anos após esse fato, de repente ela parou de andar. Não conseguia se manter em pé. Exames,internações, mais exames, médicos, internações, médicos de novo, que, em sua maioria, diziam "- É tudo da cabeça dela... É a doença, ela não tem nada!". Nesse meio tempo, dores na coluna, cirurgia, infecção, nova cirurgia, infecção, nova cirurgia (3, num prazo de 3 meses). E dores, muitas dores!!!!

Nossa guerreira, que sempre adorou ler e escrever (tinha um projeto de escrever um livro), às vezes se queixava de dificuldade de enxergar, e mais uma vez ouvimos que "era tudo da cabeça dela". Todos esses fatos eram entrecortados de crises psiquiátricas, com tentativas de suicídio e internações.

Até que, após uma convulsão, e nova ressonância magnética, e muitos "ela não tem nada", um novo diagnóstico: Esclerose Multipla.

Há 8 anos ela sofria dessa outra doença terrível, degenerativa, e sabe Deus porque, os médicos só diziam "É da cabeça dela!".

Amamos nossos filhos de paixão, temos agora duas noras (quase 3), a quem aprendemos a amar e fazem nossos filhos felizes, temos loucura por nossos netos, tão lindos. Mas aquela menina, que um dia achamos que Deus não queria que tivéssemos, talvez seja a maior motivação para que continuemos a lutar pela VIDA. Não só a nossa, mas principalmente a dela, pois ela é nosso exemplo, visto que, em todos esses anos de sofrimento e dor, nunca ouvimos de sua boca (e teria todas as razões do mundo) "- ESTOU CANSADA, NÂO AGUENTO MAIS".

Ao invés disso, mesmo em surtos psiquiátricos, ou da esclerose multipla, no auge do sofrimento, de seus lábios sempre nasce um sorriso e as palavras mais doces do mundo: "- Mãe, EU TE AMO!".

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