Laira Augusta

Nós nos "conhecemos" há muito tempo, quando tínhamos 6 anos, foi pela internet, numa brincadeira sobre Pokemons.

Depois de um tempo e da aprovação de nossas mães, passamos a trocar cartas e trocávamos figurinhas, cards, e essas coisas que crianças gostam, além de converssarmos muito. De repente isso simplesmente parou. Longos anos se passaram e eu, já adolescente reencontrei aquelas cartas e resolvi escrever de novo.

Estava retomando o contato e tínhamos muito do que converssar. Passamos a dividir os receios dessa fase tão difícil, ele acompanhou o fim do meu primeiro namoro e o começo e o fim do segundo, eu compartilhava com ele a angústia que ele sentia por um namoro a distância. Eram diverssas cartas por mês, em média 13 e-mails por dia, fora as converssas por msn e os sms, uns 7 por dia.

Éramos depressivos, tínhamos lá nossas manias de depresivos e compartilhávamos isso também. Quando você sente tristezas súbitas, por mais que as pessoas te entendam, a impressão que você tem é que nunca ninguém vai realmente te entender. ?

Com a gente era diferente. Nós nos entendíamos, conseguíamos compartilhar isso e sentíamos a compreensão um do outro. Eu sempre quis vê-lo e sempre tive muito medo que, se isso acontecesse, ele iria deixar de ser meu amigo. Medo bobo, hoje eu consigo entender isso, mas naquela época o medo me paralisou e eu nunca marquei de encontrar com ele.

Um belo dia eu mandei uma mensagem e ele não respondeu... de noite meu celular tocou e me deram a notícia de que ele havia se suicidado.

Eu fiquei arrasada, não sei se é possível alguém entender como duas pessoas que nunca se viram podem criar um vínculo tão forte, mas ele era a minha alma, por assim se dizer. Chorei todos os dias, por anos... ainda choro.

Por muito tempo me senti culpada, só eu sabia das suas tristezas e eu não fiz nada. Pensava: "se eu tivesse encontrado com ele", "se eu pudesse tê-lo acolhido", "se eu tivesse feito qualquer coisa, talvez fosse diferente".

Embora hoje eu saiba que nada do que eu tivesse feito teria mudado a decisão dele, eu sei que, se ele não tivesse feito isso, talvez eu tivesse, então, que de certa forma, esse choque me salvou, hoje eu sei que não foi culpa minha.

Eu ainda sinto muita dor e muita saudade. Eu ainda não entendo como podíamos nos entender tão bem.

Eu sei que naquele dia uma parte importante do meu coração morreu também e que eu jamais vou ser a mesma sem ele.

Em duas semanas vão fazer 4 anos que tudo aconteceu e eu ainda não sei como suportar a dor.

Eu o amei, como jamais amei qualquer outra pessoa na minha vida. E, se existe um lugar para onde vão as almas depois que morremos, eu quero me encontrar com ele quando chegar a minha hora.

Eu só precisava compartilhar isso com alguém. Obrigada

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