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Laramaverick
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No PF desde: 19/03/2013

Os especialistas em recursos humanos costumam comparar o começo da carreira profissional ao início do namoro. A exemplo do novo casal, empresa e funcionário recém-contratado vivem uma fase de adaptação em que as duas partes, cheias de expectativas em torno da relação, vão se conhecendo aos poucos. Para compreender melhor essa etapa da "vida a dois", uma consultoria paulista, a Companhia de Talentos, preparou um estudo inédito. Ela selecionou as empresas brasileiras que mantêm os mais completos programas de treinamento de jovens profissionais. Foram doze as escolhidas, entre elas American Express, Basf, Bosch, Gessy Lever, Rhodia e Votorantim. Em seguida, entrevistou os diretores de recursos humanos das firmas e seus recém-contratados. O resultado é o mais completo levantamento sobre o que pensam a respeito das empresas os chamados trainees e a opinião que os dirigentes das companhias têm sobre eles.

Para surpresa dos pesquisadores, o estudo revelou um enorme descompasso entre as duas partes envolvidas – como um namoro que começa de forma tumultuada. "A experiência já sugeria que os novos contratados e as empresas não tinham a mesma visão de mercado, mas a pesquisa mostrou que a distância é maior do que supúnhamos", afirma Sofia Esteves, diretora da Companhia de Talentos. Tome-se como exemplo um item da pesquisa que trata do tempo de permanência do funcionário na firma. Enquanto as organizações esperam que o profissional permaneça no mínimo dez anos na instituição, os trainees respondem que pretendem ficar quatro – no máximo. Depois disso, querem passar um tempo estudando no exterior ou, talvez, tentar abrir um negócio próprio. Na pesquisa, apenas 14% dos trainees disseram ter planos de estar na mesma empresa e num alto cargo daqui a dez anos. Fabiana Blanco, ex-trainee da Rhodia da turma de 1999 e hoje assistente de gestão da companhia, é um desses exemplos. Depois de ser escolhida numa das mais concorridas seleções, ela quer viajar para fora do Brasil. A idéia é trabalhar durante um tempo no exterior para acumular experiência e ter fluência definitiva em outra língua. "Valorizo muito tudo o que estou aprendendo por aqui. Mas acho que um tempo lá fora vai ser muito útil para minha formação", diz.

Até pouco tempo atrás, o grande sonho das pessoas que entravam no mercado de trabalho era fazer uma longa e sólida carreira numa só companhia. Histórias de funcionários que entraram como estagiários e chegaram a cargos de diretoria eram valorizadas pelos novatos. De acordo com a pesquisa, isso mudou. Os profissionais entrevistados não querem assumir compromissos por longos prazos e têm menos vontade de fazer carreira numa só empresa. Segundo o levantamento, eles vêem as companhias como passagem ou etapa no processo de construção da carreira. Ao primeiro sinal de que o trabalho não está trazendo resultados imediatos, o trainee pensa em sair. Outro ponto de discórdia foi a ansiedade dos jovens em ascender rapidamente. Já as organizações declaram não gostar de carreiras meteóricas porque, movidos pela imaturidade, alguns profissionais promissores podem cometer um deslize grave na função e então ser demitidos. Num crescimento mais lento, acreditam as empresas, o funcionário corre riscos menores. "É

uma geração que cresceu sob a ética do prazer. Ela quer qualidade de vida. Minha geração era a da ética do dever", diz Luiz Carlos Cabrera, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Um estudo como esse é de grande valia para as companhias e para os que estão entrando no mercado de trabalho. Para a empresa, é o momento de entender o que vai pela cabeça do jovem. Conhecer seus novos funcionários é uma tarefa importante para as grandes organizações. Até um tempo atrás, quando a economia brasileira era menos complexa, um número menor de empresas concentrava as oportunidades de emprego. Era o jovem quem tinha de se adaptar ao pensamento das companhias. Hoje, com a explosão do setor de serviços, há muitas empresas precisando de jovens profissionais, o que provoca uma disputa acirrada. O motivo é que as universidades não acompanharam a evolução do mercado. A excelência de ensino, com honrosas exceções, continua concentrada em meia dúzia de faculdades. Na disputa pelo melhor estudante, as empresas desceram do pedestal e foram à luta. Oferecem programas de treinamento de primeira qualidade e aumentaram os rendimentos. No Brasil, 57% das grandes companhias possuem programas de participação dos funcionários nos lucros. São novas formas para seduzir os melhores profissionais. Os salários também fazem parte dessa estratégia. Hoje, existem empregados com apenas dois anos de casa ganhando 5.000 reais e com equipes de dez pessoas sob o seu comando. Do ponto de vista do jovem, o estudo é importante pois ele oferece a chance de apresentar os valores das empresas e o que elas pensam sobre a sua carreira. "A análise feita pela pesquisa vai servir para reorientar jovens e empresas sobre seus papéis", diz Sofia Esteves.

A Companhia de Talentos entrevistou a nata dos jovens profissionais do país. São aqueles selecionados por grandes empresas numa competição que pode ter mais de 400 candidatos por vaga. No ano passado, por exemplo, a Telemar teve 13.000 candidatos concorrendo a quarenta lugares. Não há dúvidas de que os escolhidos formam uma elite entre os seus pares. Para se ter uma idéia do quanto é difícil para o novato chegar a essas companhias, basta observar o perfil exigido por elas. Ele precisa ter excelente formação escolar, experiência no exterior, entendimento do negócio da empresa, humildade, pró-atividade (palavrinha muito usada pelos departamentos de recursos humanos para designar alguém que tem iniciativa sobre sua carreira), boa comunicação, organização das idéias, bom relacionamento pessoal, capacidade de trabalhar em grupo e criatividade. Ufa! É quase a perfeição.

Hoje, mais de 60% das grandes companhias brasileiras têm programas de seleção e treinamento. Calcula-se que cada uma delas gaste em média meio milhão de reais por ano para encontrar e recrutar jovens. Juntas, elas investem mais de 60 milhões de reais na preparação desses jovens. Isso não impede que eles façam críticas a esses programas. Além do investimento financeiro, as companhias têm grandes expectativas quanto ao seu futuro profissional. Elas acreditam que os talentos trazem oxigênio para o trabalho, contagiam os outros profissionais com suas idéias e são responsáveis pelas inovações. As empresas esperam que os jovens ocupem postos de comando na organização, na gerência ou na diretoria. Imaginam que, talvez, estejam formando futuros presidentes. Não raro, isso acontece. Os atuais presidentes da Souza Cruz e da Gessy Lever foram trainees dessas empresas. O desafio das organizações é fazer com que histórias como essas se repitam no futuro.

A internet atrai 60% dos jovens

As empresas de internet invadiram o mercado de trabalho e deram um chacoalhão no mundo corporativo. Nas pontocom, os salários são mais elevados do que na velha economia (paga-se o dobro até para secretárias), e as promessas de participação nos lucros são tentadoras (há bonificações anuais incríveis, de até trinta ou quarenta salários). A perspectiva de um dia se tornar milionário vira a cabeça de qualquer um. Claro que algumas das vantagens são mais bonitas no papel. Mas, mesmo sabendo que a realidade não é sempre assim tão dourada, muitos jovens estão absolutamente fascinados por esse mundo. A pesquisa da Companhia de Talentos mostrou que quase 60% dos trainees que estão nas organizações da velha economia se sentem atraídos pelas pontocom. Do total de entrevistados, 20% das mulheres e 33% dos homens já receberam, inclusive, alguma proposta de transferência e estão analisando a oferta.

Os entrevistados disseram considerar as pontocom muito dinâmicas e modernas – mais do que na velha economia. Para os trainees, as firmas de internet oferecem aos funcionários mais liberdade e autonomia do que as companhias tradicionais. Outra virtude listada na pesquisa: nas empresas virtuais há um espaço maior para a criatividade e a ascensão é, em geral, mais rápida. Os especialistas dizem que as pontocom são o lugar ideal para aqueles que eles classificam como "rebeldes supercapitalistas". São os jovens que não querem empunhar bandeiras nem defender partidos ou slogans. Sua rebeldia se expressa na vontade de usar bermudão e cabelo comprido, enfeitar o escritório com bichinhos de desenho animado e fazer festas a valer no meio do expediente, como as da Yahoo!, no Vale do Silício. "Os que se arriscam um ano em uma nova experiência, mesmo que ela não dê certo, terão adquirido bagagem para toda a vida", diz Paulo Humberg, principal executivo da Lokau.com, um site de leilões.

A pesquisa mostrou também quais são as maiores desconfianças do jovem em relação ao novo meio. A instabilidade foi citada por 21% dos entrevistados como um dos empecilhos para uma transferência. Os jovens têm medo de abrir mão do aprendizado e do conforto das empresas tradicionais para se lançar em uma aventura na rede. Outros 10% disseram que algumas organizacões vão quebrar e, por segurança, eles preferem ficar onde estão. No último capítulo do estudo, os pesquisadores perguntaram aos dirigentes de empresas da velha economia o que eles achavam da ameaça virtual. As respostas foram divididas. Há companhias que se sentem ameaçadas, pois acham que estão à procura do mesmo profissional que as pontocom querem: arrojado e empreendedor. As mais otimistas não se intimidam. Pelo contrário, consideram o fato de alguns talentos estarem indo para a internet uma circunstância. Estas últimas prevêem que o mercado pontocom vai assistir a um caminho de volta e, nesse momento, muitos profissionais que partiram acabarão voltando com uma experiência inquestionável. "No último ano, perdemos dez pessoas para a internet. Mas, para nós, isso foi motivo de festa", diz Nelson Saviolli, diretor nacional de recursos humanos da Gessy Lever. Resta esperar para ver quem tem razão.


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Nary
No PF desde: 20/08/2008

Interessante, o texto......