Falando em educação infantil

2 respostas [Último]
imagem de Profano
Profano
No PF desde: 01/08/2010

Já que surgiu o assunto sobre educação infantil, no tópico da mãe que mandou prender o filho, achei esse blog bem interessante. Fala sobre o consumismo infaltil.


http://www.consumismoeinfancia.com/


Entre vários bons, destaco estes 2 textos:


Publicidade pega pesado com as crianças


http://www.consumismoeinfancia.com/2011/02/28/publicidade-pega-pesado-com-criancas/


Cartão vermelho pra quem anuncia cerveja


http://www.consumismoeinfancia.com/2011/03/03/cartao-vermelho-pra-quem-anuncia-cerveja/


imagem de Circe
Circe
No PF desde: 17/04/2010

Estava comentando o assunto outro dia com minha sogra, Profano. Ambas concordamos que hoje em dia as crianças vão para a escola como se estivessem indo ao shopping. Infelizmente, já há uma disputa por melhores mochilas, melhores cadernos, por quem tem mais dinheiro e quem pode mais. Não que isso não existisse antes, mas agora o público infantil se tornou um nicho importante do mercado e tem sido explorado com fervor.


Há alguns anos, quando eu era criança, não tínhamos tantos brinquedos, nem tantos itens de uso cotidiano enfeitados com heróis e princesas. Isso sem contar a falta de senso de alguns pais que enchem os filhos de brinquedos, de presentes, chegando ao ponto destes estarem tão acostumados a ganhar que sequer agradecem e ainda se dão ao luxo de rejeitar - já vi muito cenas assim.


imagem de Profano
Profano
No PF desde: 01/08/2010

Eu, etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade


Em minha calça está grudado um nome


que não é meu de batismo ou de cartório


um nome...estranho.


Meu blusão traz lembrete de bebida


que jamais pus na boca nessa vida,


em minha camiseta, a marca de cigarro


que não fumo, até hoje não fumei.


Minhas meias falam de produtos


que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés.


Meu tênis é proclama colorido


de alguma coisa não provada


por este provador de longa idade.


Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,


minha gravata e cinto e escova e pente,


meu copo, minha xícara,


minha toalha de banho e sabonete,


meu isso, meu aquilo.


Desde a cabeça ao bico dos sapatos,


são mensagens,


letras falantes,


gritos visuais,


ordens de uso, abuso, reincidências,


costume, hábito, premência,


indispensabilidade,


e faz de mim homem-anúncio-itinerante,


escravo da matéria anunciada.


Estou, estou na moda.


É doce andar na moda, ainda que a moda


seja negar minha identidade,


trocá-la por mil, açambarcando


todas as marcas registradas,


todos os logotipos do mercado.


Com que inocência demito-me de ser


eu que antes era e me sabia


tão diverso de outros, tão mim-mesmo,


ser pensante sentinte e solitário


com outros seres diversos e conscientes


De sua humana, invencível condição.


Agora sou anúncio


Ora vulgar, ora bizarro.


Em língua nacional ou em qualquer língua


(qualquer, principalmente).


E nisto me comprazo, tiro glória


de minha anulação.


Não sou - vê lá - anúncio contratado.


Eu é que mimosamente pago,


para anunciar, para vender


em bares festas praias pérgulas piscinas,


e bem à vista exibo esta etiqueta


global no corpo que desiste


de ser veste e sandália de uma essência


tão viva, independente,


que a moda ou suborno algum a compromete.


Onde terei jogado fora


meu gosto e capacidade de escolher,


minhas idiossincrasias tão pessoais,


tão minhas que no rosto se espelhavam


e cada gesto, cada olhar,


cada vinco da roupa


resumia uma estética?


Hoje sou costurado, sou tecido,


sou gravado de forma universal


saio da estamparia, não de casa,


da vitrine me tiram, recolocam,


objeto pulsante mas objeto


que se oferece como signo de outros


objetos estáticos, tarifados,


Por me ostentar assim, tão orgulhoso,


de ser não eu, mas artigo industrial,


peço que meu nome retifiquem.


Já não me convém o título de homem,


meu nome novo é coisa.


Eu sou a coisa, coisamente.