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\"Sou atriz pornô, e daí?\"- por Contardo Calligaris
Resolvi postar este texto pq achei muito interessante e dá pano pra manga para um debatezinho, hehe. Abs.
CONTARDO CALLIGARIS
Eu sou atriz pornô, e daí?
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É uma ideia antiga: uma mulher, se ousa desejar, só pode ser \"a [****]\", com a qual tudo é permitido
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RESISTI A pedidos e pressões para que comentasse o caso do goleiro Bruno. Não gosto de especular sobre investigações inacabadas ou acusações ainda não julgadas.
No entanto, especialmente nos crimes midiáticos, sempre há fatos e atos que merecem comentário e que não dependem da culpa ou da inocência de suspeitos ou acusados.
Por exemplo, durante a investigação sobre a morte de Isabella Nardoni, o fato mais interessante era a agitação da turba: diante da delegacia de polícia, os linchadores pulavam e gritavam indignados só quando aparecia, nas câmeras de TV, a luz vermelha da gravação.
Há turbas parecidas no caso do goleiro Bruno. E, além das turbas, também alguns delegados de polícia parecem se agitar especialmente quando as câmeras estão ligadas, o que, provavelmente, não contribui ao progresso das investigações.
Mas o que me tocou, nestes dias, foi outra coisa. Segundo o advogado Ércio Quaresma Firpe, que defende o goleiro Bruno, a polícia estaria investigando um crime inexistente, pois Eliza Samudio estaria viva e se manteria em silêncio e escondida pelo prazer de ver o Bruno acusado e preso. Para perpetrar essa vingança, aliás, Eliza não hesitaria em abandonar o próprio filho de cinco meses.
É uma linha de defesa que faz sentido, visto que, até aqui, o corpo de Eliza não apareceu. Mas o advogado Firpe, para melhor transformar a vítima presumida em acusada, tentou apontar supostas falhas no caráter de Eliza soltando uma pérola: \"Essa moça\", ele disse, \"é atriz pornô\".
Posso imaginar a expressão que acompanhou essa declaração: o tom maroto que procura a cumplicidade de quem escuta, uma levantadinha de sobrancelhas para que a alusão confira um valor especialmente escuso à letra do que é dito.
Estou romanceando? Acho que não. De mesa de restaurante em balcão de bar, já faz semanas que ouço comentários parecidos, de homens e mulheres, mas sobretudo de homens: Eliza Samudio era \"uma maria chuteira\", uma mulher fácil.
Será que essas \"características\" de Eliza absolvem seus eventuais assassinos? Claro que não, protestariam imediatamente os autores desses comentários. Mas o fato é que suas palavras deixam pairar no ar a ideia de que, de alguma forma, a vítima (se é que é vítima mesmo, acrescentaria o advogado Firpe) fez por merecer.
Pense nos inúmeros comentários sobre o caso de Geisy Arruda, aluna da Uniban: tudo bem, os colegas queriam estuprá-la, isso não se faz, mas, também, como é que ela vai para a faculdade com aquele vestidinho curto e tal?
No processo contra um estuprador, por exemplo, é usual que a defesa remexa na vida sexual da vítima tentando provar sua facilidade e sua promiscuidade, como se isso diminuísse a responsabilidade do estuprador. Isso acontece até quando a vítima é menor: estuprou uma menina de 12 anos? Cadeia nele; mas, se a menina se prostituía nas ruas da cidade, é diferente, não é?
Diante de um júri popular, essas considerações funcionam, de fato, como circunstâncias atenuantes: talvez estuprar \"uma [****]\" não seja bem estupro.
Em suma, quando a vítima é uma mulher e seu algoz é um homem, é muito frequente (e bem-vindo pela defesa) que surja a dúvida: será que o assassino ou o estuprador não foi \"provocado\" pela sua vítima?
Atrás dessa dúvida recorrente há uma ideia antiga: o desejo feminino, quando ele ousa se mostrar, merece punição. Para muitos homens, o corpo feminino é o da mãe, que deve permanecer puro, ou, então, o da [****], ao qual nenhum respeito é devido: uma mulher, se ela deseja, só pode ser a [****] com a qual tudo é permitido (estuprá-la, estropiá-la).
Além disso, se as mulheres tiverem desejo sexual próprio, elas terão expectativas quanto à performance dos homens; só o que faltava, não é? Também, se as mulheres tiverem desejo próprio, por que não desejariam outros homens melhores do que nós?
Seja como for, para protestar contra a observação brejeira do advogado Firpe, mandei fazer uma camiseta com a escrita que está no título desta coluna. Mas o ideal seria que ela fosse adotada pelas mulheres. Podem mandar fazer, sem problema; o advogado Firpe não tem \"copyright\" da frase.
ccalligari@uol. com.br
Fonte:São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2010
Folha de São Paulo, Ilustrada
Me chamou a atenção esta frase:
Atrás dessa dúvida recorrente há uma ideia antiga: o desejo feminino, quando ele ousa se mostrar, merece punição.
A grande maioria, homens e mulheres, ainda somos machistas. O desejo sexual feminino ainda é pejorativo. Aqui mesmo no PF, tem um(s) tópico(s) debatendo se sexo é permitido no primeiro encontro. E por que não seria? Os dois estão a fim? Deixa rolar. E que gozem livres, MUITO.
Um exemplo mais triste: A grande maioria dos homens teria dificuldade de namorar sério uma ex-atriz pornô ou uma ex-prostituta. E, se namorar, ficariam constrangidos em dizer aos amigos (sem contar aos demais) a antiga profissão dela. O cara já é corno antes mesmo de uma hipotética traição dela.
No meu modo de pensar, tudo isso é motivo de repressão sexual, tanto feminino como, mais discretamente, masculino. Se no primeiro encontro ela tá a fim e ele quer esperar, ele é boiola. Na visão de muitos, ele tem que ser macho, tem que comer, sim senhor!
Não seria melhor para ambos liberar, liberar no sentido de ser livre? Mais light, sem cobrança. Mulheres e homens merecem ser felizes, merecem ter, sem culpa, um lado fantástico da vida, quando um dá prazer ao outro.
Apenas amor e seu eterno parceiro, sexo. O resto deveria ser... resto.
Achei o texto muito mais do mesmo, além de ja deslocado por ter sido discutido vezes e mais vezes na televisão e outros veiculos de imprensa.
Que o passado dela não justifica a suposta morte dela é obvio.
E que a frase do advogado foi infeliz é obvio tb.
Aí usar esse gancho para falar sobre machismo e libido feminina é mais obvio ainda.
\"Um exemplo mais triste: A grande maioria dos homens teria dificuldade de namorar sério uma ex-atriz pornô ou uma ex-prostituta. E, se namorar, ficariam constrangidos em dizer aos amigos (sem contar aos demais) a antiga profissão dela. O cara já é corno antes mesmo de uma hipotética traição dela.
\"
[**rr*] cara, assim como seria dificil para uma mulher namorar um ex garoto de programa oras, é uma profissão que envolver riscos a saúde, contatos com o crime, além de valores morais completamente deturpados, logo, para qualquer ser de qualquer sexo seria dificil namorar alguem que trabalha-se com isso.
E falar para os amigos, ué, eu tenho uma colega que namora um cara que era motorista, e acredite, ela esconde isso dos outros, conseguiu um emprego para ele na empresa do pai dela e simplesmente finge que esse passado nunca existiu.
Tem coisas que não são legais de se compartilhar por aí né.
Também estou mais pela primeira corrente.
Penso que a pornografia de hoje denigre a mulher e o \"prazer\" que dizemos ter assistindo a um filme pornô somente \"acontece\" por ser o único tipo de prazer que conhecemos. Veja bem, não culpo as atrizes e a escolha, mas na realidade em que vivemos ser conivente a pornografia é engrossar o caldo do machismo. Sempre falo que nada acontece no vácuo: isso tudo não seria maléfico se não vivessemos numa sociedade machista.
No outro tópico discutíamos sobre o conceito de feminismo que a maioria das mulheres conhecem. Acham que ser feminista é ser quadrada, não gostar de sexo. Aí muitas começam a defender a indústria pornográfica achando que por ela se dá a libertação sexual feminina, só que essa indústria promove o sexo que traz a imagem da mulher submissa: aquela que sente prazer pela dor de uma penetração mais forte, que apesar de sofrer com o sexo [****] se submete a isso, que gosta de apanhar, que tem que fingir que sente prazer só com penetração, etc.
Tudo bem, quando assistimos filmes assim a excitação vem e ela é real, mas esse é o problema, somos estimulados diariamente a pensar que o sexo é assim e deu, ponto. Não conhecemos o prazer de outra forma. Tanto que se você for analisar, a maioria das mulheres nunca teve um orgamo de verdade.
[**rr*] cara, assim como seria dificil para uma mulher namorar um ex garoto de programa oras, é uma profissão que envolver riscos a saúde, contatos com o crime, além de valores morais completamente deturpados, logo, para qualquer ser de qualquer sexo seria dificil namorar alguem que trabalha-se com isso.
Não quis me referir à saúde ou DST, apenas ao fato de que nossa sociedade machista dificulta este tipo de relacionamento.
Vou tentar abrir a questão, então:
Meninas, vocês namorariam sério um ex-ator de filme pornô ou ex-garoto de programa? Supondo que a antiga profissão tenha ficado no passado, tá? Comentariam a antiga profissão dele com os amigos?
Tem tanta mulher, que e [****] ser cobrar,e tanto cara que mau carater que a profisão de nada importa se ama,eu não teria problema em amar uma atraz porno ou uma ex garota de programa,e o que os outros acham,não pagão minhas contas então eu c.pra eles.
Concordo com a Belle Bjo
De fato, pano pra manga.
E uma pergunta: nós aqui, eu,você e outras tão ferrenhas defensoras dos interesses femininos, tão dedicadas em analisar os entraves a tão desejada igualdade, tão devotas em demandar respeito em todas as esferas, teríamos nós coragem de atender ao chamado do autor? Teríamos nós mesmas a frieza necessária para estampar e desfilar tais dizeres em praça pública?
É pra pensar, né?