Caronte,

Vou concordar contigo, mas tem o outro lado da moeda também. Sim, nós mulheres somos bombardeadas desde sempre com os contos de fadas. Mas os meninos também são. Paralelamente, enquanto nos tentam convencer a esperar pelo príncipe encantado, os meninos são levados a acreditar que eles SÃO o príncipe encantado e, portanto, devem encontrar a princesa adormecida que só vai desabrochar e ser feliz ao lado dele. Resultado disso? Quanto mais imatura a pessoa, homem ou mulher, mas intolerante às imperfeições humanas. Garotas que se decpcionam quando o rapaz não é um garboso cavalheiro em armadura reluzente, e garotos que se decepcionam quando descobrem que a princesinha peida e acorda com mau hálito...rsrsrsrsrs. Ambos são vítimas e perpetradores do uma idealização absurda.

Acho que as mulheres tem essa visão de que os homens amadurecem mais tarde por uma questão cultural mesmo, mas nem se tocam de que a culpa disso é delas mesmas. Vamos começar pelas mães que não exigem dos filhos homens a mesma praticidade exigida das filhas mulheres. Assim que consegue segurar uma vassoura, a menina já está varrendo a casa, enquanto o menino continua assistindo TV ou jogando video game. A menina levanta e arruma acama; o menino acredita que a cama aparece arrumada por mágica. A menina vai ao mercado com a mãe e sabe o preço das coisas; o menino nem sabe que o pai paga a conta de luz, só saber que quer a luz acesa quando acionar o interruptor.

As meninas não brincam de casinha só porque tendem naturalmente a isso. Brincam porque são ensinadas a isso. Essa tendência deve mudar um pouco, porque antigamente brincávamos de casinha ao imitarmos nossas mães, que víamos em casa desempenhando aquelas funções domésticas. Os meninos não tinham essa proximidade com os pais para imitá-los em seus trabalhos, então fantasiavam, imitavam os desenhos e filmes da TV, que por sua vez, reforçavam o estereotipo do homem guerreiro, forte, decidido, que salva o planeta 5 vezes por semana.

E hoje em dia isso piora, porque homens feitos ainda estão sendo tratados como os filhinhos da mamãe. Pra que sair de casa se ele tem tudo pronto, comida quentinha, roupa lavada e passada, casa limpa? O sentimento de culpa das mães que passaram a vida dos filhos trabalhando fora, as leva a não ter coragem de impor maturidade aos seus \"pequenos\". Já com as mulheres é um pouco diferente. \"Quando você vai se acertar na vida, casar ter filhos?\" É a pergunta que a gente mais ouve quando chega aos 20 e poucos. Na cabeça de muitas mães, mulher aos 25 já precisa pensar em ter a própria família; homem aos 25 ainda é novo pra isso, ainda tem que aproveitar a vida.

Depois das mães, vem as namoradas e esposas que tratam os homens como se fossem deficientes. Conheço namoradas que inclusive fazem o prato do namorado no almoço ou jantar. Só falta dar a comida na boca. A ânsia de agradar e cuidar é tanta, que engessam o coitado física e emocionalmente. qual a mensagem que se perpetua? Que eles não precisam mesmo se preocupar com nada, que tudo já vem pronto para suas mãos e eles tem a liberdade de continuar na fantasia porque a vida prática já está sendo cuidada por outra pessoa.

Ou seja, mães, irmãs, namoradas, esposas perpetuam essa ideia de imaturidade dos homens. Repetem esse mesmo ciclo e na maioria das vezes sem perceber. O que eu acho mais engraçado é ouvir uma mulher dizer \"homem não sabe fazer tal coisa\". Claro que não sabe, nunca foi incentivado a fazer. Ele não é incapaz, ele só não precisa. O mesmo acontece com a questão da \"maturidade\"; por que diabos assumir responsabilidades se não é necessário?

Claro que tudo isso aí é genérico, ok? Óbvio que no âmbito individual, muita coisa pode ser diferente. Sempre há a esceção que justifica a regra. Há mulheres com esse tipo de comportamente e homens que são verdadeiros poços de maturidade e responsabilidade. Mas a configuração cultural que temos é essa. A nossa cultura latina se manifesta em todo o seu explendor...rsrsrsrsrsrsrsrs

Carla

Entendo o que você coloca, mas discordo da parte que diz que o homem é educado para ser o príncipe. O príncipe é uma fantasia feminina, a mesma fantasia feminina que diz que ela, a menina, é perfeita, que a Gata Borralheira vai conquistar o príncipe do Reino em que mora e viverão felizes para sempre. Os meninos não são incentivados a serem este príncipe, mas a serem os heróis.

Desde a mais longínqua infância, nós somos incentivados a brincar de cavaleiro de armadura brilhante, que brande sua espada, mata o dragão e sobe até a torre para resgatar a princesa.

O ideal masculino não é o príncipe perfeito que fará a mocinha feliz, é o herói destemido que encontrará sua parceira. Há uma diferença sutil entre os dois, mas é uma diferença de ótica. A menina espera o parceiro perfeito, mas não cogita se ela mesma é perfeita. E vice versa. O que ela, a escolhida, pode querer além do cavaleiro de armadura, ou do Rambo, do Conan ou do Vítor Belford que ele é, perfeito por definição?

São ficções criadas nas quais um espera perfeição do outro, mas não questiona sua própria falibilidade humana.

No mais, concordo sim com esta idéia de, seja por machismo, ou por culpa, mães tendem a tratar seus filhos como deficientes até que estes se casem, e depois ainda ficam esperando que suas noras sejam uma sucursal delas, cuidando do filhinho precioso como um inválido que não sabe nem o caminho da cozinha.

Por outro lado, este papel que é assumido por muitas mulheres acaba por se tornar um papel insatisfatório do ponto de vista de realizações pessoais. Ainda existe aquela idéia medieval de que a mulher sai da casa do pai para ir para a casa do marido, e isto faz com que esta mulher, desde cedo tão treinada para cuidar dos homens da família(seu marido e filhos), se infantilize em outros aspectos, exigindo de seu marido coisas que gostaria de ter, mas que nunca foi incentivada a buscar por si mesma. Daí a idéia da mulher dondoca, que nada mais é do que uma menina imatura que passou a vida dizendo \"pai, quero isto, pai, quero aquilo\" e ao se casar, tranforma o discurso em \"(marido), quero isto, (marido), quero aquilo\". Sem uma noção, ou sequer preocupação, de como isto será conseguido.

Enfim, eu acho que, como eu disse antes, as mulheres acabam aprendendo mais umas com as outras do que nós homens, que temos que nascer sabendo tudo. Por isto, as mulheres aprendem com os erros e acertos daquelas que lhe são próximas, ao passo que o homem aprende por tentativa e erro individuais. Em suma, creio que, no geral, como o aprendizado feminino é coletivo, ele leva a um amadurecimento mais rápido, ao passo que o homem, que aprende individualmente, custa mais a chegar lá.

Caronte,

Quando disse que os meninos são levados a acreditar que eles são o príncipe, o que me veio em mente foi justamente esse estereotipo do cavaleiro em armadura reluzente, que brande espada, mata o dragão e salva a princesa na torre. Afinal, é esse o príncipe dos contos de fadas. Por isso acho que nesse ponto concordamos, apenas eu não me expressei adequadamente.

Só acho que ambos, homens e mulheres, não apenas não reconhecem as próprias limitações e imperfeições, como também não as toleram no outro. Tenho exemplos próximos dos dois lados dessa moeda. Uma amiga de longa data que se recusou a assumir compromisso com um rapaz um ano mais novo, porque ele não se encaixava no conceito dela de \"homem para casar\". Apesar de amá-lo, optou por casar-se com outro, mais velho, mais estabilizado e teoricamente mais maduro. Resultado: 3 anos depois, o marido a deixou por \"um modelo mais novo\", enquanto o rapaz preterido estava casado, com um filho e se mostrando marido e pai exemplar em todos os sentidos.

Do outro lado, tenho dois amigos que nunca passam dos 4 ou 5 meses de namoro. Assim que saem do encantamento inicial e começam a de fato conhecer a garota que está com eles, encontram dois milhões de defeitos - por mais ridículo que pareça, um deles não se conformava com a cara amassada da namorada ao acordar...rsrsrsrs - e simplesmente as descartam porque estão esperando, nas palavras deles, a garota perfeita. Ambos, homem e mulher, idealizam demais os outros e a si mesmos.

No mais, concordo que nós mulheres aprendemos mais umas com as outras. E somos mais duras umas com as outras também. O exemplo perfeito é justamente o de sogras exigentes com suas noras e noras que se desdobram para estarem à altura de tais exigências. Mas é interessante perceber que dificilmente um sogro tem o mesmo nível de exigência quanto ao genro. Eles querem, sim, que o genro cuide bem de suas \"princesinhas\", mas só se metem na relação do casal em casos extremos. Ao contrário de sogras que vivem atormentando noras nos mínimos detalhes...rsrsrsrsrsrsrs

No geral, amigo, tá tudo errado. Os papéis pré-definidos para homens e mulheres acabam por nos fazer todos meio capengas. E a idealização nos faz sentir inadequados e frustrados. Acho que a única solução é explodir tudo e começar tudo de novo...rsrsrsrsrsrsrs

Caronte,

Onde eu assino?

Tenho exatamente a mesma impressão que você quando leio certas coisas aqui no PF.

samiroots

Esse seu jeitinho de menina-moleca é uma gracinha!

Mas eu acho que isso é muito da pessoa mesmo, sabe? Tem meninas que gostam de jogar bola e brincar com os meninos, e têm outras que não. Mesmo que os pais deixem a criança bem livre para fazer o que quiser, a maioria das meninas ainda prefere outros tipos de brincadeira, como bonecas por exemplo.

Eu acho que vc não brincava com as primas, não brincava de boneca com as amiguinhas porque vc preferia outras coisas, mas não porque foi ensinada dessa forma, não é?

O que vc acha?