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Gerônimo, George e Bin Laden.
George Armstrong Custer era um homem doente; general e regente mais famoso da sétima cavalaria americana, ele tinha o hábito muito chato para os índios - parafraseando David Coimbra - de atacar as mulheres e crianças nas aldeias quando da ausência dos guerreiros. Tudo acabou em Little Bighorn, quando ele e seu destacamento foram massacrados por Cavalo Louco, Touro Sentado e seus comandados - finalmente - em maior número.
Para a história, Custer passou a ter status de herói, de pavilhão de resistência do valoroso exército dos Estados Unidos; e a sétima cavalaria virou um regimento mítico. Tanto que muitos soldados ainda tatuam no corpo as espadas cruzadas e a identificação desse corpo militar. Dizem que em noites tranquilas, nas pradarias perto das colinas de Little Bighorn, é possível ouvir a cavalaria fantasma cavalgando para sua última jornada.
Gerônimo foi o último chefe Apache, tudo que ele queria era cuidar da sua família, do seu povo e das tradições ancestrais que os tornavam livres e felizes. Mas como um câncer maligno, os espanhóis do México e os brancos vindos do leste começaram a empurrar os apaches para reservas miseráveis, verdadeiros depósitos de índios a céu aberto. Isso aconteceu com índios Sioux, Cheyennes, Nez Percés, Blackfoots e outras dezenas de tribos com igual resultado: quase aniquilação física e moral dos verdadeiros herdeiros da terra americana. Gerônimo lutou, na verdade fugia mais do que lutava, em desespero para manter seu povo vivo, não procurava encrenca mas apenas resistia.
Virou sinônimo de bandido e sanguinário, causos e notícias falsas se alastravam pelos sertões secos do sudoeste dos Estados Unidos, pintando Gerônimo como o apache assassino e seus comparsas selvagens. Gerônimo morreu como prisioneiro de guerra, posando em fotos vestido de cavalheiro sobre os primeiros carros do novo século (o passado), renegando em imagem - e não no coração - seu passado de homem livre. Morreu triste, sem poder voltar a terra dos antepassados...
Bin Laden arquitetou a morte de milhares de civis, não importa se existiam bebês de colo junto as suas mães naqueles aviões, todos seriam incinerados sem perdão. Covarde, ele planejava a morte dos outros e de seus comandados sob as almofadas e tapetes suntuosos de algum pálacio de vida curta, não pensem que ele dormia no chão frio das cavernas...o mártir. Não me admiro se for verdade que ele usou uma mulher como escudo humano, na sua derradeira hora.
\"Santo Deus Gulherme, mas que missa...para que tudo isso, já vi que perdi meu tempo lendo!?!?!?!?\"
Bem, escrevi essa pensata refletindo sobre o que escutei no Jornal Nacional ontem. O código de abate do Bin laden era \"Gerônimo está morto\". Gerônimo era o inimigo público número um aí pelos anos 1880 em diante e não duvido nada que algum anglo saxão da CIA tenha tido a idéia brilhante de relacionar o fascínora atual com o \"bandido\" selvagem do velho oeste.
Nada é por acaso, mas sendo igênuo ou não, creio que nesse detalhe demonstra o quão velhos conceitos e preconceitos continuam arraigados no imaginário americano. Mesmo após as revisões históricas, Custer e sua sétima cavalaria continuam heróis, e gerônimo....sinônimo do terror.
Não fosse Obama um homem negro, será que os caipiras da CIA não arranjariam o nome de um \"bandido negro\" como código supra da operação?
Senhor Gulherme, não cansou os dedinhos?
Não entremos em pânico senhor gulherme e sr elefante!!!
Bom, Gulherme, não sei muito bem como opinar sobre isso, mas tenho algumas percepções que podem parecer simplistas.
Eu não diria nem que é preconceito americano, mas uma espécie de transtorno paranóide que a nação americana é portadora desde tempos imemorais_ quanto a isso, Michael Moore já retratou muito bem em seus documentários. Não que Sadam Husseim ou Osama não tenham feito o que fizeram e não merecessem punição severa ou mesmo a morte que tiveram...Não se trata disso.
Só que fico em dúvida em relação ao quanto de tinta vermelha os americanos usam ao pintar seus diabos...No quanto o Mal e a violência é banalizado e aparecem embalados de ato heróico nas imagens do enforcamento de Sadam, por exemplo, ou nos aplausos de cidadãos após a notícia da morte. E do quanto isso aparece de forma natural para todos nós.
Que a maldade desses facínoras é indiscutivel, claro que é. Mas existe realmente a necessidade de tornar atos de guerra como esses, algo heróico?
Afinal, guerra é guerra e não há ou não deveria heroísmo ou louvor nenhum nisso. Ou será que as imagens de prisioneiros no Iraque sendo violentados, humilhados tbm são heróicas?
Não sei se isso responde tua pergunta, mas o que quero dizer é que fico em duvida em relação a validade desse tipo de coisa: do quanto a violência pode ser naturalizada e transformada em uma coisa boa, cool e nem nos damos conta disso...
Infelizmente, o mundo pós 11/9 foi tranformado, pela propaganda militarista(eu reluto usar o termo imperialista, por causa de todo o ranço que ele pode causar) americana, em um mundo de preto e branco. Os mocinhos, brancos, anglo-saxões e protestantes, contra os bandidos, os árabes fanáticos e seus homens bomba. Só que neste \"os outros\" está incluída toda e qualquer pessoa que questionasse a sacralidade dos motivos da cruzada americana.
Ninguém se perguntou o porquê de o Iraque ter sido invadido, apesar de ser controlado por uma minoria sunita, absolutamente incompatível com o fanatismo xiita de Osama(Sadam e Osama se odiavam, o Iraque jamais abrigaria a Al Qaeda). Ninguém podia se questionar. Mesmo hoje, qualquer um que tente se perguntar o porquê daqueles terroristas terem feito o que fizeram nas Torres Gêmeas, é imediatamente taxado de terrorista, e pode acabar interrogado pelo FBI, enquandrado no Patriot Act. Ninguém nos EUA está disposto a ouvir o que \"os terroristas\" tem a dizer, e este termo se torna cada vez mais e mais amplo.
Não há justificativa para os atos de terror provocados pelas redes de terroristas no mundo, mas seria legal que as pessoas pudessem se questionar o porquê de eles fazerem o que fazem, ao invés de simplesmente aceitarem a velha explicação: \"porque são maus\".
Guilherme,
Creio ter entendido o seu ponto no post de abertura e a frase que me vem à cabeça é \"a história é contada pelos vencedores\". É do interesse desses vencedores que a imagem dos derrotados permaneça como a de monstros inomináveis como forma de justificar sua dizimação. E respondendo à sua pergunta inicial, não fosse Obama negro e teriam trocado Gerônimo por Malcon X, não duvido.
Mais do que as ações dos ditos \"vencedores heróicos\", é inaceitável questionar as motivações dos tais \"monstros\", como você bem disse. Apenas os palestinos são fanáticos irracionais, mas ninguém comenta ou questiona as ações da \"nobre Israel\", sob pena de ser acusado de anti-sionismo. Israel é intocável nos assuntos do Oriente Médio, assim como os EUA são inquestionáveis em sua \"luta contra o terror\". Quaisquer de suas ações são corretas e plenamente justificadas e qualquer um que ouse dizer o contrário deve ter a cabeça cortada.
errata: facínora corrigido.