Bordéis no campo de concentração.

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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

Pesquisador alemão resgata história do sistema de prostituição criado por nazistas para estimular trabalho de prisioneiros


“Todas as noites, tínhamos de deixar os homens ficarem em cima de nós por duas horas. Eles vinham para o bordel, mas antes tinham que ir para a sala médica, para obter uma injeção. Depois, pegavam um número, aí poderiam fazer suas coisas no quarto, em cima, depois para baixo, para fora. Voltavam para a sala dos médicos, onde mais uma vez recebiam uma injeção. Logo depois vinha o próximo. Sem parar. Eles não tinham mais que 15 minutos para gastar conosco.” [Depoimento da presa Magdalena Walter, recuperado de documentos para o livro Kz. Bordell]


Sob neve fina, jovens alemãs e polonesas presas por causarem “desordem social” se estendiam lado a lado diante dos olhos atentos dos soldados da SS, a organização paramilitar ligada ao partido nazista alemão. Dessa fila saíam as próximas trabalhadoras dos bordéis destinados a atender prisioneiros em campos de concentração entre os anos de 1941 e 1945. Por que os nazistas se preocupavam com a vida sexual dos presos? A ideia, do líder da SS e arquiteto do holocausto Heinrich Himmler, era usar a prostituição como estímulo para o trabalho dentro do campo de concentração.


Os detalhes desse sistema de prostituição forçada, um tabu mesmo entre os pesquisadores do nazismo, são agora revelados no livro Kz. Bordell. Sexuelle Zwangsarbeit in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Sexo Forçado nos Campos de Concentração Nazistas, ainda sem tradução no Brasil), do historiador alemão Robert Sommer. “As visitas eram permitidas para aqueles que se destacassem. Os ‘melhores trabalhadores’ tornavam-se então exploradores sexuais das mulheres obrigadas a se prostituir”, diz o autor. Sommer gastou 9 anos para vasculhar 70 arquivos e entrevistar 30 sobreviventes. Nesse período, constatou que pelo menos 210 mulheres foram forçadas a se prostituir em uma dezena de campos de concentração. Ele descobriu que, ao contrário dos prostíbulos que serviam aos soldados nazistas, nas casas destinadas aos presos não havia judias — e nem prisioneiros judeus poderiam usar o sexo pago. Dentre as mulheres obrigadas a ir para os bordéis, a maioria (71%) havia sido considerada “perturbadora da ordem pública”. O restante se dividia entre prisioneiras de guerra e criminosas.


SEXO SISTEMÁTICO


A rotina nos prostíbulos parecia mais com a de uma clínica médica. As mulheres acordavam às 7h30, tomavam banho e se vestiam. Durante o dia, se ocupavam de cuidar da casa e deixar os quartos limpos. À noite, logo após os homens voltarem do trabalho, atendiam por duas horas. “Passavam o dia todo apreensivas esperando o momento em que teriam de se prostituir”, afirma Sommer.


Para frequentar o estabelecimento era necessário pagar com cupons que os prisioneiros recebiam como gratificação eventual por seu trabalho. O cupom era uma espécie de moeda interna do campo de concentração. O direito de usar uma prostituta custava dois Reichsmark (moeda da Alemanha entre 1928 e 1948), sendo que apenas um quarto disso ia para a prostituta. Era mais barato que um maço de cigarros (3 Reichsmark). Entretanto, só dinheiro não era o suficiente. Quem quisesse ir ao bordel precisava pedir, via formulário, analisado pelos comandantes da SS.


Os aprovados eram chamados no fim do dia e se organizavam em duas filas esperando a sua vez. Antes de entrar, passavam por uma consulta médica e tomavam uma injeção com contraceptivo. Depois, iam para o quarto que estava disponível (não havia a possibilidade de escolha da prostituta). O “cliente” tinha 15 minutos e só era permitida a posição “papai e mamãe”. Deitar na cama com sapatos também era proibido. Os guardas da SS fiscalizavam as regras por meio de buracos na porta do quarto. Se não saísse no tempo determinado, um oficial tirava o prisioneiro à força do recinto. Antes de deixar o bordel, o trabalhador passava novamente por inspeção médica.


RESTRIÇÕES

Apesar de parecer contraditório, havia uma hierarquia entre prisioneiros no campo de concentração, e os frequentadores dos bordéis eram divididos em 3 classes. No topo da hierarquia estavam os comandantes das diferentes frentes de trabalhos, cozinheiros, barbeiros e funcionários dos correios. Apesar de pouco numeroso, esse primeiro grupo era o que mais visitava o bordel. Na sequência, um bloco maior, que ia muito pouco ao estabelecimento, era formado pela grande massa trabalhadora das plantações e das fábricas. Nesse segmento, havia muitos jovens que teriam sua primeira experiência sexual ali no campo.


A última classe era a dos trabalhadores forçados pela SS a frequentar o bordel — mesmo que não quisessem ir ao prostíbulo, os militares acreditavam que o sexo iria aumentar a produtividade deles. Pegos de surpresa, não recusavam a ordem oficial por medo de punição. Há relatos de homossexuais obrigados a manter relações com prostitutas durante experimentos para que fossem “curados”. Após as experiências frustradas, os nazistas decidiam infringir terror ainda maior aos gays. “Diante da impossibilidade de curar os homossexuais, foi necessário castrá-los para privá-los, daí em diante, de qualquer prazer”, relata o pesquisador ítalo-argentino Daniel Borrilo em seu livro Homofobia – História Crítica de um Preconceito.


Mesmo após mais de 6 décadas, há ainda muito receio em tocar no assunto. “Alguns museus sobre nazismo na Alemanha não queriam dar informações. Foi muito difícil reunir o material”, diz Sommer. Quanto às mulheres forçadas ao sexo, a dificuldade é ainda maior. “Só encontrei uma viva, mas ela não quis me dar entrevista porque nunca mais quis falar com um alemão de novo.”


http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI252226-17773,00-BORDEIS+NO+CAMPO+DE+CONCENTRACA...


que os soldados nazistas infringiam horrores às mulheres nos campos de concentração, já se sabia...

usarem as mulheres de \"segunda\" linhagem, para melhorar o desempenho de trabalhadores, para mim é novidade...


choquei... :angry: :angry:


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Nary
No PF desde: 20/08/2008

Credo...


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Moça!
No PF desde: 12/10/2010

Ana...

leste "As visitadoras", do Llosa?

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Ele também conta sobre o sistema de prostituição implementado na selva peruana para atender militares. Não era um sistema escravo como o que mencionaste, então o autor conseguiu abrir mão do drama e, pelo contrário, usa muita leveza e humor. Ótimo livro também! Recomendo!

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;)


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Moça!
No PF desde: 12/10/2010

Ai... escrevi errado.

O título é "PANTALEÃO e as visitadoras".

Aproveito a correção pra colar a sinopse do livro (retirada do uol)


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Pantaleón Pantoja tem um senso de disciplina tão profundo que é encarregado pelo Exército peruano de organizar um bordel itinerante. Sua missão é reduzir as taxas de estupro nas zonas militarizadas, oferecendo prostitutas aos soldados. Em cartas enviadas a seus superiores, ele relata o seu sucesso e os testes que faz pessoalmente com as visitadoras. Tudo vai bem até ele se apaixonar pela mais bela das prostitutas.

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Síntese

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O jovem capitão Pantaleón Pantoja foi treinado para ser um dos mais eficientes oficiais do Exército peruano. Disciplinado, respeitador das hierarquias, estava preparado para enfrentar qualquer tipo de missão militar.

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Mas a tarefa que lhe foi designada superava todas as expectativas de um sério oficial de carreira: organizar um bordel na selva amazônica e amenizar a fome sexual da soldadesca que, no isolamento da mata, passara a violentar as mulheres locais, pondo em risco a reputação das Forças Armadas nacionais.

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Embora tivesse sempre aspirado a ser um herói de guerra, e não um cafetão das florestas, Pantoja aplica meticulosamente seus conhecimentos de estratégia e de logística na implantação do \"serviço de visitadoras\" - codinome para o lupanar equatorial. O problema é que nem a disciplina mais férrea foi capaz de evitar um envolvimento amoroso do capitão, perfeito pai de família, com a menina mais bela do \"regimento\".

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Neste romance, Mario Vargas Llosa exibe mais uma vez a sua fantástica capacidade de contar histórias que têm ao mesmo tempo um pé bem plantado na realidade, e o outro no delírio.

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No caso, o leitor pode se recordar das recentes investidas bélicas de um Peru em guerra contra o Equador, aqui solapadas por uma comédia erótica que desmonta qualquer pretensão de heroísmo.


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

obrigada Moça :)


adorei a indicação, vou procurar o livro...


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juliowave
No PF desde: 22/12/2009

Os nazistas não tinham limite em se tratando de crueldade, e os ditos clientes que iam procurar essas mulheres por vontade própria no campo ? o que pensar deles ?


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Mas os prisioneiros não viviam com umas 300 calorias diárias? Ainda tinha energia para isso?


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Júpiter
No PF desde: 08/07/2010

Achei que o cidadão (escritor) se passou nessa. Evidentemente que se o assunto foi tabu por quase 70 anos, a intenção foi preservar as vítimas. Se elas mesmas não vieram à público nesse tempo todo para denunciar isso, foi porque encontraram uma maneira de curar essas feridas enormes sem precisarem se expor para a mídia. Aí o sujeito lança um livro sobre o assunto como se tivesse obtido um grande furo de reportagem, como se estivesse lançando luz sobre as trevas, quando na verdade me parece que apenas cutucou uma ferida que estava quase cicatrizada.


O silêncio nem sempre traduz censura, às vezes ele é uma opção.

Vide o antiguíssimo pacto da mídia em não noticiar suicídios (que acabou caindo por terra depois do advento da internet e seu típico descontrole).


Bem, mas é aquela história: se ele refletiu por algum tempo e escutou a voz do seu coração, e seu coraçãozinho lhe sussurou que devia escrever esse livro e ganhar dinheiro expondo a honra e a dignidade alheias, explorando a desgraça do próximo, quem sou eu para condená-lo né miguxxos, porque sabemos que no fim das contas o amor supera tudo e certamente essas hoje idosas que foram implacavelmente seviciadas pelos SS irão perdoá-lo com muito amor no coração ao terem a sua tragédia exposta quando já estava soterrada no passado! Capaz até de lhe agradecem e ofereceram a outra face! ;)


Beijos nos corações de todos, menos desse escritor e dos malygnos SS !


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Jalia
No PF desde: 18/08/2009

Sabem... sinceramente tudo o que é de cruel, abominável é de se esperar do ser humano!! Nada me espanta. Essa guerra só foi um exemplo da onde a mente humana ...a sede pelo poder pode chegar. O ser humano é naturalmente cruel e perverso. O que \"trava\" certas atitudes são as regras, as leis, as punições.

Tudo o que há de pior é de se esperar do se humano.


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Jalia
No PF desde: 18/08/2009

Ah, Moça.. eu vi o filme: Pantaleão e as visitadoras.

É um filme de lingua espanhola...mas não lembro-me da nacionalidade de sua produção.


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Moça!
No PF desde: 12/10/2010

Jalia,

no prefácio do livro o autor fala quase em tom de confissão que participou da direção do filme.

Confessa que não gostou muito dele (mesmo tendo sido totalmente baseado em seu próprio texto/livro e tendo sido co-dirigido por ele próprio).

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Fico curiosa mas costumo não gostar do filme depois de já ter lido o livro - aconteceu caso assim com o "Ensaio sobre a cegueira".