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O Sorriso da Minha Tia
Postado em:
23/07/2009 - 17:20
Bonaparte Jobim, advogado e escritor, nos traz uma pérola de conto.
Quando lhe faltaram os dentes, pouco se importou, continuou a rir. Seu riso ficou rosa, como seu coração. Junto com a gargalhada, solta e franca, diria honesta, jogava o corpo para trás satisfeita consigo mesmo, inteira dentro de si.
Daí que o convite para conhecer o mar foi recebido com alegria, tanta que lhe motivou fazer uma dentadura, a primeira. Estou falando não simplesmente de dentes, falo, isto sim, de uma volta aos melhores anos, de um sorriso alvo e insinuante de, no mínimo, trinta peças, colocadas lado a lado, parelhas, uniformes, um pouco salientes talvez e com uma tendência teimosa de fugir de seu albergue.
Mas isso não mudou nossa forma de conviver, pelo contrário, recolheu do inédito uma situação que fazia a graça dos sobrinhos, torcendo para que, numa daquelas saudosas gargalhadas, a perereca saltasse fora.
Primeiro dia de praia. Ela e a filha madrugaram, tecnicamente abriram os banhos. Foram a pé, dispensaram a carona, alegres, não pretendiam expor-se ao sol.
Não se demoraram muito, voltaram tristes. Ao entrar no mar, desavisada, a tia enfrentou a primeira onda sem medo, entretanto, na segunda descuidou-se e lhe deu as costas, o que foi o bastante para que com o choque a dentadura voasse faceira boca afora.
Não comentamos o fato, pois, durante dias, no final da tarde, ela ficou à beira da praia, curvada, caminhando lentamente de um lado para o outro, esperando que as ondas devolvessem seu riso.
Ela não ri mais, pelo menos aqui, mas, quando vou à praia, nas ondas, não em todas, invejo o mar com o sorriso roubado dela.
Bonaparte
Postado em:
27 de julho/2009