Amor Band-Aid!

precisofalar
Postado em:
30/09/2012 - 20:41
Reprodução: gettyimages
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O texto de hoje é uma colaboração de Ana Letícia C. Rizzon, que também é nossa parceira no Consultório Virtual.

Euzinha, este ser que vos escreve, curiosa e inspirada na observação dos diversos ritmos que embalam as relações amorosas, tenho me deparado com inúmeras historias de “Amor Band-Aid”. Eu explico.  Quando temos um pequeno ferimento e usamos Band-Aid temos uma sensação de “proteção”, embora na grande parte das vezes ele faça um desserviço à cicatrização. Mantém a ferida úmida, acumula bactérias, deixa aquela cola chata na pele... Já o amor Band-Aid é aquele em que o seu parceiro não quer e muito provavelmente não vai querer nada com você além de sexo e companhia no ócio. Dá uma “pseudo protegidinha” básica na sua carência, mas gera muitos efeitos colaterais bem mais incomodativos do que a colinha nefasta que sai com paciência, agua e sabão.

Precisamos dar um passo atrás para compreender todo que envolve um “Amor Band-Aid”. Nós mulheres somos, desde pequenas, condicionadas a sermos seres de relação. Brincamos de mamãe, panelinha, casinha e esperamos quando criança (pelo menos eu esperava) ganhar a Barbie noiva do Papai Noel. Sim, ao meu ver a Barbie noiva era a mais legal, pra você não?

Então, crescemos sob essa esfera encantada de buscar um relacionamento amoroso para ser plenamente feliz e viver, na vida real, o script das brincadeiras infantis.  Tá bom, eu sei, somos mais do que esposas e mães, pode recolher a feminista que gritou dentro de você neste momento. Neste texto, especialmente dedicado à nós mulheres,  falarei só de relacionamento amoroso, não crie expectativas nem fique chateadinha!

Algumas de nós se envolvem em relações Band-Aid por diferentes motivos. Alguns deles: podem estar desejantes por cumprir o scritp acima; pela vontade de serem amadas; pela oportunidade de ter com quem sonhar e em quem investir; pela motivação onipotente de mudar o cara; por burrice; por baixa autoestima ou por, como diria Jeffrey Young (2008), um esquema de abandono/instabilidade ou privação emocional.

Provavelmente seu amor Band-Aid é muito legal quando está com você, provavelmente vocês tem uma boa química sexual, provavelmente ele não sai com você em público, provavelmente é você quem liga... Pode ser o Valdyfredo que tem dificuldades em se vincular, diz não conseguir e não querer te fazer sofrer.
Queridinho, tão bonzinho e preocupado com os seus sentimentos (só que ao contrário)! Ou o Muriclayton  que é casado e tem uma mulher com quem já não se dá bem e nem faz sexo há aaaaanos e só precisava conhecer você para se separar da infeliz. Mas como desgraça pouca é bobagem, bem agora que ele estava decidido dar no pé do casamento, a esposa (oficial) descobriu um câncer. Ahaaaaa, que azar né?! Ele, como não tem pedra no lugar do coração, vai ficar com ela até que ela melhore. E você, a eleita, vai abandoná-lo nesse momento de altruísmo matrimonial? Nãããão! Você tem coração e é exatamente por isso que ele está com você!

Câncer é ele! Também tem o Glaukisney que se separou há pouco e não está pronto para viver um relacionamento. O pobre homem tão sensível está traumatizado com o divórcio e precisa organizar sua vida e seu coraçãozinho. Já você, enquanto isso, pode ficar a disposição para provar à ele que é uma mulher que vale a pena. Tem também Ridigleybson  que está aguardando uma proposta de emprego para se mudar para onde “Judas perdeu as botas”. Ele, óbvio, está super triste de ter conhecido a mulher da vida dele (você!) nesse momento, mas não pode se vincular para ambos não sofrerem. O querido está tentando te poupar...  Ah, tá!

Tem também os amores Band-Aid mais honestos. Eles deixam claro que só querem curtir. Não iludem você, não passam xálálá e nem fazem cara de cachorro que caiu da mudança. Esses são um desafio evolutivo para as mulheres. Pegar sem se apegar é uma rima real para o sexo feminino? Acho bem difícil... Somos “programadas” desde a tenra infância para um desfecho diferente. O que vejo ao meu redor é começar na curtição gostosa até que o coraçãozinho começa a bater junto com uma esperança, por vezes onipotente, de fazer o carinha mudar de ideia. Aí você literalmente “sentou na graxa”.

Se você, colega leitora, está em uma história similar, você está seriamente encrencada! Inclusive acho interessante começares a pensar em  buscar ajuda profissional, pois seu juízo crítico  provavelmente está defasado! Você deve estar se agarrando, com unhas e dentes, na história da amiga da vizinha da sua prima de 4º grau que mora lá em Araranguá.  Ela conheceu um cara tipo o Muriclayton e esperou por ele por 7 anos.  Depois disso casaram e estão felizes. Sim, eu também conheço gente que já ganhou na loteria e daí?! Entre gastar minha sorte com um amor com Band-Aid  ou um bilhete premiado fico com o 2º. Pelo menos seria uma solteirona batendo perna com minhas amigas e gastando os tubos em NY!

Caso tenhas boas amigas (e torço para que sim, porque dedo podre não é generalizado), elas já devem ter te dado a real e você não ouviu. As vezes ouvir de graça não funciona, tem que pagar um profissional para te auxiliar a chegar a essa conclusão com as suas próprias pernas.

Se você não está no time das descritas acima, pode parar de ler o texto por aqui! Parabéns, estou orgulhosa de você! Se você está, não seja nem louca de parar agora! Se você tem uma amiga que está (a maioria de nós tem!) encaminhe o texto para ela, por obséquio!

Este é o momento do inicio da campanha “Abaixo ao Amor Band-Aid”! Esqueça os recortes de felicidade baseada na ilusão de um futuro improvável. Sugiro que tente dividir a felicidade em estar com  um amor Band-Aid pelo custo da frustração dos intervalos de ausência. Nem precisa ser boa em matemática para ver o tamanho da furada...

Como terapeuta Sistêmica e Cognitivo-Comportamental preciso dizer que em uma boa parte das vezes o outro só é se você for. Vou me explicar melhor: em alguns casos, o parceiro tem potencial para ser mais que um amor Band-Aid, mas a carência é tanta e a parceira se coloca tão, mas tão a disposição que não há necessidade de reciprocidade. Ele nem precisa pensar em vir porque ela já está lá! Não há necessidade de emitir nenhum comportamento para ter o reforço. Faça o que ele fizer, ou não faça, ela estará lá, de braços abertos e/ou telefone em punho fazendo convites. Assim fica fácil né?! E fácil demais é geralmente bem sem graça no jogo da conquista. Lembrem-se, somos animais, o macho é um ser que caça, isso é assim há milhares de anos. Ou você acha que vai mudar a evolução da espécie justamente com você? Continuo preferindo o bilhete premiado...

Vamos aos fatos: “Os resultados mostram que existem 95,9 homens para cada 100 mulheres, ou seja, existem mais 3,9 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil.”  Sim caríssima leitora, esse dado é do IBGE do senso de 2010. Ah, e isso não é tudo: e os homossexuais masculinos? Esses não contam como público alvo porque eles não estão interessados em viver o script supracitado em companhia de uma mulher. Isso significa que não são 95,9 homens heterossexuais para cada 100 mulheres, são menos! Ah, também tem os que não valem o que comem... já diminuiu mais! Inevitavelmente muitas mulheres ficarão para titia. É triste, mas e real. E é pensando em reduzir essa estatística que escrevo para você!

Se você quiser ter filho então! Tic tac, tic tac... o tempo está passando colega. Melhor se agilizar para fazer isso até os 35 anos. Dá para ter depois? Dá, mas com risco. Ou podes gastar alguns milhares de reais e congelar os seus óvulos enquanto se refestela com seu amor Band-Aid. 

Ah, aconselho não ser imprudente tendo um filho com um parceiro com menos de 2 anos de namoro.  Em um texto anterior expliquei que durante o período da Paixão ficamos “ceguetas” em função de armadilhas neuroquímicas feitas exatamente para você reproduzir os genes da espécie.  De marido você pode separar, mas o pai do seu filho será para sempre, por isso pondere. Se você tem 33 anos, está na hora de conhecer o cara! E se depois de 2 anos não der certo você já terá  35, ops... vamos recalcular! Se você conhecer o carinha com 31, só tem 1 possibilidade de erro, pouca chance... por isso melhor começar a pensar nisso aos 25!
Agora se você não quer filhos tem mais tempo. Assim pode ficar “tranquilita” para fazer testes, viver paixões, contratar devagar e demitir rápido as relações sem futuro.

Independente do planejamento de vida, para ser feliz: “Abaixo ao amor Band-Aid”!! Por isso, caríssima leitora, se você está nessa, acorda! Você está perdendo juventude, vida, depreciando a sua autoestima e deixando o cara certo dando sopa por aí. A ferida da sua carência só vai aumentar e pior ainda, pode surgir e/ou crescer a crença de que os homens não prestam. Não é verdade, muitos prestam, inclusive um desses pode ser o seu próximo amor. Tem um cara legal, interessante, de futuro dando sopa por aí e desejoso em conhecer uma mulher legal. Mas ele não vai dar as caras enquanto você está tentando matar jacaré a beliscão.

Seu vestido de noiva, sua casinha, suas panelinhas, seu bebe, sua realização profissional e seu amor inteiro. É um jeito legal de ser feliz, embora não seja o único caminho.  Tudo se torna mais provável com foco, clareza e investimento na direção certa.  Ah, diz o censo que “Entre os municípios, o que tinha maior percentual de homens era Balbinos (SP)”. Fikadika! Se esse é seu script, inspire-se na Barbie a vá a luta atrás do seu Ken, só não vai de noiva para não assustar o moço!