Universidade Feevale - Game Auxilia no Tratamento de Pacientes que Sofreram Mastectomia

Projeto é desenvolvido em parceria com os cursos da área da Informática, Jogos Digitais e Fisioterapia da Universidade Feevale.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer – Inca, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, representando 22% dos casos novos a cada ano. Ele, também, é o tipo de câncer mais frequente em mulheres na região Sul, com uma estimativa de 65 casos a cada mil mulheres. Durante o tratamento, muitas necessitam realizar a mastectomia (intervenção cirúrgica mais realizada no Brasil), que é a retirada parcial ou total da mama atingida. Para essas mulheres, a reabilitação física por meio da Fisioterapia é fundamental, pois estudos comprovam que a mastectomia pode acarretar diversas complicações, como dor, alteração da sensibilidade e morbidades que afetam as habilidades funcionais.

Dois Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC da Universidade Feevale estão auxiliando algumas dessas mulheres na sua recuperação após a mastectomia.
Quatro pacientes, atendidas na Clínica-escola de Fisioterapia, dentro do projeto Mama, estão utilizando um exergame – jogo de exercícios, em sessões de Fisioterapia.

O jogo

Hélio Paulo Mendes Junior, acadêmico de Sistemas de Informação, cursando o último semestre, desenvolveu, com a parceria dos cursos de Jogos Digitais e Fisioterapia, o jogo Soft Life. A partir de estudos fisioterapêuticos, foi possível definir uma série de atividades e exercícios que podem ser utilizados para prevenir ou minimizar os impactos e complicações pós-cirúrgicas. Durante o jogo, a paciente senta-se à frente do monitor, e vai realizando movimentos de acordo com os que são “solicitados” por um avatar na tela. O Kinect, dispositivo desenvolvido pela Microsoft como apoio ao console Xbox, captura seus movimentos, e aplica uma pontuação à jogadora.

Assim, ao mesmo tempo em que a paciente joga, está praticando exercícios importantes para a sua recuperação.

“O mais interessante do meu trabalho é que eu sei que não estou fazendo um estudo sobre algo que vai ficar guardado, mas sim de um software que está sendo e pode continuar a ser aplicado”, afirma Mendes Junior. O acadêmico não trabalha com o desenvolvimento de jogos, mas sim com o desenvolvimento de softwares, e este trabalho lhe deu embasamento para ver como funciona a indústria de jogos e, também, a indústria de softwares. “O mercado de jogos no Brasil está crescendo muito, então tenho muitas possibilidades de entrar nesse mercado para ficar”, conclui o aluno.

De acordo com o professor dos cursos de Jogos Digitais e Ciência da Computação e orientador de Mendes Junior, João Mossmann, jogos aplicados à Saúde já são uma realidade. “Nossa ideia é por o projeto do Hélio em prática, com uma sala fixa na Clínica-escola de Fisioterapia, para que possamos aplicar de maneira mais efetiva esses jogos no tratamento dos pacientes atendidos aqui, tanto neste quanto dos outros projetos”, enfatiza Mossmann. “Esse é o primeiro projeto desenvolvido aqui que está sendo aplicado na clínica, pois, até então, eram utilizados softwares comerciais.

Um jogo que é produzido especificamente para um público é muito melhor, possuindo gráficos e dinâmica específicos para esse público”, conclui o professor.

O tratamento

Luís Gustavo Ruthner Goulart, acadêmico de Fisioterapia, cursando o último semestre, tinha ideia inicial de trabalhar com o esporte no seu TCC, mas quando soube da possibilidade de utilizar exergames na reabilitação, se interessou de imediato. Orientado pela professora Alessandra Reis, o objetivo de seu trabalho é aplicar os exercícios, trabalhando diretamente com as pacientes, e verificar se há melhora na funcionalidade do ombro para as atividades de vida diária após a aplicação do protocolo de exercícios.

Outro intuito é verificar o grau de satisfação das pacientes frente à inserção dos jogos digitais como recurso durante as sessões de Fisioterapia. São realizados quatro exercícios diferentes, com variações que podem incluir um ou dois braços. Ao fim do estudo, cada paciente terá participado de mais de oito sessões, que vão de 10 a 15 minutos. “Vemos que as pacientes estão felizes participando, se dedicando aos exercícios que foram escolhidos para elas, e buscam melhorar os seus movimentos, que ficaram bem comprometidos depois do processo cirúrgico”, afirma Goulart. “Temos relatos de algumas pacientes de que as dores estão diminuindo a partir dos exercícios. Vemos, a partir de conversas entre elas, que estão se sentindo muito melhor”, avalia.

Para a professora Alessandra, o que é mais importante nesse trabalho é a transdisciplinaridade, pois trata-se de uma aproximação entre a Saúde e a Tecnologia.

“Através dessa parceria, conseguimos trazer novas abordagens ao tratamento fisioterapêutico”, enfatiza. Opinião compartilhada pela líder do projeto Mama, professora Patrícia Estivalet. “Assim, os alunos não ficam apenas voltados para sua área específica. A interação da técnica fisioterapêutica com a tecnologia proporciona benefícios para o nosso objetivo maior, que é a independência funcional da paciente”, declara.

Os benefícios

E as maiores beneficiárias dessa interação entre as áreas, pelo que se já pode perceber, estão satisfeitas. Maria Lúcia da Silva Ferraz, de 60 anos, aposentada, realizou uma mastectomia em 2001. Ela é atendida desde 2005 pelo projeto Mama, tendo experimentado vários tratamentos. “Achei esse jogo fantástico! O tratamento está muito prazeroso, pois é um jogo, uma brincadeira, e os benefícios vêm em consequência dessa diversão”, conta. “Já na primeira semana de tratamento, já diminuiu uma dormência que eu sentia no braço esquerdo”, aprova Maria, para quem os benefícios vão muito além dos físicos. Segundo ela, poder realizar atividades essenciais, como fazer o almoço e lavar a louça sem dor, são muito benéficas, também, para o emocional.

 

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  • Reprodução: adam.com