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Sempre em frente é meu lema. Nasci de um namoro breve. Minha mãe já tinha um bebê e engravidou de mim. Carrego "a culpa" desde que nasci. Libertar-me dessa culpa é meu maior desafio. Sempre senti uma necessidade muito grande de amor. Abraços, afeto, palavras de carinho são muito importantes pra mim. Fui deixada com minha avó, eu e meu irmão e minha mãe foi pra outra cidade trabalhar. Quando estava de folga, passava por lá, mas nunca teve muita paciência com nós e apanhávamos muito dela. Crescemos com a minha vó, que nos educou bem, mas não era afetuosa. Mas com ela eu aprendi o valor da verdade, da honestidade e do respeito.

A vó é uma mulher muito guerreira, e muito honrada. Aos 9 anos fui morar finalmente com minha mãe, nesta época eu ja tinha minha irmã. Minha mãe havia casado com um rapaz 10 anos mais jovem que ela (ela tinha uns 27 e ele 17) e ai minha vida virou um inferno. Eu tinha que estudar, limpar casa e cuidar da minha irmã. Porém minha mãe é uma pessoa muito dificil e nunca está satisfeita. Apanhei feito um cachorro nas mãos dela, sofri abuso sexual do padrasto... E, pra ajudar, por ser magrela e desengonçada, era chamada de esquisita. Auto estima destroçada era a minha... Quantas vezes eu via minhas amigas ganharem abraço da mãe, trocarem sorrisos afetuosos... Eu olhava e pensava "que lindo, eu queria isso também"! E pensava que por ser feia e não saber limpar a casa direito, minha mãe não gostava de mim, achava que eu tinha estragado a vida dela que não devia ter nascido. Lembro de uma vez que ela me disse "triste hora que não fiz um aborto de ti!"...

Cresci, sempre gostei muito de ler, sempre fui responsável, sempre me esforcei ao máximo. Aos 19 anos casei e achei que enfim seria feliz, pois ele me amava muito. Mas todos os meus complexos me impediram. Insegura, instável, orgulhosa e muito sincera (exageradamente), explosiva e arrogante, casei com um homem parecido e o desastre foi enorme. Foram 7 anos se amando e brigando, até que o relacionamento se tornou insustentável. Eu queria ter um filho, não engravidava, ele quase não me procurava nos últimos anos de casados... E, por fim, ouvi de uma médica que não poderia ter filhos. Alli, meu mundo desmoronou por completo. O casamento acabou no mesmo ano que terminei meu técnico de enfermagem. Fiquei um tempo sozinha e acabei voltando a morar com minha mãe. Ajudei muito ela com meu irmão mais velho que caiu nas drogas, e ajudei ela com o neto que minha irmã largou pra ela criar.

Amo minha mãe e sempre tentei ajudar ela e agradar... Mesmo ela nunca estando contente, mesmo ela sempre me pondo pra baixo. Nessa época, eu saia pra dançar, me divertia, namorava um e outro, mas na verdade estava perdida na vida, vazia, sem rumo e sem objetivo. Me envolvi com um homem e descobri que ele era casado 3 meses depois que nos conhecemos... Na mesma hora eu rompi com ele. 20 dias depois descobri que estava grávida! Meu Deus! Nunca vou esquecer da alegria que senti quando soube! Deus havia ouvido minhas súplicas. O pai do bebê não quis assumir. Não me importei, prometi ao meu anjinho que nada lhe faltaria. E minha filha nasceu e encheu minha vida de luz. Parei com farra, com festa, com tudo, minha vida era trabalhar e cuidar dela. Continuei com minha mãe e essa época nos aproximamos um pouco mais, ela me ajudou muito na gravidez.

Quando minha filha estava com 2 anos, eu sofria muita pressão das pessoas para ter alguém, pois estava sozinha há 3 anos. Diziam que eu me escondia atrás da minha filha... Acabei dando chance para um colega de trabalho, achei que ele era uma boa pessoa... E me enganei. O rapaz era alcoolatra, bebia e se transformava... E eu, num acidente de percurso, mesmo me cuidando, engravidei dele. Ele quis casar, prometeu mundos e fundos, mas estava sempre bebendo além da conta de segunda a segunda. Achei injusto comigo mesma aceitar uma vida com alguém assim. Aos 4 meses de gravidez e 6 de namoro, eu rompi em definitivo. Não quis, não aceitei e pra todos que me condenaram por preferir ficar sozinha, com uma filha e grávida de mais um eu respondia: dois filhos não me impedem de crescer na vida, mas um bêbado impede.

Se for pra lutar sozinha então que seja. Estudei muito pra passar em concursos, passei em 4. Meu filho nasceu e eu ja era funcionária pública. Quando ele tinha 6 meses, fui numa festa pois há muito não dançava... E acabei conhecendo um homem muito especial. Que esperou eu perder o medo de amar de novo, que me conquistou com paciência, que compreende minhas fragilidades, que também sofreu, que também foi traído, que também criava um filho sozinho... Foi um encontro de duas almas do bem, que apenas queriam amor e formar uma familia... Nos unimos após 2 meses de namoro, e apesar das críticas de todo mundo, sabíamos que estavamos fazendo a escolha certa. Ele assumiu meus filhos, eu assumi o dele e hoje são NOSSOS filhos...

Amo ver a nossa casa cheia de barulho e risadas de crianças... Amo ouvir aquele "mãaaaeeeee", amo ouvir um "te amo mamãe linda!"... Amo ouvir meu marido dizer que sou o sol da vida dele, que trouxe luz e alegria pra vida solitária dele... E hoje olho pra trás e vejo que a vida vale muito a pena, a dor nos faz crescer, e temos que lutar pra ser feliz, fazendo nossas escolhas baseados naquilo que é correto, justo e coerente.

Hoje sou feliz. Tenho as marcas de tudo que passei, mas tenho orgulho de não ter desistido, de ter seguido em frente, mesmo quando estava despedaçada por dentro, de ter vencido mesmo quando as pessoas me olhavam e diziam que eu era um fracasso. Estou aqui, com minha família, agradecida a Deus pelas oportunidades, pela nossa vida simples, modesta, mas honesta e feliz... E sigo em frente.