Professora: Desabafo

Ilustração:gettyimages

Lembro-me como se fosse ontem de coisas boas que aconteceram comigo na minha escola, dentro das salas de aula. Lembro-me com prazer, com carinho, alegria, de muitos alunos que já passaram por mim e hoje estão bem, com um trabalho, alguns já com família construída. Fico feliz por passar por muitos alunos que me cumprimentam satisfeitos, contentes, passando-me a impressão que fui importante para eles, que os ajudei a construir a sua história. E como é gratificante isto.

Por isso preciso falar, desafogar-me... Sou professora de Português, pós-graduada. Venho através destas linhas desabafar, protestar o que aconteceu e acontece comigo. Não é justo continuar com esse salário, pois estou recebendo menos que os contratados e efetivados. Fui nomeada em janeiro de 2004. Fiz concurso para “p3” professor para Ensino Fundamental (do 6º ao 9º anos) e “p5” professor para Ensino Médio. Ficando como “P3a e P5A”. Infelizmente, com a política do governo, veio alterar o P3 e P5 para “PEB”. Todos os professores concursados e nomeados puderam entrar com seus títulos e mudando de nível. Com a mudança para PEB, e como eu estava em estágio probatório, não pude entrar com meus títulos, até que tentei, mas meu pedido foi indeferido, portanto não tive promoção, ficando como PEB II E PEB III até hoje, sendo bem inferior ao que teria que receber.

Em dezembro de 2011, eu obtive a 5º ADI (avaliação de desempenho individual) e mudaria de nível. Mas pela resposta de uma funcionária da 18º não conseguiria. Disse-me que poderia entrar com o processo que indeferiria. Aliás foi o que ela fez duas vezes. Tentei entrar em contato com a Secretaria da Educação, mas não obtinha resposta. E como sempre nunca responderam minhas dúvidas, questionamentos, meus emails. Sempre perguntavam: “Como ficará meu salário com a nova "política remuneratória"? “É justo continuar ganhando menos que os contratados e efetivados”? Tenho mais ou menos vinte anos de Estado. A superintendência a que pertence meu município (18º) não está nem aí para meu problema. Mandava email até para deputados e nunca tive resposta. A funcionária responsável dentro da Superintendência dizia que eu tinha que terminar o estágio probatório e obter as cinco avaliações de desempenho individual (ADI) para que tivesse promoção, mudasse de nível como de direito. E agora eu já passei por tudo isso.

Em janeiro de 2012  entrei com o processo reivindicando minha promoção, este sendo enviado para Belo Horizonte. Liguei várias vezes para e a resposta era que tinha sido aprovado. Eu estava esperando ser publicado no Diário Oficial para então começar a receber e vêm alguém e me diz que não vou conseguir. A mesma pessoa que me disse que fui aprovada e que começaria a receber, inclusive os atrasados a partir de janeiro ou fevereiro, disse-me que não terei direito a promoção, pois antes de ser publicada será revista e cairá na lei do subsídio e que só terei promoção só em 2015.

E aqui estou eu, numa verdadeira via sacra, reivindicando, solicitando, implorando, humilhando-me como se fosse mendiga, implorando o pão. Ainda falta cinco anos para adquirir a aposentadoria. Estou em tratamento com médicos, fazendo exames caríssimos e o “Ipsemg” não doa remédios, médicos quase não tem, não restando outra alternativa senão pagar para ter alívio a um mal que atormenta não bastando a dor da injustiça e ingratidão. E tem mais: quando fui nomeada, fiquei o ano de 2004 recebendo o piso sem vantagens. Quando foi publicado minhas vantagens e que tinha créditos para receber, veio no meu contracheque débitos, que eu devia o Estado. Tem cabimento isto? E ficou por isso mesmo. “Ele, o governador é que nos paga, e ele faz o que quiser conosco”, foi a resposta que eu tive de uma funcionária do Estado.

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professora não é nada fácil. Salário, muito menos...


Professora


Trabalhei muitos anos como professora, gostava do que fazia, mas me sentia humilhada com o salário que recebia. Quando perdi definitivamente a esperança de ter melhor remuneração, eu desisti. Cursei outra faculdade, apostei em outras alternativas e hoje tenho outra profissão, com a qual me sinto mais realizada.


É absolutamente vergonhosa a remuneração dos professores pelo poder público. Todas as expectativas de melhorias para o país repousam na educação, mas o salário de quem é responsável por ela está muito abaixo da dignidade humana. Profundamente lamentável!