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Tudo começou no inicio do ano de 2006, eu era uma jovem sonhadora, filha de um casal separado desde que tinha três anos de idade. Vivia com a irmã e com a mãe, que por sofrer muito na vida tinha medo de me deixar sozinha até mesmo junto com os tios e primos. Vivia sob rédeas curtas, como dizem os antigos.

Naquele ano lembro como se fosse hoje, de uma mensagem que chegou no meu celular de um número desconhecido que dizia assim: "Num deserto sem água, numa terra sem lua, por maior que seja desespero nenhuma ausência é mais profunda que a tua". Achei estranha uma mensagem daquela de um número de desconhecido, e como toda menina curiosa liguei para "avisar que tinham se enganado". Do outro lado da linha, respondeu um moço que dizia ter certeza 
de que era para mim a mensagem e que tinha conseguido meu número com um amigo que me conhecia. A partir dali, do primeiro contato, começamos uma amizade diferente, tínhamos necessidade de conversar todos os dias, sentimento que mais tarde virou paixão. Mas a mãe não sabia. Como contaria a ela, sabendo do seu cuidado em privar-me da presença masculina? Então começou a novela. 

Apresentei-o a ela, que não gostou dele, proibiu de conversar, me tirou o telefone e, em 2007, quando passei a estudar a noite no ensino médio, ela se matriculou na modalidade EJA para me cuidar na escola e garantir que não nós falássemos. Ah, se não fossem as cartas! O vizinho dele que era meu colega e gentilmente serviu de “pombo correio” guardando um celular na mochila pra que eu e ele conversássemos por mensagem durante a aula, escondido da mãe, já que o meu estava confiscado. As amigas na retaguarda, as cartas cuidadosamente guardadas na mochila do colega antes que a mãe batesse na porta para saber se eu estava na sala de aula. 

O proibido sempre  é mais gostoso? Mais atraente? Não sei!!?? Leio nas cartas que ainda guardamos, para lembrar daquele amor sofrido em plena era da modernidade, da facilidade de comunicação, vivia de lembranças e cartas. Já fazia quase dois anos e ela não nos deixava namorar... As cartas eram o único meio de revelarmos o quanto tínhamos saudade um do outro, de vez em quando um encontro arranjado na praça para um abraço breve e um beijo... E, para ajudar, ele passou em um concurso da Brigada Militar e precisou ficar 10 meses na capital para fazer o treinamento.Ele escolheu a profissão de Bombeiro Militar.

Eu tentava disfarçar, a mãe ciente de que tinha conseguido nos separar alegava que não aceitava o namoro porque ele era pobre, e não era evangélico como ela fanaticamente era. Enfim a tão esperada maioridade chegou... Quase 4 anos  e então, tomamos uma decisão: "vamos morar juntos, é a única maneira de solucionarmos o problema"..  Era tudo ou nada! Eu precisava arriscar... Ela tentou de tudo para impedir, chaveou o portão, procurou a policia para ver se ele tinha ficha criminal, o cartório de registros para ver se ele não era casado, a brigada militar para ver se não era mentira que estava na Escola de Bombeiros e não encontrou nada que me fizesse mudar de ideia.

No dia 14  de julho de 2009... Lembro-me bem, o passo difícil que dei, o frio na barriga, nunca pensei que a frase: 'Mãe, vou ter que sair de casa" fosse tão estranha de dizer e que ao mesmo tempo foi a melhor que eu disse até hoje... Doeu muito até cicatrizar, mas hoje estamos aqui, na nossa casa, como sempre sonhamos... A mãe ainda não aceita: Mas o nosso amor venceu e continua cada vez maior, talvez um dia ela aceite por me ver tão realizada e feliz,  cuidando da minha casinha. Quem sabe um dia... Mas, o amor venceu!