Ilustração:wallcoo.net

2ª PARTE

A decisão tinha que ser tomada. Decidimos então conhecermo-nos pessoalmente primeiro e depois logo veríamos como as coisas correriam. As minhas filhas começaram a aperceber-se que havia uma empatia bem forte entre nós os dois. A mais velha dizia que tínhamos sido feitos um para o outro. Luis não se interessava pelos gostos dos rapazes e moças da idade dele tanto como pelos de pessoas bem mais velhas. Ele era precoce desde bem tenra idade. Tudo na vida dele andava bem à frente do que era suposto ser normal. Adiantava-se sempre uns anos a tudo e todos. Ele sabia mais da vida com 25 anos do que eu com 45.

Cada vez mais me surpreendia com a sua sabedoria e maturidade. Eu estava encantada, mas aflita. Vivíamos em sobressalto, mas quando nos encontrávamos a felicidade ficava bem estampada no nosso rosto. Era uma coisa que não podíamos esconder de ninguém. Comecei por contar às duas minhas melhores amigas. Elas ficaram radiantes e nada preocupadas com o meu problema da diferença de idades entre nós. Sempre me encorajaram e adoravam o Luis. A seguir contei à minha irmã e meu cunhado. Também aceitaram bem e gostaram dele. Isto foi andando até que o meu ex descobriu que era mais que amizade o que existia entre mim e Luis, que ele já conhecia. Quando eu deixei de negar as suas acusações, ele virou o diabo! E foi aqui que eu errei! Eu devia ter-me assegurado dos meus bens materiais antes de assumir o meu novo relacionamento. Como não o fiz, sofri as mais devastadoras consequências. O meu ex queimou e desfez-se de todas as minhas coisas. As minhas telas, pintadas por mim, queimou-as na lareira. As minhas roupas e calçado de luxo, de festas, fez desaparecer tudo. As minhas fotos de criança, os meus livros, tudo me negou e fez desaparecer. De tudo o que perdi, o que mais me custou e doeu por muito tempo, foi as minhas telas, as minhas fotos e os meus livros. Eu tinha construído ao longo de 25 anos uma biblioteca maravilhosa, livros levados ainda de casa dos meus pais. Doeu muito sim, mas a culpa foi minha. Eu é que fui uma burra! Mas para além dessa sua reação estúpida e diabólica, teve mais que atingiram as nossas filhas e o próprio Luis. Ele chegou a ameaçar-nos pelo telefone de que nos ia matar. Tratava as filhas da pior forma que se possa imaginar.

Chegou a dizer à filha mais nova que desconfiava que não era filha dele. Coisas que, como se veio a confirmar mais tarde, eram próprias de uma pessoa completamente transtornada psicologicamente. Contrariamente a todos os nossos receios e em resposta a todas as minhas dúvidas em relação ao nosso relacionamento, não houve qualquer má reação por parte de todos, quer das minhas filhas ou de ambas as famílias. Todos, sem exceção me aceitaram muito bem e se mostraram feliz pelo Luis. Mais: os pais dele confessaram que sempre acharam que ele jamais se encantaria por jovens da sua idade, pois achava-as muito fúteis e irresponsáveis demais para ele. Bom, visto todo este cenário á nossa volta de perfeita sintonia, decidimos casar e ele veio viver comigo e com a minha filha mais nova. Como o meu ex parou de me dar qualquer centavo, eu tinha umas somas mensais de despesas absurdas que Luis passou a encarregar-se sozinho. As partilhas foram feitas logo na altura em que o meu ex se passou da cabeça e eu abdiquei de quase tudo a que tinha direito, o que o deixou muito mais furioso porque ele queria briga ou que eu voltasse para ele. Ele achava que eu jamais sobreviveria sem a sua ajuda. Dizia-mo milhares de vezes nos seus insultos e humilhações. A vida encarregou-se de lhe mostrar como estava enganado e isso deixou-o à beira do suicídio. Ele simplesmente não nos deixava em paz a todos.

Vivemos 3 anos num inferno. Passado pouco tempo de eu e Luis nos termos casado, ele também se casou com a primeira que lhe apareceu à frente. Nem assim se acalmou. Magoava as filhas constantemente com insultos sobre mim. O relacionamento delas com o pai era péssimo e isso afetava-me muito. Desde o dia em que com ele assinei o acordo de partilhas no cartório, nunca mais nos falamos. Para eu e o Luis vivermos em paz e deixarmos de ser afetados por tantos problemas que não nos diziam respeito diretamente, decidimos vender o apartamento onde vivíamos e sair do país. Eu já conhecia a cidade de Fortaleza e sempre desejei ter um apartamento aí para passar férias. Viajamos até lá para ver se ele gostaria e depois de ele ter gostado do cantinho que eu adorava a 20 km da cidade, voltamos a

Portugal e nesse mesmo ano resolvemos as nossas pendências e partimos para uma nova vida a dois. Depois de vender o meu apartamento, deixei as minhas filhas estáveis com casa e empregos sólidos. Foi uma decisão dura e radical, principalmente para mim e para as nossas famílias, mas todos entenderam mais uma vez que a nossa felicidade não era possível com a presença daquele monstro a tentar magoar-me ofendendo as minhas filhas. A partir desse momento as minhas filhas começaram a ter um relacionamento mais calmo com o pai que finalmente se deixou tratar e passou a tomar medicação que o deixa calmo e sem aquela fixação doentia em mim. Passaram a dar-se melhor e o nascimento da nossa neta, filha da mais velha também ajuda muito no mais ou menos bom relacionamento de todos. A mais prejudicada sou eu que não acompanho de perto o crescimento da minha princesa linda. Falamos muito pelo skype e ela conhece bem a avó do Brasil, como ela me chama quando ouve o toque do skype no computador. Com 4 anos já vai entendendo muita coisa e já me encarreguei de lhe deixar a minha história escrita para que ela entenda que em algum momento da nossas vida, temos que fazer escolhas para o bem de todos, mesmo que nós próprias sejamos as que mais sofrem com a decisão das nossas próprias escolhas.

Resumindo, casada há 6 anos e a viver no Brasil há 4, a minha vida levou uma volta tal que nem uma vidente se atreveria a confessar! Hoje, sou artista plástica e escritora. Tenho um livro quase pronto com toda esta história em mais de 400 páginas. Nele conto tudo, sem fugir aos pormenores mais sórdidos de um casamento de quase 25 anos em que me entreguei de coração e alma para nada receber em troca a não ser ter ganho duas filhas. Nunca perdi a esperança de que um dia iria encontrar o meu grande amor, mesmo sendo pobre. Na minha escolha, deixei a riqueza e o luxo para trás, mas o que ganhei na troca, não tenho

palavras que cheguem para o descrever. Ganhei um amor grandioso muito maior que o físico. Quase me atreveria a dizer que é um amor bem superior, quase transcendental. Para quem lê e entende a doutrina espiritual, poderá entender melhor o que tento dizer. As nossas vidas já se tinham cruzado e o nosso amor ficou a meio. Só agora é que estamos a vivê-lo em pleno e só Deus o poderá terminar quando o entender. Ambos nos sentimos a alma gémea um do outro sem a menor sombra de dúvida! Só me resta agradecer a Deus e à minha Santa esta minha segunda oportunidade de ser feliz! Todos os anos amigos mais chegados e familiares têm vindo passar um mês conosco. Nós também vamos a Portugal uma vez por ano e todos estamos felizes!

Nunca é tarde para sermos felizes. A idade ou qualquer outra diferença nunca será um impedimento para se se encontrar a felicidade. Nunca deixem de acreditar e lutar pelo que desejam. Não vivam na filosofia dos "ses"..."e se não der certo?"..."e se eu aceitar e não valer a pena?"..."e se ele/ela se fartar de mim e me deixar?"...Lembrem-se que se não forem viver a situação, nunca saberão como seria! Não será melhor irem e descobrirem como foi, mesmo que alguma coisa não ê certo, do que ficarem para sempre com a dúvida de como teria sido? Para mim é assim que que a vida funciona, todos os desafios que me chegam, eu enfrento-os e depois, se for o caso, arco com as consequências. Mas nada fica por viver!

Só temos uma vida e temos que a viver toda!

FIM