Nunca É Tarde Para Ser Feliz! - 1ª Parte

Ilustração:gettyimages

Com 18 anos, mal vi o professor de Português chegar para nos dar aulas, senti que era aquele o homem da minha vida. O meu príncipe estava à minha frente! Depois de terminado o ano letivo, encontramo-nos e começamos a namorar. Passados 2 anos casamos. Durante o namoro eu apercebi-me que ele era uma pessoa complicada. Pensava eu que com o tempo ele mudaria. Afinal eram uns simples altos e baixos de humor que o acometiam e ele deixava de falar comigo e ficava depressivo. Nada que eu não pudesse ajudar a modificar. Ele era advogado e muito trabalhador e responsável. Nesse aspecto, a minha escolha tinha sido a melhor.

Como o início de vida de casados é sempre difícil, eu atribuía o seu mau humor à dificuldade normal de arcar com todas as responsabilidades. Parei de estudar por exigência dele e fiquei em casa. No primeiro ano de casados nasceu a nossa primeira filha. Aos poucos a nossa vida ia subindo de escalão e o dinheiro começava a sobrar. O seu feitio não melhorava e eu já desconfiava que afinal o dinheiro não era a fonte do problema. Tentei retomar os estudos mas não me deixou. Tentei arranjar emprego e também não concordou. Começou a insultar-me e a humilhar-me, chamando-me de inútil e parasita e outros nomes mais. Quando eu chorava, ele pedia desculpa e jurava que nunca voltaria a repetir. Não funcionava porque depressa ele se esquecia das suas juras e promessas.

No quinto ano de casados nasceu a nossa segunda filha. Nessa altura eu já tinha acabado um curso intensivo de inglês que me habilitava a dar aulas. Ganhei uma bolsa de um mês em Londres para estágio com todas as despesas pagas. Como ainda estava grávida quando acabei esse curso, a escola, muito compreensiva comigo, prolongou o tempo para eu poder usufruir da bolsa. Eu tinha 3 anos para o fazer. O meu marido nunca me deixou ir e nem dar as aulas numa escola bem perto de casa. Fez-me um ultimato: Ou emprego ou casamento. Com duas filhas pequenas e sem emprego, está-se mesmo a ver qual foi a minha escolha. Quando a minha filha mais nova fez 3 anos, meti-a no infantário tal como tinha feito com a irmã. Fiquei mais desocupada e decidi ir trabalhar para o nosso escritório de advocacia e ajudar o meu marido. Ele trabalhava muito e, tirando os momentos de mau humor, dávamos-nos muito bem.

Tenho que dizer que ambos éramos virgens e sempre nos demos maravilhosamente na cama. Nunca houve problemas de infidelidades entre nós. A nossa vida subiu muito de nível e eu tomava conta de tudo. Geria a casa, as filhas, o escritório e a economia da família. Isto tudo traduzido: eu fazia investimentos comprando imóveis, tratava das trocas dos carros por novos e das suas revisões, marcava as férias, enfim, até a roupa dele era eu quem comprava. Ele apenas ocupava o seu tempo a trabalhar e a ganhar dinheiro. O resto era tudo eu quem cuidava. Na nossa casa, recebíamos as pessoas mais prestigiadas que possam imaginar, desde juízes a presidentes de várias cidades do país. Tudo eu que cuidava sozinha, uma vez que adorava cozinhar e preparar a casa para receber visitas. Nunca tive empregada doméstica a tempo inteiro. Como vivíamos numa cobertura de 350 m2 , tinha uma moça que ia 2 vezes por semana limpar a casa.

A minha vida não era nada má em termos de dinheiro. Podia dar-me ao luxo de ir ás compras em Lisboa e na loja Louis Vouitton, se me apetecesse, mesmo estando a uma distância de 500 km da cidade onde vivíamos. Só que chega uma altura da nossa vida em que isso já não é o importante. No meu caso, eu queria um homem que me valorizasse e me amasse como eu o amava, da mesma forma e com a mesma intensidade. Isso não acontecia e os insultos e humilhações foram crescendo até que um dia e sem razão alguma, me bateu em frente a uma irmã e irmão meus e uma amiga. Estávamos casados há 7 anos. Para mim foi uma cena que jamais esqueceria. Nessa noite rezei muito e pedi à minha Santa, Nª Srª de Fátima, que me ajudasse a deixar de amar tanto aquele homem. Ela ouviu-me e aos poucos o meu amor foi diminuindo ao ponto de eu ter traçado o meu futuro sem o incluir a ele. Decidi que quando as minhas filhas acabassem de se formar na universidade, eu me divorciaria.

O comportamento dele não mudou, mas de cada vez que me insultava e injuriava, pedia desculpa e até chorava quando me levantava uma mão. Comecei a pesquisar na internet qual seria a doença psíquica dele. Descobri depois de muito esforço que ele sofria de "distemia". Informei-o da minha descoberta e aconselhei-o a tratar-se. Um pessoa distémica é perigosa e precisa de tratamento psiquiátrico com um acompanhamento apropriado. Ainda o convenci a ir a uma consulta, mas saiu de lá dizendo que o psiquiatra era mais doente que ele e nunca mais quis saber de nada. O pai dele era um distémico nato e batia na minha sogra e na mãe dela. Era um horror e isso afetava muito o meu marido. Tanto eu como as nossas filhas lhe fazíamos ver os exemplos do pai que ele próprio tanto recriminava, mas nem assim adiantava muito. A diferença entre pai e filho estava apenas nas pós desculpas. O pai nunca pediu desculpa a ninguém. As nossas filhas entraram nas respetivas universidades, e formaram-se. A mais velha advogada e a mais nova jornalista. Ainda tive uns problemas com a adaptação da mais velha na mudança para universidade e, porque era numa cidade grande e a 100 km de casa, resolvi comprar por lá um apartamento e acompanhá-la bem de perto. Eu aparecia-lhe de surpresa e até ficava lá com ela uns dias. A viagem era de 1 hora de carro e eu fazia-a com a maior das vontades. Depois desses problemas ultrapassados, ela acabou por ser uma excelente aluna e acabou o curso na data prevista e com uma excelente nota.

Mais tarde, veio a vez da mais nova e com essa correu tudo sempre bem. O único problema é que na ausência delas, o meu marido abusava muito mais nos seus maus tratos comigo. A violência física era muito esporádica, mas a psicológica era intensa. No último ano de universidade da nossa filha mais nova, estando a mais velha já em estágio, as coisas pioraram e creio que foi também porque a nossa filha se recusou, e com toda a razão, a estagiar com o pai. Ela ficou na cidade onde tirou o curso, arranjou emprego e seguiu o caminho dela à sua maneira sem querer ajuda do pai. Das poucas vezes que ela tentou ir ao escritório dele, foi sempre humilhada e saía em prantos do escritório. Ele chamava-lhe ignorante, e que não entendia como lhe davam aquelas notas etc. Insultava a filha como fazia comigo. Era impossível ela trabalhar com uma pessoa assim. Por isso eu nunca a incentivei a ficar com ele. Para ele, de certa forma, era também uma humilhação a filha não ficar a trabalhar com ele. Uma noite, chegou a casa vindo do escritório, e por causa de uma luz acesa da cozinha, insultou-me e destratou-me à frente de uma amiga nossa que estava em casa comigo. Nessa noite e depois de ele continuar com os insultos, eu saí da nossa cama e fui dormir no quarto da nossa filha mais nova que estava vazio. Só estávamos os dois em casa. No dia seguinte, como ele não falava comigo, voltei a deitar-me no mesmo quarto e fechei a porta à chave.

Ele chegou a casa como de costume, perto da meia noite e quando viu que eu estava noutro quarto, começou aos pontapés à porta e aos berros a exigir que eu abrisse a porta. Entre outras coisas, dizia que a casa era dele e que eu não tinha o direito de me fechar em lado nenhum da sua casa. Para que os berros acabassem, eu abri a porta e ele atirou-se a mim aos pontapés e murros. Foi esta a gota de água! Apesar de passados uns minutos estar a chorar ao meu lado, a pedir perdão de joelhos, a dizer que me amava muito e que era a mulher da vida dele, a minha decisão estava tomada! Nessa semana mudei-me para junto da minha filha advogada e fui ficando por lá. Como lhe passei a negar sexo quando ele vinha ter comigo, ele foi-se enchendo e uma noite perguntou-me se o que eu queria era o divórcio. Eu disse logo que sim e ele marcou audiência no dia seguinte no cartório notarial. Talvez ele não pensasse que eu ia aparecer, mas eu estava lá na hora combinada. O divórcio foi feito naquele mesmo momento e voltei para junto da minha filha. Tinha sido um divórcio amigável sem partilhas dos bens patrimoniais. Ele pensou que era tudo uma brincadeira. Eu via-me a um passo da minha tão desejada liberdade. Comecei a procurar emprego, mas com 45 anos e sem nunca ter trabalhado para ninguém, ficou difícil. Mas eu não me dava por vencida. O meu ex (já era ex) não me deixava faltar nada e continuava a visitar-me semanalmente. Para ele, nada tinha mudado. Eu errei muito em todo este processo. Errei por inocência e porque nada me fazia prever o que estava para vir e muito em breve. Não tratei das partilhas por escrito, apenas com a presença de um colega dele e amigo de ambos. Eu confiava nele e achava que isso bastava para não ser roubada.

Passados 6 meses, apaixonei-me por um ser único neste mundo. Conversávamos muito pela internet e ele era conhecido da minha filha mais velha. Estilista e a trabalhar numa marca bem conhecida, fomos desabafando um com o outro e concluímos que nem ele nem eu tínhamos relacionamentos verdadeiros e muito menos felizes com os nossos companheiros. Eu com o meu ex e ele com a namorada de 7 anos. Aos poucos descobrimos afinidades e coincidências arrepiantes. Tudo era perfeito, mas havia um entrave para mim que me tirava o sono. Tudo isto sem nunca nos termos conhecido pessoalmente. Como é que eu ia explicar que a minha alma gémea tinha menos 20 anos que eu? Como é que eu ia contar às minhas filhas? Como? Se a minha filha mais velha era apenas um ano mais nova que ele? Como ia contar à minha família? E ele à família dele se a mãe tinha apenas mais 6 anos que eu? Como é que uma coisas destas me estava acontecendo? O que é que eu devia fazer? Eu só sentia que o que toda a minha vida eu tinha desejado e pedido estava ali à minha frente e bem ao meu alcance! Que fazer? Aproveitar a segunda oportunidade de ser feliz e bem amada? Ou virar costas e aceitar que era uma loucura? ......  (continua)

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Que história hem... Eu acho que vc deveria ser feliz com essa pessoa. Até porque, vc já sofreu muitoo e suas filhas com certeza vão te dar total apoio


No aguardo da 2º PARTE!!!!