TRAUMA DE UM ABUSO SEXUAL

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Freud
No PF desde: 13/08/2011

As barbáries continuam pelo mundo, a estudante na índia, a estagiária no Brasil e esses são casos que a imprensa divulga, e os que não são divulgados?

As atrocidades não nos tocam mais como deveriam, o mundo está girando em velocidade máxima e com ele os nossos melhores sentimentos, onde iremos parar?

As vitimas de estupros tem as suas vidas marcadas para sempre, como ficou claro no relato abaixo, mas ela, a vitima, não faz parte da nossa família, então é só um texto que poucos dão atenção, mesmo assim... nós estamos acompanhando atentos o que acontece no seio familiar?

Um relato para reflexão, o texto é grande e creio que a maioria não irá enfrentar a leitura, mas para mim, principalmente por ser um site direcionado a mulheres e principais vitimas, o assunto merece importância máxima.


“Como uma vítima de Kinsey vive com o trauma do abuso sexual.


WND. Como o abuso sexual a afetou emocionalmente?

Esther White. Acho que o que mais me incomodou durante a vida foi o fato de ter sido usada. Eu fui um experimento. Eu não queria... ser usada por ninguém. É desumano.


Ao longo dos anos – quando adolescente, eu estava totalmente, sabe, decidida pela abstinência até o casamento. O que eu fiz foi sepultar tudo isso. Quando minha mãe descobriu ela disse, “Nós não vamos falar sobre isso novamente”. E nós não falamos. Ela me perguntou várias vezes se o meu pai ainda tentava me molestar. Naquela época eu não sabia, mas teria havido um divórcio. Naquele tempo o divórcio teria sido uma coisa terrível, porque Deus odeia o divórcio.


Foi muito forte quando minha mãe nos pegou no ato. Ela nos surpreendeu. Ficou indignada, e minha mãe era uma mulher calma. Ela me mandou para fora da casa. Eu não sei o que aconteceu dentro daquele quarto, mas estou certa de que não foi agradável. Depois de aproximadamente uma hora ela saiu e me disse que o que o meu pai tinha feito era contra a lei, e que ela tinha o direito de chamar a polícia e colocá-lo na cadeia. Mas minha mãe tinha medo do que isso faria comigo, vindo a polícia para pegá-lo. Eu tinha os meus amigos de infância em volta.


Minha mãe me perguntou se deveria entregá-lo ou não. Em uma fração de segundos eu tinha que decidir se mandava o meu pai para a cadeia. Eu não entendi completamente. Hoje eu o teria mandado para a cadeia, mas escolhi não fazer na época. Então ele se foi, minha mãe o expulsou.


Eles venderam aquela casa. Nós nos mudamos para outra cidade, onde eu tive uma tia maravilhosa, tio, primos, e tudo mais. No final minha mãe acabou o recebendo de volta, porque ele chorou – eu não sei de tudo. Meu pai implorou para voltar e (prometeu) que nunca faria aquilo novamente. Ela o observava como um falcão. Não foi um momento agradável, mas ele pediu perdão para ela.


Ele tentou me molestar novamente, mas eu era forte o suficiente, e percebi como era terrível. Eu ameacei contar para minha mãe, eu a tinha para me apoiar. Ele continuou durante toda a vida. É por isso que eu acho que os molestadores de crianças devem estar na prisão. Eles nunca estão curados. Mas eu ameacei contar para minha mãe, e ele desistiu.


Meu pai tentou dormir comigo até depois que eu já estava casada. Ser um molestador de criança é algo da mente terrível. Alguém que quer dormir com uma criança é doente, e eles precisam ser confinados em um hospital pelo o resto de suas vidas. Talvez em um local de refúgio, ou algo assim, onde não possam machucar crianças.


Meu pai não tentou me molestar muitas vezes, só de vez em quando. Ele sugeria a relação sexual, ele não me molestada, para ver se eu estava disposta. Ele pensava que isso era amor. Mentalmente ele confundia sexo e amor.


Isso teve efeito sobre mim ao longo da vida. Eu enterrei o quanto pude, porque sabia que era uma coisa má. Deus perdoa se pedirmos, mas ainda há vergonha. Não quero que minha família fique envergonhada. Eles sabem, mas eu disse para eles que não precisávamos falar mais sobre isso.


Eu ocultei isso por muito tempo, até os 55 anos. Foi muito forte quando finalmente tive que contar para o meu marido. Ele suspeitou durante muito tempo. Eu necessitava do suporte da oração, e grupos de oração para mulheres me ajudaram a passar por isso.


WND. Como isso afetou os seus relacionamentos com homens?

Esther White. Eu controlei o que aconteceu. Eu namorei. Meus namoros foram normais, mas eles sabiam que era melhor não tentar nada. Não sei como eu indicava isso, mas eu fazia. Eu era cristã, e talvez por isso eles não tentavam. Naquela época as coisas eram diferentes. Ninguém estava fazendo sexo naquele tempo, todos eram abstinentes. Eram os anos 1950. A revolução sexual começou quando os livros de Kinsey – 1948 e 1953 – foram lançados, e apenas algumas poucas pessoas conheciam os livros naquela época, gente nas universidades ou pessoas que estavam interessadas neste tipo de coisa.


Felizmente eu me casei com um homem que foi um marido maravilhoso, mas ele acabou com uma esposa muito fria. Apesar disso ele era muito compreensivo. Eu posso entender porque muitos casamentos com mulheres que foram molestadas quando criança são instáveis. Meu marido morreu há 14 anos.


WND. Como você passou por isso durante todos esses anos?

Esther White. Meu pai teve um derrame em 1989. E eu acabei cuidando dele por dois anos. Eu mudei para a casa do meu pai para cuidar dele e da minha mãe, e comecei a frequentar a “Calvary Chapel” (“Capela do Calvário”, em tradução livre). Eu contei a um dos pastores. Ele ficou boquiaberto, e sugeriu que eu me envolvesse com os estudos bíblicos nas manhãs de sexta. Estou participando deles desde então.


Eu trabalhei com isso enquanto cuidava do meu pai, foi quando eu contei para os meus filhos e para o meu marido. Ele não sabia até então, e disse: “Eu não sei como você pode cuidar do seu pai assim”.


No estudo bíblico da última semana nos pediram para falar sobre nosso primeiro encontro com Deus. Eu não pude contar para ninguém. Escrevi no meu caderno, mas não contei para ninguém.


Tornei-me cristã. Durante este tempo o meu pai me estuprou. Foi no período do inverno, num carro fora de uma deserta estrada congelada. Eu estava deitada de costas. Estava congestionada e não podia respirar. Estava chorando tanto que mal podia respirar, pensei que estava morrendo. Ele estava se divertindo tanto que não conseguia entender porque eu não estava.


Eu olhei pela janela e via uma lua deslumbrante e estrelas de inverno brilhantes. Então pensei, “Há um Deus” e “Deus me ajude”. E ele me ajudou. Eu sobrevivi a isso, e acho que este foi o meu primeiro encontro com o santo Deus. O Senhor apenas tocou o meu ombro. Quando eu precisei ele estava lá. Mesmo depois, eu não compreendi completamente o Cristianismo, mas eu sabia que Ele estava lá quando eu precisava dele.”


Autor. Brian Fitzpatrick.

Data da publicação. 18 de Outubro de 2010.

Tradução. Bruno Braga.


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Passei por isso quando criança

É uma ferida na alma, uma agressão sem tamanho.

Leva muito, mas muito tempo para superar.

Eu que o diga.


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Freud
No PF desde: 13/08/2011

Lastimável Samy!

Muito bom saber que vc conseguiu seguir a sua vida normalmente.

Quer nos contar a respeito? Todo desabafo serve para que fiquemos atentos.


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Fui morar com minha mãe aos 9 anos.

Ela estava casada com um cara de 19 anos na época.

Ele não trabalhava, batia nela, enfim, um anjo de pessoa.

Ela trabalhava e ele aproveitava que eu ficava em casa depois da escola, e abusava de mim. Nunca chegou a violentar de fato. Mas fui tocada como se fosse um objeto, foram coisas nojentas que ele fez comigo.

Ele me ameaçava e dizia que se eu contasse pra alguém, ele mataria minha avó. Como minha mãe e eu nunca tivemos um vínculo forte, me calei.

Sofri um ano com isso, e aos 10 fugi pra casa da minha avó. Mas não conseguia falar. O medo que eu tinha dele era tão grande que me paralisava. Apenas disse pra minha vó que não aguentava mais as surras que levava da minha mãe, o que era verdade.


Levei muitos anos para superar, pois tive que enfrentar isso sozinha.

Mas no fim acho que me sai bem.

Quando tive meu primeiro emprego consegui pagar tratamento psicológico.

E ao longo dos anos fui superando, consegui separar sexo de sofrimento.

Mas foi dificil.

O trauma do abuso é tão grande, que se eu estivesse sozinha em um elevador e entrasse um homem, eu saia.

Meus primeiros namoricos foram um desastre.

Mas, consegui superar.

Hoje falo disso sem sofrer,aceito como um desafio que a vida me trouxe.


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Professor Andrew
No PF desde: 19/12/2012

Que bom que você superou isso Ro.


Lúcia Catedral
No PF desde: 05/01/2013

Os primeiros relacionamentos são mesmo muito difíceis depois de algo assim, eu sei como é.


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carlita carlinha
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No PF desde: 03/12/2012

Ro,


Fiquei chocada com a sua história e ao mesmo tempo fico feliz em saber que conseguiu dar a volta por cima. Não é uma situação fácil.


Vejo que com tudo que aconteceu em sua vida, você procura evoluir sempre.


Que bom que isso ficou no PASSADO BEM LONGE!!!!


O importante agora é viver o futuro muito bem ao lado de pessoas que amam você e virse versa.


Imagino o trauma que esse CANALHA deixou em você. Ele não foi preso?


Parabéns pela sua forma de ver a vida e como conduz a sua família!!!!


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amiga 02
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No PF desde: 07/10/2010

eu já passei por isso também..

é horrível

e eu passei quando criança e agora já adulta

só Deus mesmo....


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Freud
No PF desde: 13/08/2011

Samy,


Confesso que ao ler relatos como o seu, desperta uma grande desconfiança do que vai à mente do outro, como se todos fosse suspeito em potencial de tragédias como essa que vc viveu e reforça ainda mais o meu ceticismo em relação à cura de alguns.

Um homem com 19 anos, com o desvio moral que vc relatou, deve ter feitos várias vitimas no decorrer da vida e a mesma história deve ter se repetido na vida de muitas crianças, certamente vc não foi a única a passar pelas ações doentias desse individuo, o que torna a sua postagem ainda mais importante, outras pessoas serão alertadas.

Por mais que nos assusta, não temos como mensurar o sofrimento de quem passa por situações adversas, e isso me faz respeitar a coragem, a determinação e os motivos que se encontra para seguir em frente, demonstra que mesmo inconsciente, temos um reserva inesgotável de força e fé na vida.


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Freud
No PF desde: 13/08/2011

Amgia 02,


Esse mundo é muito louco!

Eu entendi bem, vc quis dizer que ocorreu quando criança e agora que vc se tornou mulher?

Conte-nos a sua história.


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amiga 02
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No PF desde: 07/10/2010

sim Freud

quando criança fui molestada com 3 anos, com 7 ou 8 anos novamente, depois na adolescencia...parecem que os molestadores me perseguem...

e recentemente novamente, mas me dói muito falar sobre isso...