Pêlos....as européias podem

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Flordelislaranja
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Achei esse texto no Segundo Caderno do Globo e achei fantástica a noção de liberdade....

¹Arnaldo Bloch

"Quando era garoto e o hippismo estava em alta,via com frequência amigas da minha

mãe,das tias e das primas mais velhas chegarem às piscinas com os sovacos mais ou menos

cabeludos. Eram pêlos louros, castanhos, negros, vermelhos, tudo natural. Era comum também o

uso de uns tamancos fechados. Por ser ainda baixinho, fixava-me nos pés que saíam dali, vira-emexe,

para pegar um ar.

Quanto aos pêlos, não tinha especial gosto nem aversão, até porque, naquela época, a

ditadura depilatória estava longe de se instalar, de maneira que mulher peluda em alto ou baixo grau

era questão de variedade de hábitos, heranças de pele ou de cultura, cada qual com seu gosto de ser

e de ter.

Tempo em que podiam caminhar livres pela cidade, sem estigmas de perversão, os eventuais

apreciadores de cachos e sovacos(para quem acha a palavra um horror, saiba que não é “chulo”,

para quem é de Aurélio, nem “tabuísmo”, para quem é de Houaiss).

Só na puberdade começou, ainda incipiente, essa história maluca de que mulher lisa era

sinônimo de mulher limpa e, em certo sentido, de mulher linda. Cabelo debaixo do braço era coisa

de fanchona, monstro de circo, moça portuguesa, nadadora alemã.


Mesmo assim, ainda era possível encarar uma peluda sem achar que se estava diante de

aberração da natureza-ou,num pesadelo rodriguiano,traçando gulosamente a comunicóloga da PUC

de sandálias de couro e tornozelo sujo(logo, sovaco cheio).

Foi na comunicação, aliás(não a da PUC, para o bem da minha integridade física, nesses

tempos de “bopemania”), que, na contracorrente dos tempos vindouros, desfilavam pelos corredores

da praia vermelha peludas e depiladas de todas as formas, cores e matizes de beleza ou

desformosura.

De forma que, imerso no desbunde universitário, sequer me dei conta de que, no arrastão da

geração-saúde, a nova ordem estética ia se estabelecendo, trazendo como padrão um blend que

misturava bulimia, lipoaspiração, silicone e raspação compulsiva de sovacos irregulares. Note-se

que, em outras regiões, a presença/ausência de pêlos continuava democrática, sobretudo quando

circunscrita às áreas delimitadas por biquínis ou lingeries de baixo, podendo os mais afeitos à

jardinagem púbica(não confundir com pública) exercer sua criatividade e sua fantasia.

Mas no sovaco não! No sovaco era crime, atentado ao pudor, falta de educação, porcaria,

degradação da auto-estima, anacronismo. Se fosse bela era bela e fera num-mesmo-corpo-aomesmo-

tempo-agora; se não, fera e fera, paroxismo do teratológico.


Quando saí da faculdade e larguei o saxofone(sem duplo sentido), fiz a barba e fui trabalhar

na empresa da família, passei a frequentar casas de bons sabonetes e os pêlos axilares começaram a

sair de cena até desaparecer completamente. Notei que rareavam em todas as faixas sociais, da

mendicância à mais alta grã-finagem. Era como se as cabeludas tivessem entrado em extinção junto

com o mico-leão-dourado e os hipies.

Foi por isso que, ao ser transferido para a Europa por meu tio-patrão, fiquei tão surpreso ao

topar, de novo, no primeiro verão francês, com tais pêlos. Mais que nunca, mais que na infância,

mais que entre os doidos, mais que na faculdade, os sovacos a rigor, ali o banal, o belo, o feio, o

império piloso do bem e do mal, não necessariamente pilosebáceo (está no Houaiss) – apesar da

fama de que gozam alguns povos, como o frânces, do imaginário preconceituoso das nações.

E não eram só as francesas. Eram as suiças, as alemães, as espanholas, as austríacas, as

turcas, as belgas, e as italianas, em menor grau. Raro era topar com vegetação rasteira. Aberração

era a clareira. Nos parques e jardins europeus os sovacos floreciam assim naturalmente na

primaveira, orgulhavam-se no verão, e se os pêlos caiam ou não no outono, só se ia saber entre

quatro paredes, despidos os sobre-tudos e tudos.

Passei três anos fora e quando fui embora ainda era assim, apesar de uns outdoors de moda

já proporem ao público frânces o modelo de axilas zero, que acabaria pegando por lá também, mas

moderadamente, graças à resistência peluda, que jamais cessaria, para o bem da pluralidade e da

união européia.

Chegado de volta à terrinha, vi que o paradigma da raspação não só se reforçara, mas

chegara a homens que se queriam másculos (queriam, mas não necessariamente conseguiam),

adotando, para tal, peito e coxas calvos, e alimentando sonho de ir ao programa da Tiazinha para

serem depilados ao vivo.

Pois, semanas atrás, durante uma reportagem, eu e meu colega Chico Otávio, tomados pelo

mais genuíno interesse jornalístico flagramos um exemplar brasileiro de sovacopilosidade feminina.

Tememos por sua segurança, mas logo soubemos que apesar de canarinha, a peluda vivia no

exterior, estava em visita à cidade, era como um salvo-conduto.

Tinha entre 25 e 30 anos. Traços e estaturas modiglianescas, estava bem asseada e não exibia

sinal de desajuste comportamental. Despedimo-nos respeitosamente e, de volta ao jornal, eu e Chico

viemos conversando de como regredimos em nossos usos e costumes e na nossa noção de liberdade."


(Fonte: BLOCH, Arnaldo. Os Pêlos – As européias podem. O Globo. p.12. 24/11/2007)

¹ – Arnaldo Bloch: colunista do jornal O Globo, todos os sábados no Segundo Caderno


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alice55/RJ
No PF desde: 01/06/2009

Acho que esse cara beijaria sem problemas uma mulher de bigode (buço) espesso em nome da liberdade...


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Gulherme
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Saudações Cara Alice;


O sujeito em questão - deve ter como pôster sobre a cama - uma foto da Frida Kahlo...(como artista, incrível)


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alice55/RJ
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Bom dia, senhor caro Gulherme.


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Nary
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Legal...


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JoeDepp
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Esse foi papo de hoje no almoço..está difícil de bater de frente com um bigode de Hittler ultimamente...


Axilas acho mais higiênico do que qualquer outra coisa...mas na Península do Sul, nem sei mais qual é a diferença....


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

claro que é cultural... afinal mulheres não beijam homens de bigode ou barbudos? por que mulheres podem beijar alguém com pelos e homens não? qual a base cientifica disso?

atualmente os homens também vem sofrendo com as 'modinhas'... os peludos tanto protestaram contra o comercial da Gilete que o Conar mandou tirar do ar... quem sabe assim (a otimista) os homens comecem a perceber como é difícil e degradante esta ditadura das modinhas...

http://wp.clicrbs.com.br/atlantidacriciuma/2013/02/22/comercial-com-sabrina-sato-e-psy-e-vetado/?topo=52,1,1,,292,e224

já estou esperando algum rapaz reclamar que beijar mulher com buço, irrita a pele do rostinho frágil dele.... kkkkkkkkkkkkk


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Flordelislaranja
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No PF desde: 28/12/2012

Quote:
claro que é cultural... afinal mulheres não beijam homens de bigode ou barbudos? por que mulheres podem beijar alguém com pelos e homens não? qual a base cientifica disso?


É o que sempre falo quando se coloca as diferenças muito aguçadas....parabéns Ana....


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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Mulher Pancho Villa e com sovaco comprido irrita o senso estético..heheheh!


Como diria o saudoso Austra: "minha opinhinhaummmm"


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

mulheres tem pior senso estético? como elas namoram com estes seres? kkkkkkkkkk

e pior tem mulhees que adoram uns peludinhos.... coitadinho dos meninos que gostam das peludinhas, sofrem preconceito kkkkkkkkkk

será que meninos ainda sofrem preconceito quando se depilam?




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Gulherme
No PF desde: 13/05/2010

Têm louco(a) para tudo, mas em relação a maioria estatística (ou modinha para alguns) assinalo com ..."Vox populi, vox deo"!