O Carpi me ganhou ao perguntar se não era muito tarde pra tentar abortar o Bernardo da vida do pai.

Forte, né? Mas pontual como uma colherada de Olina.

Minha impressão de tudo isso: o pai não sabia dos planos da má-drasta. Como não enxergava o guri, não se abalou quando ele desapareceu. Estava ocupado demais trabalhando, cego de tantos compromissos, envolvido pela mulher bonita e dominadora - esta, sim, a verdadeira doente da história - que habilmente soube distrai-lo um pouco mais depois do sumiço do filho e nem ligou quando o piá não voltou pra casa.

A cúmplice eu considero uma imbecil. Burra até dizer chega. No primeiro aperto da puliça, já saiu cantando o serviço completo. Essa é uma miserável que se vendeu por uma dívida que a outra, a verdadeira culpada, prometeu assumir.

O pai é um boca-aberta, preso por uma boa e velha chave de buce, A outra, uma pamonha abestada, [***]-mandado da cramulhão, que fez o serviço pesado e que foi incapaz de retroceder mesmo quando olhou nos olhos do Bernardo naquela tarde do dia 04, mesmo quando escutou a madrastra mentir sobre a televisão nova e a consulta com a benzedeira, mesmo quando viu a inocência daquele gurizinho, mesmo sabendo que estava segurando a mão dele e o levando pro abate.

Mas a pior de todas... aquela com quem eu gostaria de ficar sozinha por uns minutos numa sala fechada... é essa Graciele.

Tenho ódio só de pensar nessa mulher.

Gostaria que ela fosse torturada com a informação de que sua bebê está sofrendo horrores nas mãos de estranhos com quem foi deixada. Que batem nela, que negam banho, comida e roupas quentes, que a deixam chorando no escuro.

Acho que o único amor verdadeiro dessa Graciele é a filha.

Não sei se um dia saberemos os verdadeiros motivos pra ela ter tido a iniciativa de matar Bernardo. Dizem que todos os crimes se resumem, em relação aos motivos, a dinheiro, traição ou sexo. Essa mulher não precisava eliminar o guri por nenhuma dessas razões. Por isso, desconfio que seja algo mais: que seja ciúme. Ciúme de um dia esse menino conseguir se aproximar do pai, especialmente depois do compromisso assumido perante o juiz de garantir melhores cuidados, atenção e carinho ao Bernardo. Ciúme da irmã gostar dele, que de certa forma representa a ex na vida do marido. Ciúme do guri-intruso, nojo de sua presença, raiva por ter que dividir espaços com ele, ódio por serem obrigados a sustentá-lo, vontade cega de eliminar um peso, um problema.

Essa Graciele... só de pensar já passo mal.