É tudo muito chocante, né... não só morte do menino, mas também o modo que ele era tratado. O pai o tinha anulado totalmente. É como se tivesse posto de lado um brinquedo velho para poder ter outro (no caso, ter outra filha). Não fazia o menino participar da família. Fazia de conta que a madrasta não o maltratava. Pior, foi extremamente frio desde o desaparecimento do mesmo.

Por coincidência,Três Passos é a cidade natal da minha mãe. Ela saiu de lá há muito tempo, mas é uma cidade pequena, e ela conhecia os pais da madrasta. Diz que eram muito bem de vida, e que as filhas tinham de tudo, eram tratadas como princesas. Juntando o fato dela ter crescido rodeada de mimos com um certo grau de psicopatia... ela via o menino como um estorvo para a família que ela queria construir com o médico. Aliás, isso é psicopatia do mais alto grau, pois é inconcebível que passe pela cabeça de um ser humano normal algo como "vou matar uma criança, enterrá-la no mato para eu ter somente minha família."

O menino Bernardo teve como "pais" dois desiquilibrados; é importante lembrar que a mãe do menino se matou com um tiro de revólver, mostrando-se fraca e egoísta ao extremo, ao tirar a própria vida tendo um filho pequeno para criar.

É complicado imaginar como uma criança teve tanta má "sorte" com seus genitores; as vezes tento encontrar uma explicação - ou até um conforto - em pensar que esse era o resgate severo de um vida passada (para quem acredita em espiritismo)...

Mas qualquer dogma ou mesmo pensamento racional, desmorona ao analisar o que sofreu essa criança, talvez casos tão extremos assim sirvam como lembretes de que ainda retemos certa humanidade, e que devemos punir exemplarmente os que saem muito da curva.

E fazes mais que certo, Ro. Relacionamentos são cheios de acordos e renúncias. Que bom que tens esse amor pelo teu enteado, não é tão comum de ver isso por aí. Quando nos relacionamos com alguém, temos que ter consciência que a pessoa tem um passado, provavelmente se relacionou e criou laços com outras pessoas, e, muitas vezes, desses laços surgiram os filhos. E esses sim são indissolúveis. Ninguém é obrigado a aceitar ficar com uma pessoa que tenha filhos, mas, se não quer, que evite. E se quer investir na relação, que engula o egoísmo e aceite a criança.

Pois é, não foi de agora que o menino era cercado de pessoas malucas. Também pensei nisso quando a história veio à tona. E realmente, essa criança tinha um resgate muito forte com essa família, mas infelizmente a madrasta e o pai escolheram o pior caminho e provavelmente vão adiar um resgate (mais forte ainda) para uma próxima encarnação. Mas bem, isso é um longo debate...