\"Ñ qremos igualdade, e sim oportunidades iguais\"

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Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Oi, Vanessa


Tive o mesmo problema ontem e até desisti de reescrevera resposta aonte...rsrsrsrs,


Muita gente usa esse argumento de que o aborto viraria método anticoncepcional para se opor à descriminalização, mas a verdade é que esse argumento é falho e muito.


Primeiro, como diria uma conhecida, é o mesmo que dizer que as pessoas preferem não escovar os dentes porque é fácil usar dentadura. Então vamos proibir o uso de dentaduras para que as pessoas escovem os dentes. Simplesmente não faz o menor sentido acreditar que as mulheres optariam por algo invasivo e arriscado, tendo ao seu alcance algo muito mais simples e seguro como a prevenção. Chega a ser também uma demonstração de menosprezo à inteligência feminina, uma inferiorização de sua capacidade de discernimento e cuidado consigo mesma. Não dirijo isso diretamente à sua pesssoa, Vanessa, mas esse argumento é ofensivo nesse sentido.


Outro motivo para a invalidade do argumento é o fato de que o aborto acontece mesmo sendo ilegal. Isso tem que ficar muito claro. Mesmo que haja uma ínfima minoria que agiria dessa forma inconsequente com relação ao aborto, é preciso aceitar que essa minoria JÁ AGE ASSIM. A proibição não torna ninguém mais responsável ou mais ponderado. Ao contrário. Talvez, se com a descriminalização vier junto um programa de esclarecimento e apoio psicologico, seja possível reverter as condições que levam aos abortos em série. Enquanto for clandestino, as inconsequentes continuarão a fazer uso dele sem parâmetros ou orientação. Essas exceções não podem ser consideradas a regra e não dá pra ter uma lei que proiba tudo sob o pretexto de estar evitando os excessos.


E pra terminar, por mais frio que isso possa soar, ainda é uma verdade: não é da conta de ninguém quantos abortos uma pessoa faz. Se ela quer fazer 12 abortos em um ano porque acha mais fácil do que tomar pílula, esse é um problema dela. Eu corcordo com isso? Acho certo? Não, nem em sonho. Mas eu não posso obrigar ninguém a agir como eu quero. Ninguém diz a uma mulher que ela não pode ter 12 filhos, por mais que muitos de nós considerem isso loucura. Por que diabos alguém pode dizer a uma mulher quantos abortos ela pode fazer? O Estado pode, no máximo, se limitar a oferecer um ou dois procedimentos gratuitos e depois disso é por conta e risco da pessoa.


No final das contas, os excessos já existem, o aborto existe e tapar o sol com a peneira só piora a situação. Curetagens pós-aborto são as recordistas de procedimentos no SUS e tratar as sequelas de abortos clandestinos sai muito mais caro do que oferecer procedimento seguro. Fechar os olhos ao aborto onera a rede pública, arrisca a vida de mulheres e negligencia uma imensa parcela da população que fica sem atendimento adequado e até mesmo sem informações seguras.


é por essas e outras que a questão do aborto envolve muitomais doque ser contra ou a favor e está muito além das convicções pessoais.


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Vanessa Versiani
No PF desde: 19/11/2009

Assim como mta gente faz plástica, lipo e outros procedimentos sem necessidade alguma, mesmo cientes dos riscos, tb existem pessoas q usam o aborto como método anticoncepcional e outras tantas pessoas que, se legalizar, podem ter mais coragem pra fazer isso.

Não é menosprezando a inteligência da mulher, até pq vc mesma falou que isso é um fato real, que acontece.


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Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Vanessa,


Sim, acontece, mas numa percentagem que não justifica a proibição plena. Seria o mesmo que proibir-se as plásticas e lipos porque tem um monte de gente que usa esses procedimentos como forma de se auto-afirmar. Eu realmente não acredito nem por um segundo que quem não faz isso hoje, passará a fazê-lo SÓ porque pode. Da mesma maneira que hoje a lei definitivamente não impede que as cabeças de vento se comportem como tal.


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Vanessa Versiani
No PF desde: 19/11/2009

Li um texto ali e os números não me pareceram tão ínfimos...

http://www.dihitt.com.br/barra/brasil-o-pais-do-aborto

No mesmo texto fala que em Portugal, Países Baixos, Estados Unidos e Canadá o aborto já foi legalizado.

Vou pesquisar pra ver como funciona por lá, embora imitação não seja solução pra nada.


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Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Vanessa,


O número de abrotos não é ínfimo, mas o número de mulheres que usam o aborto como método anticoncepcional sim. E foi a esse número que eu me referi. Essa mesma matéria diz que o número de curetagens pós-aborto diminuiu diante da maior oferta de métodos contraceptivos, o que só reafirma que o problema não está na \"irresponsabilidade\" e sim na falta de opções quando os métodos tradicionais falham.


O aborto é permitido nos EUA e Canadá desde a década de 1960. Portugal descriminalizou em 2007 e nos Países Baixos também já é legal há décadas. Além de pesquisar como funciona hoje nesses países, veja também como era a situação antes da descriminalização. Você vai ver que, mesmo a imitação não sendo a solução para tudo, espelhar-se em exemplos similares pode, sim, ser um grande avanço.


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Vanessa Versiani
No PF desde: 19/11/2009

Sim, usar experiências positivas como base e mesmo aprender com os erros dos outros é válido. Qdo falo em imitar é imitar mesmo, querer copiar tudo, sem levar em consideração que a cultura aqui é diferente, etc e tal.


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Vanessa Versiani
No PF desde: 19/11/2009

O ruim é q até as próprias mulheres tão pouco ligando pra lutar pelos próprios direitos, parece q se acostumaram a ser mulas de carga.... aff... Me entristeço com isso.

Vemos dezenas de choradeiras machistas tipo \"ele me largou, minha vida não tem mais sentido\" mas agir pra ter uma vida digna é pra poucas.

Ontem vi uma frase ótima q diz: \"Faz bem pensar mais uma vez, embora concorde; é bom pensar mais uma vez, embora discorde.\" (Ditado chinês)

Hmm.... oq posso aprender da acomodação das mulheres machistas? Ainda não sei (nd além de exemplos do q não ser) mas prefiro a minha vida como ela está.


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Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Vanessa,


De novo, a identidade feminina. É absurdamente incutido no inconsciente coletivo que uma mulher só é completa e validada se houver um homem na vida dela. Pode perceber. Quantas não são as mulheres bonitas, inteligentes, bem sucedidas profissionalmente, produtivas, que alcançaram inúmeras conquistas, mas que se consideram \"incompletas\" porque não encontraram um companheiro? Ou pior, as mulheres que são vistas como fracassadas por não serem casadas, independente de todo o sucesso que tenham em outros aspectos. \"Ah, Fulana é super legal, super inteligente, tem um trabalho sensacional e é bem sucedida nele, mas coitada, é solteira.\"


Tudo gira em torno disso na vida de uma mulher, segundo os padrões culturais vigentes. Seja lá qual for a personalidade da mulher, seus objetivos, suas conquistas, tudo isso só será validado se ela tiver um homem por perto e posteriormente filhos. Todos os problemas de uma mulher solteira se resumem à falta de um homem e todos os problemas de uma mulher casada se resumem a manter o homem por perto. Todo o resto da vida dela é irrelevante ou pior, não existe.


Até mesmo o termo \"companheiro\" é mal utilizado. Na verdade, o que se espera é que uma mulher encontre o seu \"validador\" e não o seu companheiro pra valer, aquele que vem para agregar e não para tapar buraco. Eu já falei uma vez aqui sobre a diferença entre o \"completador\" e o \"complementador\". O primeiro é aquele buscado por alguém que se sente incompleto, faltando um pedaço e precisa de outro para se sentir inteiro. O segundo é o \"plus\", o algo a mais, que não é buscado, mas que surge como agregador. Na ausência do complemento ainda existe o inteiro, o completo. O que eu vejo é um monte de mulheres que se acreditam incompletas e buscam no homem seus completadores, quando deveriam fazer-se inteiras e depois encontrarem complementadores, agregadores ao invés de validadores.


Vamos deixar claro que eu não tenho nada contra os casamentos e afins. Ao contrário, tudo a favor. Mas eu não acredito em duas metades da laranja. Eu acredito em salda de frutas. Futas inteiras, completas, que se juntam para formar algo com sabor diferente, mais diversificado, mais rico. Fruas que sozinhas já são ótimas, mas que quando se juntam ficam ainda melhores. Mas nem todas as frutas combinam entre si. Algumas combinações são um tanto indigestas e nesse caso, melhor uma fruta só do que forçar a barra numa \"improvização\" que pode dar dor de estômago mais tarde.


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Frésia
No PF desde: 30/12/2009

Olha, tenho amigas que fizeram abortos, e dizem que dói muuuito!

Então, bem melhor tomar uma pílulazinha não? Ou camisinha sei lá.


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Circe
No PF desde: 17/04/2010

Carla,


Assim como tu, não acredito em duas metades da laranja. Há alguns anos, inclusive, escrevi uma crônica a respeito e que não foi bem recebida por românticas de plantão. Infelizmente, o que você disse está certo: nós só estamos completas se temos um homem ao nosso lado, pouco importa o papel que ele ocupe em nossa vida.


Vi e continuo presenciando, mulheres bem sucedidas que se envolvem com homens de caráter duvidoso simplesmente porque não querem ser as únicas solteiras em um grupo de amigas casadas. Tenho uma tia que tomei como referência para que nunca me torne daquele jeito: uniu-se a um homem que não a valoriza, que a trata como cachorro e que nunca demonstra carinho ou consideração por ela. Eles tem uma filha que ele chama de \'golpinho\', porque ela engravidou num momento em que não estava namorando. Ele usa essa expressão desprezível para se referir a filha e minha tia ri e conta aos demais. Olho a situação com tanta piedade que me sinto mal só em me colocar no lugar dela.


Ainda nesse sentido, me sinto mal quando vejo mulheres acabadas por uma relação. Se já sofri por amor? Sofri sim, curti meu luto, mas me ergui. Me ergui em poucos dias e ocupei a mente comigo, com coisas que eu queria. Ainda hoje, já morando com alguém, tenho a perspectiva de que faço as coisas por mim, porque preciso ser alguém para me sentir completa. Meu namorado é uma pessoa maravilhosa, me ajuda, me compreende, me incentiva. Aliás, essa é uma qualidade que considero inestimável num homem: me respeitar e me incentivar a crescer. Se o homem me trata como estepe, como mulherzinha, como inferior, não dura muito mesmo.


Mulheres, acordem para a vida de vocês: ninguém pode representar a vida de vocês. Se alguém me diz que sua vida não tem sentido sem outra pessoa, fico seriamente preocupada com algo que considero um transtorno sério de identidade. Sou indivíduo inteiro, sou capaz de ter minhas escolhas. Se sou através do outro, não sou, sou mero fantoche. E não digo isso com a certeza de quem não vivenciou a dor de se sentir abandonada, mas com a convicção de que sofrimentos passam e devo me reerguer a cada queda.


Um outro texto a respeito, que escrevi após algumas doses de vinho...rsrs... Só um trecho mesmo, então não dêem tanta importância.


\"Cansei! Cansei do teatrinho barato. Das conversas tolas de boteco. Do ‘tanto faz’ nos relacionamentos. Eu cansei de procurar metade de laranja. Metade coisa nenhuma! Desde quando metade de laranja é laranja inteira? Metade é metade. E ninguém é feliz quando é metade e corre atrás de outra metade que deveria ser sua. Antes de ser metade, eu preciso ser inteira. Não quero buscar o outro lado da moeda, a outra fração da circunferência perfeita. Se não sou por inteiro, quando vou achar essa tal metade? E quem disse que quero metades?


Se a gente é metade, a outra metade sempre chega faltando alguns pedacinhos pra formar a circunferência perfeita. E aí começam as brigas. Metade que não me completa é descartável. Mas eu queria alguém inteiro, ora! Eu tive metades ao longo da vida. Metades com afinidades, mas simplesmente metades. E foi esse o meu erro: ser metade e querer a outra metade pra me completar. Eu queria ser laranja inteira. E laranja inteira com metade incompleta não é laranja. É qualquer coisa que quiser ser, mas não é laranja.


De repente, sou laranja inteira. E agora? Onde andará a outra laranja inteira que queira estar comigo? Não pra ser minha. Ninguém é de ninguém, e eu também não serei.


Sensação divertida, essa: ser laranja inteira. Inebriada, experimento a doçura, o sabor de estar completa. E ali, do outro lado, alguém inteiro, que sabe ser, que quer, e que também não quer metades. Alguém continua querendo metades a essa altura do campeonato?\"