\"Ñ qremos igualdade, e sim oportunidades iguais\"

458 respostas [Último]
imagem de annebonny
annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Também acho que a solução é botar pra pensar. E acho que colocar em prática o feminismo no dia a dia é a solução mais eficiente. Olhar com olhos críticos cada ação, cada propaganda, cada música, é saber onde se reflete o machismo, porque não vemos mais o machismo escancarado como no passado, é preciso percebê-lo.


Como falaram, vemos muitas mulheres aqui no fórum querendo agradar maridos, namorados, etc, e aí se você tenta contextualizar essa ação, você acaba passando por vilão da história. Alertá-la de que se portar de tal maneira para arranjar marido é uma atitude machista é visto como errado, pois estou “me metendo” em sua vida. Ora, não condeno a ação, não condeno mudar para agradar alguém, mas não podemos ignorar que no momento em que vivemos, a partir do momento que uma mulher se coloca numa posição dessas, ela se torna vulnerável, e passar a frente comportamentos como esse, cria uma geração de mulheres vulneráveis. Esse é o resultado de ações como essa no mundo: mulheres vulneráveis. Mulheres que são vistas como sensíveis.


Sem contar que quando me oponho a certa mensagem sexista/racista/homofóbica/etc de propaganda, ou seja lá o que for, dizem que sou “politicamente correta”. Que engano... não vêem que o que os conservadores faziam é reduzir mulheres a “carne”, justamente como faz a mídia atual, discriminar negros, justamente como faz a mídia atual, abolir direitos de homossexuais, justamente como faz a mídia atual (de forma mais sutil, claro, com piadinhas e esteriótipos)...


Acham que homens e mulheres são diferentes. Mulher tem que ser feminina, homem tem que ser viril... Sexismo puro! Desenhar uma linha imaginária entre o “feminino” e “masculino” é dizer ao outro o que ser.


imagem de annebonny
annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Ah, e ODEIO quando falaram que o machismo existe só por causa das mulheres que não buscam seus direitos. É tão fácil culpar o prejudicado...


Um homem que se opõe ao machismo sai de uma \"zona de conforto imaginária\" (porque creem que o feminismo prejudica os homens, mentira pura, pois ele acaba com esteriótipos). Exemplo: um homem hetero que se recusa a apoiar revistas masculinas porque acha errado a objetificação da mulher é visto como homossexual, pois a pressão para que ele seja HOMEM DE VERDADE é muito grande.


Os HOMENS DE VERDADE que são criados veem como xingamento ser vistos como sensíveis, pois isso é característica feminina. Os HOMENS DE VERDADE acham normal chamar mulher que gosta de fazer sexo de vagabunda. Os HOMENS DE VERDADE não querem mudar a cultura, eles querem continuar na zona de conforto. Aquela em que corpos de mulheres são abusados nas propagandas de cerveja e violentados mais tarde...


imagem de annebonny
annebonny
No PF desde: 07/01/2010

*quando FALAM


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

O maior desafio das mulheres é encontrar sua identidade através de seus próprios olhos. A identidade feminina foi forjada de acordo com a visão masculina do que deveria ser uma mulher, de como ela deveria agir, pensar, e qual deveria ser o seu papel no mundo. Isso acontece desde que descemos das árvores. Em nenhum momento na história da humanidade, as mulheres tiveram autonomia para se descobrirem, para decidirem sozinhas o seu papel. Nós simplesmente não sabemos qual é a visão feminina de mundo.


E mesmo hoje, quando finalmente temos autonomia (ao menos no mundo ocidental), continuamos presas a essa visão perpetrada por milênios.Tanto é que até mesmo a nossa independência só foi possível no momento em que passamos a nos portar quase como homens. Tivemos que seguir as regras deles para termos destaque. A luta feminista, até agora, mostrou que as mulheres são tão capazes quanto os homens, que podemos fazer o mesmo que eles e tão bem quanto. Ótimo, mas ainda não mostramos como seria o mundo de acordo com os nossos valores, nossos parâmetros, nossas expectativas.


Nós não alcançaremos a tão desejada igualdade de direitos e oportunidades enquanto não nos desligarmos desse modus operandi. Enquanto não olharmos para nós mesmas e descobrirmos qual é a nossa visão de mundo, como nós queremos que as coisas caminhem, continuaremos andando em círculos. Temos que encontrar a nossa identidade coletiva e batalhar por ela. Se é para negociar com os homens, temos que trazer para mesa algo mais do meras corruptelas daquilo que eles mesmos já tem feito no decorrer da história.


De nada adianta revoltar-se com as pequenas demonstrações cotidianas de machismo, se as próprias mulheres continuam perpetuando um comportamento moldado a partir da perspectiva masculina. A publicidade trata as mulheres como carne? Sim. Mas os clubes de mulheres espalhados pelo mundo ocidental também tratam os homens como tal. Ou seja, apenas assumimos o papel deles. Nos \"vingamos\" fazendo com eles o mesmo que fazem conosco. Mas e aí, é esse tipo de mundo que as mulheres almejam?


Quando se fala em igualdade entre os gêneros, normalmente se fala em mulheres tendo a mesma liberdade que têm os homens, para o bem ou para o mal. Mas será que é só isso? Sermos livres para cometermos os mesmo erros e ainda jogarmos na cara deles que eles erraram primeiro?


Acho que a luta deveria ser por primeiramente identifica a perspectiva feminina e depois mostrar que a maneira, a visão feminina é tão boa e tão eficiente quanto a masculina, mas não é igual. Isso é igualdade de oportunidades. Não ser julgada e/ou discriminada por agir, pensar, desejar, trabalhar, planejar e construir como mulher que não depende da aprovação masculina para se exercer.


O caminho para a real igualdade ainda é longo e árduo. E ainda precisa ir mais fundo do que tem ido até agora.


imagem de annebonny
annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Carla Abbondanza,


Essa observação sobre clube de mulheres é ótima! Não quero ser homem, quero que pessoas sejam vistas como pessoas!


imagem de Caronte
Caronte
No PF desde: 03/03/2010

Bom, vou dar meus 2 cents aqui.


Eu cresci em uma família na qual as mulheres sempre trabalharam. Não apenas minha mãe, minha tia(da mesma geração), mas minha avó também trabalhava, sustentando a casa durante longo tempo(meu avô morreu quando meu pai tinha 13 anos).


Por isto esta idéia que tantas mulheres descrevem aqui, de homens que as inferiorizam, tratam mal, as vêem como servidoras, me é completamente estranha.


No entanto, é uma triste realidade que, por mais que fira meus valores, eu tenho que aceitar e fazer o que estiver ao meu alcance para mudar.


Concordo muito com a Carla quando ela diz que a mulher, mesmo hoje, possui uma visão masculina de igualdade. Uma idéia de que as mulheres precisam trilhar o mesmo caminho que os homens até alcançá-los. Mas por que não trilhar seu próprio caminho? Por que não buscar uma igualdade de um jeito feminino?


Eu acho que uma mulher não precisa vestir coturnos e cheirar como um estivador para poder falar e ser tratada como igual pelos homens. Ela precisa, isto sim, ser respeitada como mulher, com todas as suas particularidades, e vista como uma pessoa, não como um gênero.


A annebonny tem uma visão que me soa um tanto radical de igualdade, já debatemos sobre isto, não concordo, mas respeito. Acredito que buscar a igualdade de forma feminina é o melhor caminho.


Para mima a idéia de termos a mulher feminina e o homem viril não me soa sexista, desde que nenhum dos dois veja o outro como inferior. Me parece ser apenas a visão, a idéia de se construir uma igualdade respeitando as particularidades.


Concordo, no entanto, com a questão do HOMENS DE VERDADE exposta pela pirata. Até fiz um tópico satirizando esta situação uma vez. Muitas vezes o homem posa de moderno, de pra frente, mas apenas perpetra uma cultura que lhe foi incutida durante sua vida inteira. E ele nunca teve o senso crítico de questionar. Exatamente porque é confortável. É fácil ser o que pode tudo e ter sua escrava particular lhe servindo sem contestar.


O que é fácil, não desafia. Muitos homens, de todas as gerações, seguem esta cartilha ridícula porque temem o desafio de ter de lidar com uma mulher que lhe é igual. Que pensa, que fala, que expõe, que discorda, que defende sua posição.


E, não raro, utilizam-se de conceitos que podem soar arcaicos, antediluvianos até, para ratificarem sua posição de macho. Já vi homens instigarem mulheres a falarem sobre sexo, e quando elas iam na pilha e falavam, davam corda. Quando elas levantam da mesa, a observação ratificadora de sua condição de macho dominante: \"como são putas, falando de sexo\". O HOMEM DE VERDADE quer uma mulher pura e casta, de ações, de pensamentos, de palavras. Não quer uma mulher que questione ou compare. Não quer uma mulher que exija. Quer uma mulher que aceite.


Este, a meu ver, é o grande desafio. Nos livrarmos de uma cultura machista não nas questões visíveis, protegidas por lei. Mas nos detalhes, nas pequenas questões, naquilo que vemos tanto que nos passa despercebido.


imagem de Belle D´Jour
Belle D´Jour
No PF desde: 19/07/2010

Carla, perfeita sua argumentação, como diversas coisas que tenho visto vc escrever aqui. Inclusive o fato desta assimetria onde as mulheres não estão em uma relação; elas são o negativo de uma hierarquia de gêneros. Assim, tudo o que é da mulher foi edificado em função do homem, herança do patriarcado...

Até hoje as feministas discutem as possibilidades de autonomia feminina. Sim, autonomia neste sentido que vc escreve aqui: de uma esfera de ação e pensamento própria e não em função do masculino.

Contudo, a grande discussão tem sido justamente a questão da \"identidade feminina\". Coloquei isso em outro tópico. Mas é mais ou menos assim: é possível pensar em mulheres como uma categoria unificada em um mundo hoje tão segmentado pelo individualismo? Um mundo onde diferenças de classe, etnia ou raça são mais gritantes em algumas circunstancias que as de gênero? Não estou subestimando, pelo contrário, colocando em debate uma questão importante: grupos ou indivíduos? há a possibilidades de um dia as \"mulheres\" se enxergarem como uma categoria unificada o suficiente para a construção de uma consciência autônoma, feita exclusivamente através das experiências femininas_ ainda que estas historicamente sejam mediadas pelo masculino?

O problema é justamente o fato que as mulheres não encontraram-se na história e ao buscar tecer sua autonomia, se respaldam naquilo que o universo masculino já construiu. É quase a mesma coisa de um casal de homossexuais (lésbicas ou gays) que se espelham na experiencia heterossexual, de \"ativo\", passivo, butch, femme...Ou seja, como construir isso em nossos próprios termos?

Deixo a questão aberta para reflexão.

Abs


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Belle,


Sem dúvida qualquer conversa sobre o assunto passa por essa reflexão a cerca do individualismo. E por isso esse questionamento é mais do que válido.


O tema é complexo, mas eu acredito que sim, Belle, é possível que as mulheres encontrem-se numa \"categoria unificada\". Mas é preciso uma profunda quebra de paradigmas para isso. Antes de mais nada, é preciso identificar-se com seu gênero acima da identificação com sua etnia, condição social ou qualquer outro fator.


A hegemonia masculina imperante não surgiu do nada. Desde sempre os homens identificam-se em seu gênero acima de qualquer outra coisa. É dessa identificação que vem a famosa \"confraria masculina\", a unidade masculina em torno de seus interesses, que ainda assim não impede a manifestação individual. Homens ao redor do mundo sempre apoiam uns aos outros em qualquer situação em que seu GÊNERO, sua CATEGORIA seja questionada ou desafiada. As questões étnicas, sociais, políticas, econômicas e até religiosas tornam-se secundárias diante das questões de gênero.


É isso que as mulheres devem urgentemente aprender com os homens, a consicência sobre si mesmas. Precisamos \"embrace\" (desculpem, não encontrei o termo em português) nossa condição de mulher, nossas particularidades e acima de tudo valorizá-las antes de qualquer outro fator. Temos que nos comprometer profundamente conosco e com nossa \"classe\".


Não é nenhuma novidade, há décadas que muito se fala da desunião das mulheres, da rivalidade entre nós. Pois bem, o que nos falta é algo que, paradoxalmente, sabemos fazer muito bem: empatizar. Nossa sensibilidade já comprovou o quanto podemos ser empáticas. Não é à toa que falamos muito, dividimos problemas, aconselhamos, ajudamos sempre. Mas precisamos dessa empatia para com nosso gênero, mais do que para com nossas amigas. Temos que ser leais para com a classe feminina.


Derrubar a hostilidade \"natural\" (entre aspas porque isso é infinitamente questionável) de mulheres contra mulheres talvez seja o primeiro e mais difícil passo para uma unificação construtiva.


imagem de Belle D´Jour
Belle D´Jour
No PF desde: 19/07/2010

Ihhh Carla, esta é uma discussão pra lá de complexa, né?

Porque hoje, o próprio conceito de gênero está sendo questionado. O que faz o gênero? É a sexualidade, o sexo anatômico, as práticas sexuais, a performance cultural? ou é conjunto disso tudo?

Se for a sexualidade, lésbicas não podem (como muitas não se consideram) ser consideradas \"mulheres\". Se for o sexo anatômico,o que dizer das pessoas que não se identificam com seu \"sexo\", como os transgeneros?

Se for as práticas sexuais, elas se referem ao feminino ou ao masculino?

Recentemente vi um documentário, onde havia um casal onde um era homem e outro transgenero homem para mulher...Eles estavam há anos juntos. Mas o \"homem\" também estava modificando sua aparencia para se tornar mulher e em breve iria fazer a cirurgia de mudança de sexo. Por isso, el@s já sabiam que iriam se separar...Pq a transgender não curtia pessoas com a aparência feminina.

É por isso que as políticas de identidade não sabem mais onde aportar neste universo meio pós-moderno...rs. Em que categoria se agarrar para não perder a consistência política. Pois para haver movimento é preciso antes de tudo unificar-se como categoria...

Afinal, que categoria é estável a ponto de se unificar?

é um debate muito complicado...


imagem de Carla Abbondanza
Carla Abbondanza
No PF desde: 22/06/2010

Belle,


De todas as supostas características apra se \"determinar\" o gênero, acho que as únicas que realmente teriam força para sustentar uma unificação seriam a identificação emocional e intelectual. Se o indivíduo pensa e/ou sente como mulher, então é mulher. Se o indivíduo pensa e/ou sente como homem, então é homem. Isso facilita? Nem um pouco, porque é necessário justamente identificar esse pensar/sentir. Aqui vem as perguntas mais cabeludas: o que é pensar como homem? O que é pensar como mulher? E os homossexuais (de ambos os gêneros), devem pensar como quem? Acho que é aqui que a individualidade, de novo paradoxalmente, vai ter que falar mais alto e a pessoa vai se aliar ao lado com o qual mais se identificar.


E aí surge outro problema: a polarização. Homens de um lado, devidamente acompanhados de quem se identifica com seu modo, e mulheres de outro, também acompanhadas dos \"simpatizantes\". E isso daria uma dor de cabeça justamente por causa dos outros grupos que não se considerariam inseridos em nenhum dos \"partidos\". Talvez uma saída sejam várias categorias, vai saber. Pano pra manga, amiga...rsrsrs.


No final das contas, por mais que seja decepcionante e frustrante confirmar isso, acho quea única categoria estável o suficiente para manter-se unida é justamente a dos homens. Não é à toa que estamos aqui conjecturando formas para enfrentar essa hegemonia. E repito, essa estabilidade é o que de mais importante temos a aprender com eles, sejamos mulheres, gays, lésbicas ou qualquer outro \"gênero\".