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O backlash silencioso
Há alguns anos atrás Susan Faludi lançou o livro \"Backllash\" que falava sobre como havia um certo concluio entre a mídia, os grandes centros de pesquisa, a medicina barrando as conquistas femininas. Isso não é novo. Foucault véio de guerra, já preconizou um pouco disso na Historia da Sexualidade, ao afirmar que o poder incide marcadamente sobre alguns objetos específicos: o corpo feminino e as crianças.
Bem, escrevo isso, para introduzir uma questão aqui. Hoje de manhã, recebi um email de uma amiga sobre uma \"pesquisa\" (surreal, por sinal) de um educador que dizia que criança até os 3 anos jamais poderia ser posta numa creche...
Eis a pérola científica:
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI58937-15228,00.html
Segue aqui, a resposta que enviei para minha amiga que sintetiza bem o que penso sobre isso...
Amiga, sei que vc mandou na maior boa vontade do mundo, mas sobre o artigo e a \"pesquisa\" em si só posso dizer uma coisa: acho totalmente dispensável e fora da realidade (quase ficcional). Dispensável pela misoginia evidente do discurso. Porque já não basta séculos e séculos de repressão sofrida por nós mulheres, agora somos policiadas por uma nova intelligentsia formada de médicos, educadores, formadores de opinião, mídia...que nos dizem a todo momento o que é e como deve ser uma \"boa mãe\". Assim, seguimos cada vez mais culpadas ou porque não tivemos parto normal humanizado debaixo da arvore, ou porque não amamentamos da forma como nos mandam fazer, ou porque temos que trabalhar...Seguimos culpadas e cada vez mais reprimidas e receiosas de atuar como sujeitos no mundo: sujeitos de vontade e ação; pessoas que sabem o que querem e que se calam ao invés ter a coragem de dizer que gravidez não é tudo isso, amamentação nem sempre é um ato que promove prazer, mas muita dor, enfim e que como seres humanos, precisamos e queremos trabalhar (que cuidar só de filhos é uma chatice!).
Séculos e séculos para algumas conquistas femininas, agora temos um backlash sem precedentes que silenciosamente busca jogar tudo o que foi feito no lixo!
Segundo, a \"pesquisa\" é fora da realidade nem preciso dizer o porque, né? Que mãe, em que país consegue hoje criar seus filhos até os 3 anos em casa? Além das contingências materiais, em que pese o fato de vivermos no mundo capitalista, já faz um certo tempo que não somos criadas e sequer sonhamos em só cuidar de filhos. Temos hoje consciencia que somos sujeitos de nossa própria história e não apenas fêmeas reprodutoras.
Bom é isso. desculpe o desabafo, mas tive que responder o email, rs.
E vcs o que acham? Há uma \"polícia\" sobre as mulheres nos fazendo sentir mais culpadas ou é paranóia minha?
Belle,
esses dias estava \"fuçando\" na internet, lendo trechos de artigos diversos, quando achei para download \"O Mito da Beleza\". Comecei a ler. Sei que não são coisas novas, mas eu pessoalmente estou começando a ter contato com essas idéias agora.
Algo me chamou muita atenção: em algum lugar descrevia-se como era importante, de diversas formas, perpetuar a idéia de que essa discriminação por gênero é uma alucinação, algo que está apenas \"na cabeça\", ou ainda que é uma patética teoria da conspiração.
Identifiquei-me e lembrei até de um tópico que tivemos aqui há um tempo, em que se expunha o caráter pejorativo que o termo \"feminismo\" foi ganhando em nosso incosnciente.
Quando o \"inimigo\" não é palpável, não há porque lutar. É mais ou menos como aquelas pessoas que têm uma patologia rara e passam de médico em médico tentando desvendar o que têm sem sucesso, sofrendo duplamente por um mal que as assola mas que, ao mesmo tempo, não sabem o que é - e começam a questionar SE realmente é ou se é só paranóia.
Daí me dei conta da importância desse tipo de discussão aqui, e desse tipo de exemplo que trazes, pois somente identificando esse tipo de situação poderemos desfazer essas amarras invisíveis.
Eu acho que existe uma \"polícia\", sim. Ela é velada, é sutil, mas ataca querendo dirigir nossas pequenas atitudes, nosso comportamento, fazendo-nos sentir culpa se \"saímos demais do nosso lugar\".
\"\"\"E vcs o que acham? Há uma \"polícia\" sobre as mulheres nos fazendo sentir mais culpadas ou é paranóia minha?\"\"\"
{ s i l ê n c i o }
Belle querida;
De tempos em tempos sempra se destaca uma aresta mais aguda de oposição a qualquer comportamento conquistado ou sedimentado por determinado genêro humano; sejam mulheres, seja gays, sejam um determinado tipo de profissional, de crentes de algum dogma religioso e por aí vai.
Esse \"professor\" é apenas mais um deles, criando uma tese polêmica contra a socialização de crianças pequenas entre seus pares. Mas até que ponto a creche impede o desenvolvimento afetivo dos pequenos? Não vejo nada de concreto nisso, a teoria apenas flerta com princípios de \"justiça social\" e dos \"males da industrialização\" para explicar uma inerente agressividade que pode aflorar com o convívio mútuo entre as crianças. Mas, na prática, eu vejo crianças brincando, sorridentes, ansiosas para frequentar um lugar em comum, e se desenvolver estabelecendo os primeiros princípios e regras sociais que levarão pela vida toda.
Como muito bem escreveu (que novidade!), parece que o sujeito esquece da condição feminina, de algo mais além do que uma reprodutora, vaca zelosa - desconte os exageros - que lambe a sua cria até os três anos ou mais.
Mas quem disse que a creche substitui o amor materno? Uma mulher \"sabotada\" em seus objetivos profissionais, de mulher, de pessoa que precisa se divertir, socializar...será sempre uma mãe abnegada e desditosa?
É apenas mais um vento passageiro, como homem, e como pai...lhe digo, nada vejo contra as creches; e esses policiais do comportamento feminino, sempre existirão em diferentes níveis de influência e capacidade de polêmica.
Olha o pequeno paradoxo Belle, em relação aos partos:
Parto natural é bom e tudo segundo os \"mudernetes cabeça verde\" de plantão....tudo legal, em meio a mata nativa, com a fauna local dando graças ao novo rebento nascido \"naturalmente\" (só falta o Bambi e sua mãe em respeitosa visita)...e as novelas da vênus platinada mostrando os partos como verdadeira tortura medieval; gritos horrendos, deformadas de tanta dor, verdadeira prova de \"no limite\" ao cubo heheheh...
Quem está certo? quem está errado?
E vcs o que acham? Há uma \"polícia\" sobre as mulheres nos fazendo sentir mais culpadas ou é paranóia minha?
Eu acho que este cidadão é um excelente exemplo exatamente desta \"polícia\".
Porque a pesquisa dele não é voltada para a \"realidade possível\", ou seja, a mãe trabalhar fora é inevitável, e ficar com o filho até que ele complete 3 anos, irrealizável.
Ele poderia, perfeitamente, analisar como é a relação da mãe com o filho nos horários que ele tem para estar juntos. Numa situação moderna, em que a mãe não tem o dia todo para ficar com as crianças, porque tem que trabalhar.
Mas ele prefere dizer que a mãe que trabalha é uma má mãe, e que a solução para isto é o retorno aos anos 40 do século XX e antes. E nem precisa afirmar textualmente para sabermos qual é a solução que ele apresenta.
Não vejo uma teoria da conspiração, vejo sim o velho e mau machismo repressor, apenas se travestindo, se disfaraçando, mas tendo sempre o mesmo intuito.
lá pelo 8o mes não vejo a hora do moleque nascer bem e saudável, INDEPENDENTE da forma como ele venha ao mundo. Amamentar dói pra caramba e quem amamenta muito tempo, tem que sentir os dentes da criança no bico do seio
Ah... que bom que não sou a única que não viu nada de mágico em amamentar.
Minha filha deve ter sentido minha falta, é claro que sim! Até os 3 anos eles são bebês. Mas aí, tem o outro lado. Há uma menina com a mesma idade da minha, que entrou na escola com 3 anos e meio, ficava só com a mãe que não trabalha. A menina trocou umas duas vezes de escola, é agressiva, não gosta de outras crianças da mesma idade, e dizia tudo o que queria e não queria.
Acredito que a escolinha socializa, prepara desde cedo a criança para o fato de que o mundo e os adultos não são só dela e os pais, para o fato de que os filhos não criamos para nós e sim para o mundo.
eu sou a favor do tempo de qualidade e não da quantidade...
uma mãe que fica o dia inteiro com filho, socada dentro de casa será mais amável e cuidadosa que uma mulher que trabalha e é mais feliz e realizada profissionalmente?
Belle acho que por muitos anos ainda existirá, esta pressão em cima da mulher...
afinal, muitos destes psicólogos e cientistas, ainda são da era \'antiga\'...
o formato de família para eles era outro...
mas estamos progredindo...