8 de março - Dispenso esta rosa

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annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Texto bem legal (e um pouco longo hehe :)) sobre as famosas rosas que nos oferecem no Dia Internacional da Mulher. Leiam e percebam o quão injusta a sociedade é com as mulheres.


Dia 8 de março seria um dia como qualquer outro, não fosse pela rosa e os parabéns. Toda mulher sabe como é. Ao chegar ao trabalho e dar bom dia aos colegas, algum deles vai soltar: ”parabéns”.

Por alguns segundos, a gente tenta entender por que raios estamos recebendo parabéns se não é nosso aniversário (exceção, claro, à minoria que, de fato, faz aniversário neste dia). Depois de ficar com cara de bestas, num estalo a gente se lembra da data, dá um sorriso amarelo e responde “obrigada”, pensando: “mas por que eu deveria receber parabéns por ser mulher?”.

Mais tarde, chega um funcionário distribuindo rosas. Novamente, sorriso amarelo e obrigada. É assim todos os anos. Quando não é no trabalho, é em alguma loja. Quando não é numa loja, é no supermercado. Todos os anos, todo 8 de março: é sempre a maldita rosa.

Dizem que a rosa simboliza a “feminilidade”, a delicadeza. É a mesma metáfora que usam para coibir nossa sexualidade — da supervalorização da virgindidade é que saiu o verbo “deflorar” (como se o homem, ao romper o hímen de uma mulher, arrancasse a flor do solo, tomando-a para si e condenando-a – afinal, depois de arrancada da terra, a flor está fadada à morte). É da metáfora da flor, portanto, que vem a idéia de que mulheres sexualmente ativas são “putas”, inferiores, menos respeitáveis.

A delicadeza da flor também é sua fraqueza. Qualquer movimento mais brusco lhe arranca as pétalas. Dizem o mesmo de nós: que somos o “sexo frágil” e que, por isso, devemos ser protegidas. Mas protegidas do quê? De quem? A julgar pelo número de estupros, precisamos de proteção contra os homens. Ah, mas os homens que estupram são psicopatas, dizem. São loucos. Não é com estes homens que nós namoramos e casamos, não é a eles que confiamos a tarefa de nos proteger. Mas, bem, segundo pesquisa Ibope/Instituto Patricia Galvão, 51% dos brasileiros dizem conhecer alguma mulher que é agredida por seu parceiro. No resto do mundo, em 40 a 70 por cento dos assassinatos de mulheres, o autor é o próprio marido ou companheiro.Este tipo de crime também aparece com frequência na mídia. No entanto, são tratados como crimes “passionais” – o que dá a errônea impressão de que homens e mulheres os cometem com a mesma frequência, já que a paixão é algo que acomete ambos os sexos. Tratam os homens autores destes crimes como “românticos” exagerados, príncipes encantados que foram longe demais. No entanto, são as mulheres as neuróticas nos filmes e novelas. São elas que “amam demais”, não os homens.

Mas a rosa também tem espinhos, o que a torna ainda mais simbólica dos mitos que o patriarcado atribuiu às mulheres. Somos ardilosas, traiçoeiras, manipuladoras, castradoras. Nós é que fomos nos meter com a serpente e tiramos o pobre Adão do paraíso (como se Eva lhe tivesse enfiado a maçã goela abaixo, como se ele não a tivesse comido de livre e espontânea vontade). Várias culturas têm a lenda da [******] dentata. Em Hollywood, as mulheres usam a “sedução” para prejudicar os homens e conseguir o que querem. Nos intervalos do canal Sony, os machos são de “respeito” e as mulheres têm “mentes perigosas”. A mensagem subliminar é: “cuidado, meninos, as mulheres são o capeta disfarçado”. E, foi com medo do capeta que a sociedade, ao longo dos séculos, prendeu as mulheres dentro de casa. Como se isso não fosse suficiente, limitaram seus movimentos com espartilhos, sapatos minúsculos (na China), saltos altos. Impediram-na que estudasse, que trabalhasse, que tivesse vida própria. Ela era uma propriedade do pai, depois do marido. Tinha sempre de estar sob a tutela de alguém, senão sua “mente perigosa” causaria coisas terríveis.

Mas dizem que a rosa serve para mostrar que, hoje, nos valorizam. Hoje, sim. Vivemos num mundo “pós-feminista” afinal. Todas essas discriminações acabaram! As mulheres votam e trabalham! Não há mais nada para conquistar! Será mesmo? Nos últimos anos, as diferenças salariais entre homens e mulheres (que seguem as mesmas profissões) têm crescido no Brasil, em vez de diminuir. Nos centros urbanos, onde a estrutura ocupacional é mais complexa, a disparidade tende a ser pior. Considerando que recebo menos para desempenhar o mesmo serviço, não parece irônico que o meu colega de trabalho me dê os parabéns por ser mulher?

Dizem que a rosa é um sinal de reconhecimento das nossas capacidades. Mas, no ranking de igualdade política do Fórum Econômico Mundial de 2008, o Brasil está em 10oº lugar entre 130 países. As mulheres têm 11% dos cargos ministeriais e 9% dos assentos no Congresso — onde, das 513 cadeiras, apenas 46 são ocupadas por elas. Do total de prefeitos eleitos no ano passado, apenas 9,08% são mulheres. E nós somos 52% da população.

A rosa também simboliza beleza. Ah, o sexo belo. Mas é só passar em frente a uma banca de revistas para descobrir que é exatamente o contrário. Você nunca está bonita o suficiente, bobinha. Não pode ser feliz enquanto não emagrecer. Não pode envelhecer. Não pode ter celulite (embora até bebês tenham furinhos na bunda). Você só terá valor quando for igual a uma modelo de 18 anos (as modelos têm 17 ou 18 anos até quando a propaganda é de creme rejuvenescedor…). Mas mesmo ela não é perfeita: tem de ser photoshopada. Sua pele é alterada a ponto de parecer de plástico: ela não tem espinhas nem estrias nem olheiras nem cicatrizes nem hematomas, nenhuma dessas coisas que a gente tem quando vive. Ela sorri, mas não tem linhas ao lado da boca. Faz cara de brava, mas sua testa não se franze. É magérrima (às vezes, anoréxica), mas não tem nenhum osso saltando. É a beleza impossível, mas você deve persegui-la mesmo assim, se quiser ser “feminina”. Porque, sim, feminilidade é isso: é “se cuidar”. Você não pode relaxar. Não pode se abandonar (em inglês, a expressão usada é exatamente esta: “let yourself go”). Usar uma [**rr*]da de cosméticos e fazer plásticas é a maneira (a única maneira, segundo os publicitários) de mostrar a si mesma e aos outros que você se ama. “Você se ama? Então corrija-se”. Por mais contraditória que pareça, é esta a mensagem.

Todo dia 8 de março, nos dão uma rosa como sinal de respeito. No entanto, a misoginia está em toda parte. Os anúncios e ensaios de moda glamurizam a violência contra a mulher. Nas propagandas de cerveja e programas humorísticos, as mulheres são bundas ambulantes, meros objetos sexuais. A pornografia mainstream (feita pela Hollywood pornô, uma indústira multibilionária) tem cada vez mais cenas de violência, estupro e simulação de atos sexuais feitos contra a vontade da mulher. Nos videogames, ganha pontos quem atropelar prostitutas.

Todo dia 8 de março, volto para casa e vejo um monte de mulheres com rosas vermelhas na mão, no metrô. É um sinal de cavalheirismo, dizem. Mas, no mesmo metrô, muitas mulheres são encoxadas todos os dias. Tanto que o Rio criou um vagão exclusivo para as mulheres, para que elas fujam de quem as assedia. Pois é, eles não punem os responsáveis. Acham difícil. Preferem isolar as vítimas. Enquanto não combatermos a idéia de que as mulheres que andam sozinhas por aí são “convidativas”, propriedade pública, isso nunca vai deixar de existir. Enquanto acharem que cantar uma mulher na rua é elogio , isso nunca vai deixar de existir. Atualmente, a propaganda da NET mostra um pinguim (?) dizendo “ê lá em casa” para uma enfermeira. Em outro comercial, o russo garoto-propaganda puxa três mulheres para perto de si, para que os telespectadores entendam que o “combo” da NET engloba três serviços. Aparentemente, temos de rir disso. Aparentemente, isso ajuda a vender TV por assinatura. Muito provavelmente, os publicitários criadores desta peça não sabem o que é andar pela rua sem ser interrompida por um completo desconhecido ameaçando “chupá-la todinha”.

Então, dá licença, mas eu dispenso esta rosa. Não preciso dela. Não a aceito. Não me sinto elogiada com ela. Não quero rosas. Eu quero igualdade de salários, mais representação política, mais respeito, menos violência e menos amarras. Eu quero, de fato, ser igual na sociedade. Eu quero, de fato, caminhar em direção a um mundo em que o feminismo não seja mais necessário.

…Enquanto isso não acontecer, meu querido, enfia esta rosa no dignissímo senhor seu [**].


Por Marjorie Rodrigues.


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Eisbrecher
No PF desde: 15/12/2009

Nunca ví tanta mágoa e recalque como o dessa coitada que escreveu o texto...Meu deus...

Só uma perguntinha, pra pensar:

-Até qdo fomentaremos a \"Guerra dos Sexos\", admitindo comentários raivosos como este?

Não nego o que há ainda de errado, mas acredito que nem tudo que já foi feito em prol das mulheres é \"viciado\" ou contém \"mensagens subliminares\" pejorativas do universo feminino.

Abç


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Debo
No PF desde: 07/01/2010

essa nao é uma data comemorativa, ao contrario é uma data para relembrarmos que mulheres morreram queimadas ao tentar chamar atenção para os seus direito... e ainda temos mto o que lutar por isso....


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annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Caro Eisbrecher, não sei se tu entendeu, mas esse texto É CONTRA A GUERRA DOS SEXOS. Ela é uma invenção do patriarcado, justamente o que somos contra.


E não é mágoa e recalque, não. É sentimento de asco à atos machistas que homens e mulheres estão fadados.


Experimenta analisar propagandas e atos ditos como normais pra você ver o machismo sutil.


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annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Sem contar que quando uma mulher se revolta contra supostos padrões, ela é recalcada. Triste isso. Enquando homens não se moverem contra isso, infelizmente será complicadíssimo.


Mulheres não devem querer direito e sim mudança. Mudança no que supostamente é feminino ou masculino. Homens e mulheres são sim diferentes fisicamente, mas não a ponto do que colocam na mídia, como se pensamentos e comportamentos fossem \"naturalmente\" opostos.


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nunu
No PF desde: 28/06/2009

Mulheres


Hoje `e o nosso dia, e com muito carinho dedico este versinho pra todas voces.


PARABENS MULHER !!!

Não pelo oito de marco,

nem pelo beijo e pelo abraço,

nem pelo cheiro e pelo amaço.

Mas por ser o que és...

Humus da humanidade,

Raiz da sensibilidade,

Tronco da multiplicidade,

Folhas da serenidade,

Flores da fertilidade,

Frutos da eternidade...

Essencia da natureza humana.


Parabéns...


Beijao e feliz dia da Mulher!!!


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Eisbrecher
No PF desde: 15/12/2009

annebonny,

Se o texto não fomenta a guerra dos sexos, rasgo o meu diploma de graduação...

Apenas como exemplo, dentre vários aspectos do texto:

-A mulher se insurgir contra as \"invenção do patriarcado\" não é demonstrar raiva/indignação contra o sexo oposto (ou por quem este último influencia)?

Aliás, o problema não é o machismo ou o feminismo, é perder tempo com estas discussões que atrasa a sociedade.

Se cada um fizer o seu, estudar, trabalhar, transar, procriar... duvido que terá tempo de ver que \"o gramado do vizinho é mais verde que o meu\".

Se a recalcada que escreveu o texto ocupasse a cabeça com coisas edificantes para a vida dela, certamente não estaria \'destilando o veneno da discórdia\" para quem quiser ouvir... Mas entendo, pessoas frustradas (pelos seus próprios deméritos, homem ou mulher) agem dessa forma.


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nunu
No PF desde: 28/06/2009

os meninos nem nos parabenizaram, possas!!!


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annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Caro Eisbrecher, diploma não é garantia de \"sabedoria\" para interpretar todos os textos.


A guerra contra o patriarcado não é guerra contra o sexo masculino e sim contra a forma de poder que lhes dão e suas consequencias.


Como sempre foi na história querem que nós façamos as coisas sem que nos questionemos. O direito das mulheres está como está porque algumas foram contra a maré, como a autora do texto (que obviamente faz mais pelas mulheres do que escrever).


Infelizmente você acha que se \"cada um fizer o seu\" vai ficar bom, eu não penso dessa maneira, assim como todas as mulheres e homens que querem mudança.


O que atrasa a sociedade é pensar que não podemos mudar nada, que está ótimo como estamos, como você pensa.


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annebonny
No PF desde: 07/01/2010

Ah e FEMINISMO NÃO É FEMISMO, fica a dica. Você colocou o machismo como equivalente ao \"feminismo das mulheres\".


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precisofalar
No PF desde: 28/04/2008

Ai, ai, ai...

Amigos... brigas no dia da mulher?

Na boa... É data comemorativa, muito se conquistou e muito ainda se conquistará em relação à igualdade de sexos...

Gênero é linha de pesquisa de vários estudiosos e um amplo caminho para pesquisar sobre mitos, símbolos, signos, condutas, palavras, atitudes que fizeram e fazem história.

Vale sim um bom debate sobre o tema... Mas não é necessário partir p/ ofensa pessoal...

Beijos e um lindo dia a todas nós...

Com ou sem flores.