DESCONTRUIR O MITO DA MATERNIDADE PARA CONSTRUIR DE OUTRO JEITO....

38 respostas [Último]
imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

a entrevista com a Márcia Tiburi é um pouco longa para postar aqui na íntegra, e tem alguns assuntos que talvez eu abre outros tópicos para conversarmos separadamente...

vou quotando algumas partes sobre o Mito da maternidade e a cobrança de toda a sociedade que a mulher precisa ser uma boa mãe, mesmo que ela não tenha realmente desejado a maternidade ou não possua instinto maternal...


Quote:
A maternidade é um mito? Sim, podemos dizer que em alguns aspectos, a maternidade é um mito. Mas o é, sobretudo, por ser uma peculiar condição política. Uma condição em que a figura denominada mãe ocupa um lugar especial em um contexto social. Só que este lugar guarda uma contradição, mais ainda, guarda um paradoxo. Aquele que implica que a maternidade é a política da dominação das mulheres por meio de seu culto.

De um lado, temos o posicionamento da mãe como a “rainha” do lar.

De outro, ela é uma espécie de escrava.


As de antigamente, quando não eram ricas, deviam cuidar da casa e dos filhos, as de hoje tem tripla ou quádrupla jornada de trabalho. Sem falar no fato de que a mãe é sempre a culpada de tudo o que ocorre ao filho. Se um filho tiver sucesso na vida, dificilmente lembrarão da mãe. Se um filho cair no crime ou tiver qualquer outro tipo de problema, a culpa será da mãe.

O que temos que nos perguntar é o que esta figura denominada mãe ganha aceitando a mística da “rainha” do lar?

Penso que as mães são eleitas (e elas caem nisso tão facilmente) para um lugar que é de bode expiatório, sagradas e profanadas ao mesmo tempo. Tudo o que é sagrado pode ser sacrificado. É isso o que acontece com as mães. Elas caem facilmente nesta armadilha do lugar especial, quando na verdade, são as eleitas para um grande sacrifício. Vivem num limbo, num estranho estado de exceção, adoradas desde que façam tudo certinho, execradas desde que cometam qualquer tipo de “erro” em relação ao que se esperava delas, que não correspondam ao padrão, à regra, à verdadeira ordem que é a maternidade.

A maternidade pode ser muito bacana, mas é muito mais fácil que seja para as mulheres uma tirania que não deixa para elas outras escolhas e possibilidades. Não desejo a maternidade para ninguém que não conheça suas armadilhas. E quase ninguém conhece essas armadilhas. Quem quiser ser mãe precisa começar combatendo o mito da maternidade.


http://filosofiacinza.com/2012/12/08/sobre-a-maternidade-entrevista/


imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

Quote:
Ninguém cria um filho sozinho. Antigamente haviam amas de leite. Hoje quem pode pagar tem uma babá, um berçário, creche ou escolinha onde deixar o filho.

Cuidar o tempo todo de uma criança pode ser um inferno para uma pessoa que não tenha muito desejo de fazer isso. Aliás, as pessoas chamam de “mãe desnaturada” aquela mulher que pariu um filho e não conseguiu desejar a maternidade. Como se a maternidade (na espécie humana) fosse simplesmente algo natural e não um dado da cultura.

Verdade é que podemos falar de maternidade como uma condição subjetiva. Mãe seria aquela pessoa que teria a capacidade de cuidar de um outro. Acontece que o fato de ser mulher e de ter parido um bebê não é a condição para a maternidade se a penarmos nestes termos. Nem todo mundo consegue isso, nem todo mundo gosta disso. Este fato deve ser respeitado. As mulheres bem que poderiam se libertar desse peso.

Parir um bebê é uma coisa, ser mãe de uma pessoa é outra. A meu ver, ninguém deveria sentir-se obrigada a ser mãe nem depois que a pessoa nascesse. Inclusive, digo isso pensando que você pode ser alguém legal com a pessoa que nasceu de você, sem precisar encaixar-se no estereótipo da boa mãe. Além disso, esse pensamento melhoraria a questão da adoção entre nós. Do mesmo modo, aquelas pessoas que perguntam “quando você terá um filho?” deveriam calar. Esta pergunta é performática, ela surge como uma cobrança e cria uma dívida. “Toma que o filho é teu” é algo que as mulheres deveriam dizer a qualquer um que as colocasse nessa situação em uma sociedade que mistifica a maternidade, pressiona as mulheres para que sejam mães e ao mesmo tempo proíbe o aborto.


imagem de Nary
Nary
No PF desde: 20/08/2008

Interessante....


imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

Quote:
Por que o peso pela criação e educação dos filhos recai tão diretamente sobre a mulher?

"Como eu disse, porque as mulheres são eleitas para este papel da procriação que é um papel questionável do ponto de vista dos valores políticos. Você acha que as mulheres teriam tantos filhos se pudessem não ter? Muitas não teriam nenhum. É verdade que outras teriam por motivos muito próprios.


Quote:
Uma mulher até pode vir a gostar do filho depois do parto, mas não quer dizer que tenha gostado de pari-lo ou que tenha se encantado com sua condição de bebê. Não podemos mais naturalizar isso.

Naturalizar é mistificar.


Pois a condição da mulher que pariu sofre muitas mediações. Ela descobre que a coisa de cuidar lhe interessa ou não, que ela tem condições ou não. Na verdade, o termo exato não é bem esse. Não se trata exatamente de descobrir isso ou aquilo, porque isso não vem à consciência. Muitas mulheres ficam se culpando porque não levam jeito para a maternidade."


imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

Quote:
Tenho a impressão de que a maioria das mães quer falar de maternidade no âmbito funcional, sobre partos, amamentação, chupetas, o como fazer e o o quê fazer. Estamos na superfície das questões sobre um relacionamento (mães e filhos) que requer uma reflexão mais política (não num sentido partidário) e sociológica? Por que ficamos tão neuróticas procurando respostas sobre COMO AGIR ao invés de pensar na maternidade em si?

"É que para a maior parte das mulheres o filho é um brinquedo e elas estão brincando de casinha.

Um dia recebi uma visita em minha casa. A moça disse que queria engravidar porque estava querendo decorar um quarto de bebê e se preocupava com quem cuidaria dela quando fosse velha. Eu, sem querer ser grosseria perguntei a ela se ela tinha certeza de que seu filho cuidaria dela quando ela envelhecesse… hoje eu diria: quem garante que vamos envelhecer?

Recomendo a todos que tratam os filhos como brinquedos ou coisas leiam o livro de Julio Cabrera: “Por que te amo não nascerás”. Um livro sobre a manipulação da procriação e a falta de ética com aqueles que vão nascer."


imagem de _Ana_
_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

lendo o texto logo me veio à mente:

uma pergunta que devemos nos fazer ao reclamar de mães desnaturadas, será que realmente ela queria ter filhos?

ou isso foi imposto à ela?

ela é realmente uma MÃE ou simplesmente teve filhos?

cobram dos pais desnaturados o mesmo amor/cuidado/apego aos filhos?


imagem de Ro Samy
Ro Samy
Offline
No PF desde: 24/11/2012

Vou falar a respeito de minha história com minha mãe.

Minha mãe teve um filho aos 19 anos (meu irmão) em uma época que ela queria curtir a vida, se achava adulta e nunca quis escutar os conselhos de minha avó, para que fosse mais responsável.

Quando este meu irmão tinha 6 meses, ela arrumou outro namorado e engravidou novamente...nasci deste breve namoro, nunca vi meu pai.

Passei uma infância triste, rejeitada, criada pela avó, enquanto minha mãe curtia a vida, os namorados e engravidava de novo.

As vezes ela aparecia e dessa época eu me lembro das belas surras que levei.

Aos 9 anos ela me buscou, precisava de uma criada, para limpar sua casa e cuidar de seus outros filhos.

Vou dizer o que penso a respeito do texto, e talvez a minha história me impeça de ser imparcial: repugnante.

Eu não pedi pra nascer. Eu sou fruto de uma escolha.

Tirando poucas pessoas, a maioria das mulheres sabe muito bem "de onde vem os bebês" e no momento que vc se deita com um homem e não se previne, está sujeita a engravidar. E se engravidar, é uma consequência da escolha de um homem e uma mulher.

Não queria ter filhos? Prevenisse.


Não consigo olhar para mães desnaturadas como vítimas, ou coitadas. Vejo-as apenas como egoístas. Como pessoas que não olham de frente para os caminhos que elas próprias escolheram.

Parir um ser humano não é comprar um brinquedo ou adotar um cachorro, poxa vc está colocando "alguém" nesse mundo! E o senso de responsabilidade vai onde?

Se não tem instinto maternal, que ao menos se tenha responsabilidade e consciência do ato de trazer um inocente ao mundo e enxergar o que ele precisa.

Não creio em estereótipos "boa mãe".

Acredito é em "ser mulher" e honrar seus compromissos. E quando se coloca uma criança no mundo, ao meu ver, vc tem sim um compromisso com ela, pois é um ser humano que depende de cuidados e veio ao mundo por escolha sua.


D@ny
No PF desde: 16/08/2011

Quote:
Acredito é em "ser mulher" e honrar seus compromissos. E quando se coloca uma criança no mundo, ao meu ver, vc tem sim um compromisso com ela, pois é um ser humano que depende de cuidados e veio ao mundo por escolha sua.


Falou tudo Ro.


imagem de Ro Samy
Ro Samy
Offline
No PF desde: 24/11/2012

E penso o mesmo em relação aos pais.


imagem de kvet
kvet
No PF desde: 05/06/2010

Eu até admito que muito antigamente as mulheres não tinham outro papel a não ser casar e ter filhos. Ou viravam as tias solteironas que pareciam mais um estorvo para o restante da família que um parente.


Hoje em dia ser mãe é escolha. Concordo com a Ro, não quer ter filho, não tem "saco" para cuidar, amar e educar?? PREVINA-SE. Qual a dificuldade de tomar um comprimidinho todos os dias e/ou usar camisinha nas relações? Algumas vezes quando vejo alguém dizendo que engravidou e não esperava me dá sempre vontade de perguntar: e não se cuidou pq anta?!

Ok, a pílula falha. A porcentagem é 1% de falha se tomar direitinho. Vai se catar que pílula falha. Falha com esse monte de irresponsáveis que ficam grávidas todos os dias sem querer? Me conta outra, essa comigo não cola.


Falam tanto em pressão para ter filhos nos dias de hoje. Sinceramente, não tenho filhos e não sofro mais essa pressão há muito tempo. O mundo vem mudando, então essa desculpa da "pressão para ter filho" não acredito mais. Sofro muito mais pressão por não ter casado do que por não ter tido um filho.

Ter um companheiro ainda é muito mais importante hoje do que parir.


Mulheres, por favor: não sabem ao certo se querem ter um filho? É pq vcs não querem, pelo menos não neste momento e não cedam a pressão da sociedade, da família ou do marido. Quem será mãe 24h por dia o resto da vida será você, não será a sociedade, não será sua família e nem seu companheiro.

Esperem ter certeza. E se ela nunca chegar, não tenham. Não era para ser. Acredite, vocês e os seus ex futuros filhos agradecerão.


imagem de fiorella
fiorella
No PF desde: 28/03/2011

Concordo com o texto em alguns aspectos: realmente, há um mito sobre a maternidade. Algumas mulheres fantasiam de que, ao verem seus filhos, vão ser tomadas de um amor incondicional e inexplicável. Acho que ainda há um longo caminho para desmistificar isso, mas hoje já não é novidade que maternidade requer, sim, renúncia.


Portanto, salvo algumas exceções de pessoa sem instrução, ou em que os métodos contraceptivos podem falhar, não há desculpa mesmo. Mesmo que muitas mães se arrependam, não acho natural negligenciar os filhos, como muitas fazem, come ssa desculpa de que não estavam preparadas.


Mas ora, ninguém nunca está preparado para nada na vida. A gente se forma, arranja o primeiro emprego, e não está preparado. Começa um relacionamento e não está preparado. Com filhos tem que ser diferente? Com todo respeito,acho que a a Marcia Tiburi foi infeliz nessas colocações. No momento em que se coloca alguém no mundo, você é, sim, responsável por essa pessoa.


Quote:
A meu ver, ninguém deveria sentir-se obrigada a ser mãe nem depois que a pessoa nascesse. Inclusive, digo isso pensando que você pode ser alguém legal com a pessoa que nasceu de você, sem precisar encaixar-se no estereótipo da boa mãe. Além disso, esse pensamento melhoraria a questão da adoção entre nós


Fui eu que entendi errado ou ela defende a ideia de as mães darem a criança para a adoção, caso se arrependam de ter parido??