"Nós, incompletos Desde quando ficou feio precisar do carinho e da atenção do outro?"

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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

eu sei que é repetitivo, mas adoro os textos do Ivan.... são de uma simplicidade e ao mesmo tempo complexos :)

Quote:
Gente perfeita não precisa dos outros. São tipos como você e eu que necessitam das qualidades dos parceiros. Eles nos emprestam organização, paciência e disciplina, em troca de humor, espontaneidade e imaginação. Eles nos dão coragem quando somos covardes, nos acalmam se estamos em fúria e elucidam, com a sua inteligência, tramas que nós seriamos incapazes de enxergar. Eles não são melhores do que nós, mas são diferentes – e isso, boa parte das vezes, é essencial.

Enfatizo tamanha obviedade porque estamos sufocados pela ideia de perfeição. Para garantir a nossa posição no relacionamento (e no mundo) temos de ser bonitos, inteligentes e bem-sucedidos. Além de totalmente independentes, claro: estou com você porque eu quero, não porque preciso, entendeu? Precisar do amor e da atenção do outro é feio.

Tenho um amigo que há pouco menos de um mês quebrou o braço direito. Nas primeiras semanas depois da queda – e da cirurgia que se seguiu – ele virou um dependente físico. Precisava da namorada para amarrar o seu sapato, ajudá-lo a tomar banho, vestir a camiseta e cortar o bife. Vendo os dois naquela cena de enfermagem, num almoço de domingo, me ocorreu que, sem ela, ele estaria frito. Iria se virar de algum jeito, claro, mas sem a sensação gostosa de ser cuidado e querido, que deve ter feito diferença enorme durante a chatice da recuperação.

Acho que esse caso encerra uma metáfora sobre os nossos relacionamentos.

Nós todos nascemos com algo quebrado dentro de nós. Essa fratura primordial impede a auto-suficiência e exige a presença do outro. Uma pessoa amada, querida ou apenas desejada mitiga a nossa dor original e provê, com a sua presença, algumas sensações essenciais. Ela nos dá o prazer do contato corporal, ela garante a segurança de não estarmos sós, ela oferece, com seus olhares e seus gestos, a admiração e o carinho sem o qual a nossa personalidade murcha.

Todos precisam de atenção, mas nem todos são capazes de aceitá-la calmamente. Ao sentir-se dependente – isto é, ligado ao outro – muita gente pira. Arruma razões fúteis para brigar, enlouquece de ciúme, sente-se sufocar pela presença do outro. Ao final, dá um jeito de chutar o [***] da barraca e acabar com aquilo, para enlouquecer de dor logo em seguida. É um paradoxo triste e comum. As pessoas sofrem sozinhas, mas não conseguem permitir que alguém chegue tão perto a ponto de comovê-las - e ameaçá-las com a possibilidade de uma dor ainda maior.

Isso tem a ver também com o espírito do tempo que vivemos.

As pessoas tornaram-se vigorosamente individualistas. As virtudes do século XXI são aquelas do sujeito solitário e decidido que se impõe a um mundo amorfo. Pense nos heróis da nossa época: Steve Jobs, Neymar e até a presidente Dilma. Eles fazem tudo sozinhos, não fazem? O resto da empresa, do time, do governo, existe apenas para executar sua vontade onisciente ou para permitir que ele ou ela exerça o seu gênio autoritário.

Esse mito – da pessoa que não precisa de ninguém - é uma falsidade que invadiu o nosso modo de pensar. E até a nossa intimidade. Agora, todos seremos gênios solitários. Ou pelo menos burros independentes. Bonito é não precisar emocionalmente de ninguém.

Acho isso tudo uma babaquice, claro. Nós precisamos dos outros. Sempre. Do cara que nos vende o bilhete de metrô à mulher que nos abraça no meio da noite, somos profundamente dependentes das pessoas que nos cercam. Sem as ideias e os sentimentos alheios o nosso próprio mundo não avança – e não há nada de errado em admitir isso.


Se for o caso, claro, a gente se aguenta sozinho. Todos já passamos por isso e é bom saber que resistimos. Estar só, afinal, pode ser inevitável - mas não precisamos fingir que é a melhor maneira de viver. Na qualidade de pessoas imperfeitas e dependentes, florescemos na presença de outros como nós, para quem a nossa presença também é essencial. Entender isso ajuda a ter paciência com quem está ao lado. E a desfrutar melhor da sua presença. A nossa humanidade requer o outro. Sejamos humildes. Sejamos modestos. Quanto mais desarmados estivermos na presença do outro, melhor.


http://tw.gs/P5VcA3

podemos ser independentes, mas eu jamais quero ser auto-suficiente....


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Ana, gosto muito dos tópicos que vc abre, sempre bom para reflexões...

hj eu não tô correndo, posso responder com calma...


Em primeiro lugar, ótimo texto.


Então...eu já sofri muito por ser romântica, emotiva, carinhosa. Já fui chamada de careta, carente e outras cositas mas.


Mas eu penso assim: relacionamento é uma troca. E trocas precisam ser justas...como eu disse em outro tópico, eu me casei para ter um companheiro, para ter carinho, companhia, sexo, amor e o pacote todo.

Meu primeiro casamento naufragou principalmente pelo egoísmo extremo do meu ex. Me sentia sozinha , pois precisava dele, sim.

Sempre resolvi meus problemas, não busco alguém que faça as coisas por mim.

Mas como é bom ter alguém ao seu lado quando a coisa tá preta, nem que seja pra massagear meu ombro.

Meu atual marido tem uma percepção bem mais aguçada em relação a isso. E é bom demais vc ter alguém que vc sabe que pode contar.


Já tentei ser autosuficiente, tipo, eu não preciso de ninguém. O resultado: um dia me deparei com uma aridez impressionante ao meu redor, eu tratava os homens como objetos, brinquedos, eu não baixava a guarda mais... e isso pra mim não serve pois eu sou um poço de sensibilidade , já diria o Nasi...e por isso me sentia tão solitária...mesmo estando de bem comigo mesmo, eu ainda me sentia só.


Quando admiti intimamente que precisava sim de alguém ao meu lado, precisava de amor , de um companheiro, as coisas mudaram.

Eu conclui que se ficasse atenta e desse oportunidade, e claro, tomasse cuidado com ilusões, a vida traria alguém como eu precisava.

E trouxe.

E eu admito: adoro...adoro ser paparicada, adoro agradar, adoro dar carinho, ser a musa das poesias dele, adoro aquele colo quando quero chorar, adoro aquela massagem quando estou cansada, aquelas cócegas (corajoso!!!) quando estou de TPM, adoro terminar de me vestir e ver um olhar cheio de admiração e desejo, de um ouvir um "já te disse que vc está linda hoje?"...

adoro, eu preciso disso, confesso , admito...e é bom demais!


E não só no casamento...

como é bom fazer um almoço e ouvir suas crianças dizendo: a mamãe faz a melhor comida do mundo...

como é bom chegar de um plantão no domingo e eles vem correndo dizendo que a rainha chegou! Ganhar aqueles beijos babados e carinhosos que só uma criança sabe dar...


Enfim...trocar , dividir afeto é muito bom, eu gosto e eu recomendo.


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Miss J
No PF desde: 26/07/2012

Rô, na próxima encarnação, posso ser vc? kkk

Amei o texto e a sua resposta mais ainda.


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Miss...vc desconhece o lado negro geminiano hahahha


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Miss J
No PF desde: 26/07/2012

Não são os geminianos q são caixinhas de surpresas?


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Ro Samy
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No PF desde: 24/11/2012

Eu me acho bem previsível...mas as vezes totalmente surpreendente (surpreendo a mim até...)

mas que eu tenho um lado negro...ah...eu tenho...

o geminiano tem isso...um lado que brilha e outro negro hehehe...


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Nary
No PF desde: 20/08/2008

Legal..


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kvet
No PF desde: 05/06/2010

Ótimo texto. Esse cara existe mesmo? Se não for a copilação de várias cabeças escrevendo ele é o "cara" da música do Roberto.... hehehheee


Eu já tive minha fase auto suficiente.Já achei que meu mundo começava nos meus objetivos e acabava neles. Não foi uma época ruim, eu escolhi, mas não foi uma época produtiva em termos sentimentais e familiares, reconheço.

E eu não era infeliz, pelo contrário, levava a vida numa boa. Mas como tudo na vida, essa época passou. Amadureci, ou mudei somente.

Hoje estou bem menos focada em mim e mais nas pessoas.

Atualmente cultivo amizades que deixei ao longo do caminho (esse sábado reencontrarei uma amiga que não vejo desde os meus 19 anos. Em outros tempos nem me daria o trabalho de voltar a rever alguém que já saiu da minha vida há tanto tempo...) e cultivo com carinho os novos amigos que venho fazendo.

Tenho olhado para minhas relações amorosas com olhos bem mais cuidadosos, mais atentos e observando muito mais o outro do que jamais me dispus a fazer em outros tempos.


Já fui muito egoísta com minha vida? Huuuuuuuuuuuu, muito. Era impaciente pq eu não tinha tempo a perder com quem me exigisse mais do que estava disposta a dar.

Assumo e não me arrependo. Precisei viver isso para hoje saber o que quero e espero de um companheiro. E principalmente, o que posso oferecer depois que parei de achar que me bastava de uma maneira que ninguém poderia me suprir.

Quando me analiso hoje, vejo uma pessoa menos impaciente com ela e com os outros.


É tão bom hoje, depois do que me transformei, admitir que preciso das pessoas, seja amigos, companheiro...


Quote:
Se for o caso, claro, a gente se aguenta sozinho. Todos já passamos por isso e é bom saber que resistimos.


Sim, já testei meus limites e sei que posso. Hoje não quero e nem preciso provar mais nada. E isso é muito, muito bom...


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_Ana_
No PF desde: 19/09/2010

obrigada Ro, bom saber que alguém curte e se interessa pelos mesmos assuntos....