Pra tudo dá-se um jeito, Hellen. O apartamento não seria um problema impossível de resolver.

Mas olha só, nesses casos a decisão, que parece tão difícil, nem sempre está escondida. Se tu fizer uma lista com qualidades e defeitos desse relacionamento, o que será que ganha? Sim, porque casamento é um negócio e marido e mulher são sócios um do outro. Cada um tem que fazer a sua parte, se não a firma quebra.

A gente inventa e se apega a milhões de motivos pra continuar numa situação incômoda e dolorosa, com medo de, se jogar tudo pro alto, fique ainda pior. Só que tem vezes em que pior do que está não pode ficar. Parece ser o teu caso. Continuar casada significa viver com uma pessoa que NÃO CONSEGUE atender às tuas necessidades, NÃO ENTENDE os teus argumentos, ACREDITA SER O ÚNICO DONO DA RAZÃO e NÃO TEM HABILIDADES COMUNICATIVAS.

Às vezes a gente, sem perceber, sai de um relacionamento patológico e entra em outro. O primeiro relacionamento doentio pode ser com o próprio pai. Seja pra fugir do cabresto, seja por ódio paterno, seja por rebeldia, muitas de nós escolhem parceiros que acabam se revelando cópias daquele pai que se renegou. Seria esse o teu caso? Será este o exemplo que tiveste em casa - uma mãe sofrida, que aguenta passivamente as bebedeiras e as desculpinhas furadas do marido pra cair na night, enquanto ela fica em casa com as crias cuidando de tudo sozinha e chorando romanticamente?

Sabe por que te pergunto isso? Porque se o teu modelo familiar fosse outro, onde pai respeita mãe e vice-versa, onde ambos têm um papel claro na relação e não se agride, confiam no outro, não mentem nem tiram a liberdade, ficaria OBVIO, ESTAMPADO na tua cara, ao primeiro sinal de saliência do teu marido, que alguma coisa grave e inaceitável estava acontecendo. Se isso se repetisse (como se repete, no teu caso), tu iria buscar nas tuas memórias do passado o referencial do que é certo e do que é errado e teria uma base sólida pra se desvencilhar de um modelo de casamento inadequado pra ti.

Acho que tu tem muito pra pensar. Só não deve perder de vista que teu marido NÃO VAI MUDAR. Cabe a ti decidir por quantos anos mais aguenta empurrar isso com a barriga e se vale a pena perder a juventude e a chance de amar DE VERDADE por causa do medo.

Não, Hellen! Perceber a origem dos nossos comportamentos viciados é um avanço tremendo!

É acordar e finalmente entender os porquês de nos envolvermos em situações que só nos fazem mal e são uma ferramenta muito útil para nos colocar no caminho do que é bom e saudável pra gente!

Aproveita o gancho desse insight e avalia, pela experiência da tua mãe e da tua sogra, se é assim que tu quer ser no futuro, exatamente como elas.

Se a resposta for NÃO, então é hora de agir. Separa, cuida da tua vida, se possível faz terapia pra entender diversas outras facetas do teu temperamento e sintoniza os teus canais na energia daquilo que tu precisa viver. A gente atrai a energia que emana, eu acredito sinceramente nisso. Quando tu tiver entendido que tipo de pessoa espera ter ao teu lado, simplesmente esse filtro fará com que tu te comporte de um jeito a só deixar que se aproximem de ti pessoas que tenham a ver com o que te agrada. Enquanto tu não souber que critérios são esses, não poderá evitar se envolver com caras errados, como é o teu marido.

Seja esperta, menina! O que te aconteceu foi uma bênção: a bênção da revelação da origem do teu comportamento destrutivo. Agora é só trabalhar em cima disso!