Flores em Buenos Aires

Retornar a um lugar é uma experiência gostosa, você olha a cidade com olhos menos ansiosos, saboreia mais o caminho e se diverte com o que tinha passado muitooo despercebido.

Essa vez ficamos na Recoleta, um pedacinho de Paris. É impressionante a influência francesa sobre a arquitetura. E como meu marido diz: pra ti que ama parede, isso aqui é tudo. Amo mesmo. Admirar essas construções antigas... verdadeiras obras de arte a céu aberto. Fico imaginando a encomenda, a escolha do artista, a criação, a produção e o mais difícil a meu ver - a aplicação a 90o. É tudo perfeito, rico em detalhes, em sutilezas... Por que tudo se perdeu, por que não há mais esse tempo dedicado a embelezar a cidade, sim, hoje há projetos audaciosos, mas a maioria paira na normalidade, será o capitalismo ou a falta de cultura?

Os porteños foram visionários, avenidas largas, estacionamentos subterrâneos embaixo das grandes avenidas e praças, previram crescimento e progresso, preservando o passado. Hoje, infelizmente a Presidenta Cristina Kirchner não tem sabido conduzir o país, há muita pobreza estampada - pedinte te interpelando a todo o momento. Em minhas viagens, gosto sempre de ouvir a opinião dos taxistas sobre o país, e a posição é unanime, um país em crise.
Estão indignados, e ainda há mais 3 anos pela frente, dizem eles...

Nesta passagem, descobri o estilo brutalista da Biblioteca Nacional, a majestidade da Casa Rosada, o design entre o novo e muito antigo no Museu del Bicentenário, o crochê sobre o tronco de árvores em uma peatonal, a graça da feira de artesãos, aos domingos, na praça França e os belos ensaios fotográficos de artistas de todo o mundo no Centro Cultural também na Recoleta, e fiquei cheia de orgulho, pois o ensaio mais bacana era de uma brasileira, a paulista Fifi Tong (El Tiempo esta Pasando). Ela fotografou centenários, vovôs e vovós de vários estados do nosso país e junto das fotos, uma mensagem que cada um dá sobre a vida vista lá do fim. É mara! 

Percebi que o charme do Café Tortoni e do Puerto Madero continuam o mesmo desde a última vez... Já El Viejo Almacén, está precisando de uma boa retocada e arejada, o show de tango é bárbaro, mas o cheiro de mofo e as toalhas puídas, num ingresso de R$200,00 por persona, deixam muito a desejar. Então, melhor ir na Esquina Carlos Gardel onde show e ambiente condizem ao valor, já o Senhor Tango a meu ver, é show pra turista.

Ahh e lembrei também, que chuva em viagem é chato em qualquer lugar do mundo. Afinal, a única maneira de viver e sentir a cultura é percorrendo calles, peatonales, comedouros (restaurantes eheheh) e tentando ablar com el pueblo.

Outra coisa bacana dos hermanos, é que a cada esquina há uma tenda/banca de flores, quase igual a nós aqui no sul né? Que a cada esquina tem uma farmácia... acho que nunca se vendeu tanto antidepressivo... deviam vender flores... sinal que algo anda muito errado por nossos pagos, porque lá mesmo em crise, as flores vencem a dor.

Buenos Aires inspira, a cultura transpira, o tango emociona. Sempre, sempre vale voltar. Tem gostinho de Europa e é pertinho, pertinho.