Uma convidada de honra no Preciso Falar.

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos.

O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.

Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:

- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.

- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes.
 
O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
 
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O...

Se você pensar que mal tinha vindo ao mundo e mamãe já carregava uma bolsa cheia de coisinhas só para você, vai entender o porquê da ligação meio umbilical entre mulheres e suas bolsas. (Sim, os meninos também tinham as deles, mas certamente não tão lindas e charmosas quanto as nossas... hehehe).

A primeira bolsa da menina/bebê deve ter sido cor-de-rosa, assim como todos os apetrechos que tinham dentro: um pacote de fraldas descartáveis, creminhos e lencinhos para limpeza completa do bumbum. Duas chupetinhas, todas em tons de rosa. Três mudas de roupinhas minúsculas cor-de-rosa e uma mamadeira de leite com tampa rosa, tudo isso em companhia de paninhos fofos com estampas em rosa, é claro!

Quando você ainda era menina, mas querendo ser mocinha, desfilava com orgulho próprio da idade sua bolsa/Barbie, onde guardava seus pequenos tesouros – fivelinhas multicoloridas de cabelo, o diário íntimo da Barbie, fotinhos de seu ídolo do momento, pente fluorescente com cheirinho de baunilha, carteirinha da escola, celular da Xuxa ou...

Na realidade éramos cinco, mas duas deram bolo ontem à noite. Programação: jantar com as amigas, aquelas que fazem bem a saúde de qualquer mulher.

Éramos colegas de escola, atletas, festeiras e parceiras. Passamos grande parte da vida juntas, aulas todas as manhãs, treinos 4 vezes por semana, vários finais de semana viajando para competir em alguma cidade e claro, outros tantos, festiando, dormindo uma na casa da outra, trocando sonhos e sorrisos.

Ainda ontem, lembramos de como éramos felizes e nem fazíamos idéia.

Tudo tinha graça: andar de ônibus, ir ao centro (não existia shopping naquela época, caraca! como assim?, pois é...), alojamento com colchão duro, cantorias no trajeto para os campeonatos, os primeiros beijos, a troca de ficantes, dançar e viajar ao som de Voyage, Voyage... (essa foi boa!)

Em quadra, éramos as melhores, nosso técnico só nos ensinou a ganhar, lembro até hoje do dia em que perdemos um jogo, foi um mar de lágrimas, nada nos consolava.

...

O mundo definitivamente embruteceu.

Nunca se ouviu falar tanto em gentileza.

Estranho essa postura, onde algo que deveria ser comum entre os seres, precisa ser notícia do Fantástico.

Dar bom-dia ao vizinho ou sorrir ao passante na rua soa estranho, nossa bolha permite mostrar os dentes apenas aos entes familiares e olhe lá, muitas vezes, nem esses têm o prazer de nossa boa vontade.

Vivemos na era da velocidade e da falta de tempo, pessoas não importam às pessoas, a obrigatoriedade em gerar capital e lucros fazem de nós capitalistas sem alma.

E nesta guerra fria, meu irmão procura comida no lixo da esquina.
Casa aquecida, pijama quentinho e cappuccino com muita espuma fazem da minha bolha, um lugar sem igual. Para quê olhar pela janela e sentir o sofrimento do outro? Para quê me envolver em problemas que não são meus? Para quê me desgastar com questões mundanas?

Em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão tende a...