D.I.Y: Como Usar o Cérebro da Gurizada a Seu Favor!

precisofalar
Postado em:
11/10/2012 - 14:52
Reprodução: gettyimages
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O texto de hoje é uma colaboração de Ana Letícia C. Rizzon, que também é nossa parceira no Consultório Virtual.

Se você convive e/ou conviveu com crianças vai conseguir empatizar direitinho com a Dona Divinéia. Ela é mãe do Claudimilsinho de 3 anos e por vezes, quase na fronteira da loucura, ela chega a pensar que ele foi abduzido por extraterrestres que implantaram nele o chip da teimosia! Ela diz a ele repetidas vezes: “não aperta o botão do rádio Claudimilsinho!”. E alimenta a vã esperança de que ele venha a obedecê-la. Ele permanece em frente ao rádio, como se aquele botão fosse dotado de uma atratividade irresistível para com o seu dedo. Mas Divinéia persiste no modo “disco riscado” e depois da enésima vez em que ela chama atenção do filhote ele olha para ela, com a cara mais safada do mundo e vai com o dedinho em direção do famigerado botão. Divinéia pensa: “Que guri mais safado!!! Tá me desafiando!!! É muito sem vergonha!!! Com 3 anos acha que se governa!!!” E blá, blá, blá... Esses pensamentos eliciam, na velocidade da luz, um sentimento de raiva mesclado com uma vontade absurda de dar um tapa na mão dele. Mas como a Divinéia é adulta e tem um córtex pré-frontal amadurecido ela se lembra da psicóloga da escola que disse que bater é o “ó”! Ela para, digere a raiva, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Cortex pré-frontal maduro? Que mágica é essa? A boa notícia é que você também tem um! Vou explicar.

O córtex pré-frontal é uma parte do nosso cérebro que fica bem atrás da testa. Ele é responsável por uma série de funções importantíssimas, entre elas o controle de impulso. Isso significa que ele nos ajuda a não agir de maneira automática, sem pensar. Por isso Divinéia não realiza o comportamento de dar um tapa na mão do Claudimilsinho. Mas aí você, caríssimo leitor e ser pensante deve estar se perguntando: por que raios a criança não usou esse tal de córtex pré-frontal?! Porque o mundo não é um moranguinho! O gurizinho tem 3 anos, o pré-frontal dele não consegue fazê-lo agir de forma ponderada. Ele tem vontade, vai lá e faz.

Traduzindo o comportamento dele em palavras, seria: “mãe, eu estou com muita, mas com muita vontade de apertar esse botão e eu preciso que tu encontres uma outra forma de me ajudar a não tocá-lo!” Isso porque esta parte do nosso cérebro amadurece de forma leeeeenta! Dizem os pesquisadores da área que só no final da adolescência que ele está pronto para o uso em sua potencialidade plena. Por isso que Divinéia consegue conter o impulso e Claudimilsinho não.

Parece que estou vendo você dizer: “vou ter que esperar até o final da adolescência?! Pára o mundo que eu quero descer!” Tá bom, eu sei, parece uma notícia desoladora, mas eu ajudo você! Ao invés de ficar falando 38098 vezes para a criança não ter determinado comportamento (que no final ela provavelmente terá) eu preparei alguns D.I.Y (do it yourself) para você.

Uma primeira sugestão “facinha” é que você distraia o pimpolho para outra atividade permitida que lhe seja interessante. Tá, eu sei, as vezes não dá... eu mesma disse que o mundo não é um moranguinho! Outra opção “pulo do gato” é você evitar usar frases que comecem por “não”, elas são um desafio para a gurizada! Voltamos ao cérebro: palavras como pular, correr, jogar, tocar preparam o cérebro automaticamente para executá-las. Quando essa frase começa por não, o pré-frontal deve entender que essa ação precisa ser bloqueada, mas como ele ainda está imaturo, não consegue fazer. Assim, não crie conflito no cérebro de seu pimpolho e construa as frases em forma de afirmação. Ao invés de “Não mexe no botão do rádio”, Divinéia poderia dizer “Vem dar um abraço na mamãe”. Garanto que essa ação eliciaria, ao invés de raiva, um sentimento de satisfação por se relacionar com esse pedacinho de gente amado que parece teimoso, mas que é apenas um serzinho com um cérebro imaturo. Crianças obedientes e queridas não são fruto de sorte, mágica ou abdução extraterrestre. São fruto de amor, paciência, boas estratégias educativas e pais usam inteligentemente seu córtex pré-frontal maduro.

O que você deveria ter aprendido:

Não há estudos científicos que referem que extraterrestres implantem chips de teimosia nas crianças.

Se seu filho não obedece você pode ser porque ele não está pronto para fazer isso.

Bater em crianças é o “Ó”. Existem métodos melhores, com resultados efetivos e sem efeitos colaterais. Prometo escrever um texto sobre o tema.

O córtex pré-frontal, entre outras funções, é responsável por controlar a nossa vontade de fazer o que “dá na telha”. Ele só está amadurecido no final da adolescência.

Se você é adulto provavelmente tem um cérebro com capacidade para coibir o impulso de agir de forma errada com o seu filho.

Se apenas repetir 3978 vezes a mesma ordem para uma criança fosse uma estratégia educacional eficiente, psicólogos infantis seriam como os micos leão dourados, seres em extinção!

Exercícios e dicas superúteis:

Coíba uma ação errada, irritante e/ou potencialmente perigosa de seu filho sugerindo-lhe outra mais interessante.

Ordens que começam pela palavra não são conflitivas para o cérebro infantil. Opte por falar ações que você quer que a criança faça (“coloque o papel no lixo”) ao invés de ordens para coibir ações que você quer que ele não faça (“não jogue o papel no chão”).

Pedir um abraço e/ou um beijo é sempre uma boa carta na manga!



Adorei e já estou aplicando algumas dicas, obrigada Ana! bjoo


Perfeito o texto!

Bem explicativo e cheio de humor. Parabéns.


Legal, o blog....